XP aponta 5 fatores que explicam variação do câmbio e projeta dólar abaixo de R$ 5 em 2021
julho 8, 2020SÃO PAULO – Apesar do ainda elevado grau de riscos e alta volatilidade, o dólar deve ter uma trajetória de queda até o fim de 2021, segundo estimativas feitas pela equipe da XP Research em relatório.
Para os analistas, a moeda americana deve encerrar este ano na casa de R$ 5,20, enquanto em 2021 o cenário deve levar a divisa para R$ 4,90, ante previsões anteriores de R$ 5,50 para o fechamento dos dois anos. No primeiro semestre deste ano, o real registrou o pior desempenho do mundo entre as principais moedas.
“Nos últimos três meses, observamos um grau de volatilidade sobre a nossa moeda em patamar historicamente alto, fazendo questionar se o nosso câmbio está ‘descolado’ dos fundamentos da economia”, afirma a XP.
Segundo os analistas, condições financeiras atípicas ajudam a explicar altas de R$ 0,50 do dólar em apenas uma semana, mas eles ressaltam que a depreciação da moeda brasileira já era verificada desde 2019, com o acirramento da guerra comercial entre China e Estados Unidos, ganhando mais força com os efeitos da pandemia.
E apesar do dólar chegar a quase R$ 6,00 nos últimos meses, a XP Research reforça que este foi apenas o recorde nominal da moeda, sendo que na avaliação corrigida pela inflação brasileira e americana, a divisa não chegou aos níveis vistos durante as eleições de 2002, como mostra o gráfico abaixo:
Diante disso, segundo eles, uma combinação de cinco fatores ajuda a explica a variação do câmbio e também a traçar projeções para os próximos meses:
1. Dollar Index: não foi só o real que se desvalorizou
O primeiro ponto é que a questão de desvalorização da moeda não aconteceu apenas no Brasil. O dólar registrou alta contra praticamente todas as principais divisas do mundo.
Isso é representado pelo Dollar Index (DXY), um índice que mostra a variação do dólar contra uma cesta de seis grandes moedas globais: Euro, Iene, Libra, Dólar Canadense, Coroa Sueca e Franco Suíço.
O que se vê é que desde o primeiro trimestre de 2018, o DXY vem apresentando valorização e terminou o primeiro semestre deste ano 10,8% acima da sua mediana histórica contada a partir de 2000.
2. Termos de Troca
Este indicador, por sua vez, trata da razão entre os preços de produtos exportados sobre o preço de produtos importados pelo Brasil. Seu intuito é comparar o comércio do país com o resto do mundo.
Segundo a XP, este dado mostra que não houve grandes impactos negativos no câmbio, sendo que o cenário no fim de junho condizia com a recente queda do dólar por aqui.
“Dada a relevância das commodities neste índice e mesmo com toda a crise imposta pelo coronavírus, observa-se um nível de ‘Termos de Troca’ ao final do segundo trimestre próximo à média historicamente observada, o que traz implicações relativamente benignas e factíveis com o cenário de apreciação do real”, explicam os analistas.
3. Commodities
O Brasil tem uma grande exposição às commodities e as variações nos preços costumam impactar o câmbio. A produção nacional segue também os preços internacionais e esses índices são medidos pela Commodity Research Bureau Reuters/Jefferies (CRB-RJ) – indicador que fornece informação sobre mercado futuros de commodities como o petróleo – e pelo índice FAO das Nações Unidas, que estima preços sobre produtos alimentícios em escala global.
“Estes indicadores conseguem impor sensibilidade de oferta e demanda global por tais bens e apresentam poder preditivo significativo para as oscilações da taxa de câmbio”, afirma a XP.
Por conta da forte queda do petróleo, no fim do segundo trimestre o indicador CRB/RJ está cerca de 50% abaixo da média histórica. Já a demanda por produtos alimentícios segue em estabilidade.
“A expectativa de retomada da atividade econômica global e consequentemente da elevação da demanda por petróleo impõe viés de apreciação para a nossa taxa de câmbio”, dizem os analistas.
4. Diferencial de juros
Um ponto importante para o câmbio é a diferença de juros, que afeta o chamado carry trade, operação feita por investidores para ganhar com este diferencial das taxas dos países desenvolvidos e emergentes.
Segundo a XP, estruturalmente, o diferencial entre os juros brasileiros e os juros americanos caiu de uma média de 15 anos (entre 2002 e 2016) de 12,1 pontos percentuais para uma média de 2017 até hoje de 5,4 p.p.. E atualmente essa diferença é ainda menor, de 2,1 pontos.
“Não obstante dessa nova realidade de juros estruturalmente mais baixos, o próprio diferencial da taxa básica de juros brasileira com um grupo de países emergentes ganha relevância e se configura menos atrativo para o capital estrangeiro que opta por ativos livres de risco”, explicam os analistas.
Desde a metade de 2018 essa diferença com os emergentes está negativa para o Brasil, o que explica em parte a fuga de capital estrangeiro para outros países. Veja no gráfico abaixo:
5. Risco
Por fim, o fator mais importante segundo a XP, o risco. Apesar de existirem diversos dados para apontar esta medida, os analistas costumam utilizar mais o VIX (também conhecido como índice do medo) para refletir decisões de investimento, enquanto no Brasil o CDS de 5 anos se mostra a melhor medida de risco-Brasil.
E é exatamente a variável de risco brasileiro que tem gerado a maior dificuldade na previsão para o câmbio. No exterior, pesa a incerteza dos impactos da pandemia da Covid-19, enquanto no lado doméstico as dúvidas são sobre uma elevação dos prêmios de risco dos títulos soberanos do Brasil por conta da elevação da relação dívida/PIB ocasionada pelas medidas de combate à pandemia.
Por conta disso, a XP aponta que a expectativa é de que no médio e longo prazo, o risco-Brasil reflua para patamares acima da média vista ao final de 2019.
Dólar abaixo de R$ 5
Considerando todos esses fatores, a XP projeta que o DXY apresente depreciação de cerca de 5% até 2021 em relação o nível que estava no segundo trimestre. Além disso, deve ocorrer uma redução das incertezas, levando o CDS de 5 anos do Brasil para 180 pontos no fim do próximo ano.
Já sobre as commodities, a expectativa é que o preço do petróleo Brent afetará positivamente a pauta brasileira de exportações. “Por ora, esperamos que o índice CRB/RJ acelere até os 180 pontos neste horizonte”, afirmam os analistas, que ainda esperam que a diferença de juros com os EUA deva ficar igual nos próximos trimestres.
Diante disso tudo, a projeção da XP é que o dólar recue nos próximos meses, perdendo o nível dos R$ 5,00 no ano que vem, quando deve encerrar em R$ 4,90.
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