UFS alerta para baixo interesse por vacinas em buscas na internet

UFS alerta para baixo interesse por vacinas em buscas na internet

janeiro 15, 2021 Off Por Today Newsroom

(Foto ilustrativa: Sergio Silva/PMA)

Consideradas promissoras para superar a pandemia da covid-19, as vacinas para combater a doença não andam despertando o interesse da maioria dos brasileiros em buscas na internet na mesma proporção da procura por informações na web sobre potenciais tratamentos apontados como milagrosos e sem base científica, como o uso de ivermectina e hidroxicloroquina.

Esse desestímulo ao assunto “vacina” está diretamente associado aos movimentos antivacina e ao negacionismo da ciência, segundo pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-BA). Eles realizaram um levantamento, utilizando a ferramenta Google Trends, para comparar a quantidade de consultas relacionadas a vacinas do novo coronavírus na plataforma com os resultados de pesquisas pelos termos “ivermectina”, “hidroxicloroquina” e “azitromicina”.

Os dados, analisados entre 26 de fevereiro, quando houve a confirmação do primeiro caso da infecção no país, e 31 de dezembro de 2020, referem-se ao volume relativo de pesquisa (RSV), que varia de 0 a 100, sendo 100 o valor que aponta pico nas buscas.

Os resultados para o volume de buscas do termo “vacina COVID” no país foram inferiores a 40, demonstrando uma baixa procura pelo assunto na internet. Houve aumento no interesse pelo tema “vacinas” apenas em três momentos: durante a campanha de vacinação contra a gripe no mês de maio, aprovação dos ensaios clínicos da Pfizer/ BioNTech pela Anvisa em julho, e o anúncio da vacinação em larga escala do Governo do Estado de São Paulo em dezembro. Fora isso, a ivermectina e a azitromicina dominaram a procura na plataforma na maior parte do período de análise.

O coordenador do Laboratório de Patologia Investigativa da UFS, professor Paulo Ricardo Saquete Martins Filho, ressalta que a cobertura vacinal da população brasileira tem caído consideravelmente nos últimos anos, como consequência da “propagação de notícias falsas na internet, o fortalecimento de correntes negacionistas e do movimento antivacina, o desconhecimento dos esquemas vacinais, além da falsa segurança da não necessidade do uso de uma vacina para a prevenção de doenças”.

Martins ainda lamenta os dados do levantamento que revelam o baixo nível de interesse dos brasileiros por informações sobre as vacinas contra o novo vírus respiratório, mesmo com a realização de campanhas de vacinação em inúmeros países e a divulgação de resultados preliminares de eficácia e segurança dos imunizantes.

“De forma contrastante, tem sido maior o volume de busca na internet por informações em relação aos medicamentos já citados, que se utilizados de forma indiscriminada podem levar a eventos adversos extremamente graves. Não basta termos uma vacina. É preciso criar um ambiente de estímulo para que ela seja utilizada pela população e tenhamos uma cobertura vacinal adequada para controlar esse vírus”, acrescenta.

O professor do Departamento de Educação em Saúde da UFS, Diego Moura Tanajura, classifica a situação que o país passa como “singular e preocupante”. “Percebemos que as pessoas cansaram da pandemia, do vírus, mas o vírus não cansou da gente. Para isto, é só olhar o número de casos e de mortes que vem aumentando dia após dia. Recomendo que as pessoas não relaxem nos cuidados”, adverte o pesquisador.

“Já temos em solo brasileiro quase 11 milhões de doses da vacina do Butantan. Além disso, estão previstas mais 2 milhões de doses da vacina da Fiocruz para este mês. Com esse total, conseguiremos iniciar a vacinação de quase 6,5 milhões de brasileiros. O Butantan já começou a produção da vacina na sua fábrica”, complementa Tanajura.

Além dos professores Diego Tanajura e Paulo Martins, o estudo foi desenvolvido em parceria com Kiyoshi Ferreira Fukutani, do Instituto Gonçalo Moniz, da Fiocruz-BA. O artigo foi submetido a uma revista científica internacional e aguarda publicação.

Uso do Google Trends em pesquisas científicas

No ano passado, o professor Paulo Ricardo Martins Filho publicou um artigo na Pan American Journal of Public Health que desmentiu a eficácia da inalação de éter e clorofórmio no tratamento da covid-19. O pesquisador observou o alto nível de interesse sobre o uso de éter e clorofórmio, no Brasil, no período de 25 de fevereiro a 20 de março de 2020, através da utilização da ferramenta Google Trends.

Fonte: UFS

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