Tesouro direto: títulos públicos têm queda de até 15,8% no semestre; confira onde estão as oportunidades agora
julho 1, 2020SÃO PAULO – Volatilidade, suspensão dos negócios, novas quedas da taxa Selic e inflação sob controle, em meio a expectativas cada vez mais pessimistas para o PIB brasileiro.
Marcado pelos efeitos da epidemia de coronavírus, o conturbado primeiro semestre de 2020 movimentou as negociações de títulos públicos no Tesouro Direto e os levou a encerrar o período com queda de até 15,81% (caso do Tesouro IPCA+ 2045) e valorização máxima de 6,74% (Tesouro Prefixado 2023).
Em meio a um processo de redução dos juros, papéis com retornos prefixados registraram aumento de preços, enquanto títulos com rendimentos atrelados à inflação, especialmente de mais longo prazo (com vencimentos a partir de 2035), tiveram queda nos primeiros seis meses do ano.
Em junho, entre os papéis atualmente disponíveis para compra no Tesouro, todos apresentaram alta de preços e apenas um de oito títulos não superou a variação de 0,21% do CDI, o principal referencial da renda fixa.
Confira a seguir como se comportaram os títulos públicos disponíveis para novos investimentos em junho, no primeiro semestre e em 12 meses, quando os dados estiverem disponíveis. O único papel não considerado no levantamento foi o Tesouro Selic, dado que seu retorno segue a variação da Selic, portanto, sem grandes oscilações diárias.
Vale lembrar que o investidor só terá as perdas ou os ganhos apontados se efetivamente vender os papéis antecipadamente. Se carregá-los até o vencimento, o retorno vai respeitar as taxas e as condições contratadas no momento de aquisição dos títulos.
Oportunidades em juro real
Diante de incertezas que ainda rondam a economia brasileira (e mundial) por conta do coronavírus e em um ambiente de juros no piso histórico, rodando perto da inflação, as oportunidades no Tesouro Direto estão mais escassas.
Para capturar retornos mais de curto prazo, é preciso correr mais riscos, alongando a carteira. E as principais oportunidades apontadas recaem sobre papéis com retornos indexados à inflação de mais longo prazo, cujas taxas aumentaram na primeira metade do ano.
Marco Bismarchi, sócio e gestor da Tag Investimentos, diz que a preferência da gestora de patrimônio tem sido por títulos indexados à inflação com vencimento a partir de 2035. “Em um mundo de juros estruturalmente muito baixos, perto de zero ou negativos, uma rentabilidade de aproximadamente 4% de juro real é muito bom”, diz.
Com uma visão de baixa atratividade dos títulos públicos, Daiane Reis, assessora de investimentos do escritório Monte Bravo, tem recomendação semelhante para a parcela mais conservadora do portfólio, com papéis indexados ao IPCA com vencimentos ainda mais longos, entre 2050 e 2055.
De olho no risco de a inflação aumentar quando a atividade voltar a crescer, Felipe Dexheimer, coordenador de alocação da XP, também recomenda ao investidor papéis como o Tesouro IPCA+.
“Nesse momento, preferimos ficar atrelados à inflação. As expectativas estão um pouco deprimidas, mas, se a economia se recuperar mais rapidamente do que o mercado espera, poderá haver uma alta de inflação, que não será capturada pelos papéis prefixados”, diz. “Não é nosso cenário base, mas é um risco relevante.”
Fuga dos pós-fixados
Investimentos indexados ao CDI estão em desvantagem, inclusive com o juro real projetado para os próximos 12 meses abaixo da inflação, portanto negativo, assinala Dexheimer.
Dessa forma, o coordenador de alocação da XP sugere ao investidor buscar maior retorno na renda fixa via crédito privado, com fundos que devem entregar retornos históricos ainda baixos, porém acima da inflação.
E cita como exemplo uma debênture incentivada (portanto sem Imposto de Renda para a pessoa física) da Petrobras com vencimento em 2022, rendendo 1,94% ao ano mais inflação, em comparação a um retorno de IPCA mais 0,5% de um título público com o mesmo prazo (negociado no mercado secundário, não no Tesouro Direto).
Com uma visão mais cautelosa com a economia brasileira, Ronaldo Patah, estrategista do UBS Wealth Management, diz que a instituição tem posição neutra (equivalente à manutenção) para todas as classes de ativos no país, com uma alocação acima da média apenas em ativos globais e abaixo (equivalente à venda) para aplicações pós-fixadas, diante do patamar da taxa de juros, que deve permanecer em 2% por ao menos um ano.
“A recuperação está bem mais lenta que em países desenvolvidos e estamos mais conservadores com o Brasil.”
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