Peter Lynch, de carregador de tacos a estrela do mercado de capitais

Peter Lynch, de carregador de tacos a estrela do mercado de capitais

outubro 17, 2021 Off Por Today Newsroom

Nome completo: Peter S. Lynch
Data de nascimento: 19 de janeiro de 1944
Local de nascimento: Newton, Massachusetts, Estados Unidos
Formação: Bacharel em Ciências com mestrado em Administração de Empresas
Ocupação: Investidor e filantropo
Cargo de destaque: Gestor do fundo Fidelity Magellan de 1977 a 1990

Quem é Peter Lynch

Peter Lynch é um investidor, ex-gestor de fundos, escritor e filantropo norte-americano. Ele é uma estrela do mercado de capitais dos Estados Unidos, status que atingiu como administrador do fundo mútuo Fidelity Magellan, de 1977 a 1990.

Quando Lynch assumiu, o fundo tinha US$ 20 milhões em ativos e era pouco conhecido. Ao se aposentar, com 46 anos, o Magellan reunia um portfólio de US$ 14 bilhões. Na época, um em cada 100 norte-americanos era cotista.

Nestes treze anos, o fundo obteve uma rentabilidade média anual de 29,2% – a melhor do mundo em instituições do gênero -, quase o dobro da valorização do índice S&P 500, de 15,8% em média por ano no mesmo período.

Durante a administração de Lynch, em dois anos somente o desempenho do Magellan ficou abaixo do S&P 500, um dos principais indicadores do mercado de ações dos EUA. A valorização acumulada do fundo foi de 2.700%.

“Se alguém investiu mil dólares no Magellan em 31 de maio de 1977, teria US$ 28 mil em 31 de maio de 1990, treze anos depois, quando eu saí”, disse o investidor em entrevista à rede publica de televisão norte-americana PBS, em 1996

O New York Times diz que Lynch ficou conhecido do grande público como “garoto propaganda” da Fidelity na televisão, “com sua cabeleira branca e jeito de professor”. Guru de investidores há mais de 30 anos, ele segue como fonte frequente da imprensa, citado em reportagens, artigos e análises.

Embora não esteja mais à frente do fundo, o investidor permanece como vice-presidente da Fidelity Management & Research Company, braço de consultoria da Fidelity Investments, e membro do conselho de consultores da gestora. Ele foi responsável por treinar boa parte dos analistas da empresa nos últimos 30 anos.

Os jeito Peter Lynch de investir

Lynch relatou suas estratégias de sucesso em livros, contribuindo para ampliar ainda mais sua fama. Ele é coautor dos best-sellers “One Up on Wall Street” (“O jeito Peter Lynch de investir”, Ed. Benvirá), de 1989; “Beating the Street” (“Vencendo [Wall] Street”, em tradução livre), de 1993; e “Learn to Earn” (“Aprenda a ganhar”, em tradução livre), de 1995.

Todos os livros foram escritos em parceria com o jornalista e escritor norte-americano John Rotschild, morto em 2019. Em linhas gerais, são guias de investimentos em ações para pessoas comuns. Dá para reconhecer os ensinamentos de Lynch no vocabulário de artigos e opiniões de consultores de finanças.

Lynch é conhecido pela recomendação: “Invista no que você conhece”. Ele mesmo diz, porém, que esta é uma simplificação de sua filosofia. Se alguém pretende comprar ações de uma empresa, não basta apenas conhecê-la, tem que saber como ela funciona com certa profundidade. O autor recomenda que o investidor escolha ações de companhias que conheça bem e que entenda o funcionamento do negócio.

“Use seu conhecimento especializado para identificar ações que você possa analisar. Estude-as, e aí decida se vale à pena comprá-las”, disse, segundo o Wall Street Journal. “Se você não entende o balanço da empresa, provavelmente não deve comprar as ações”, afirmou ele. O ideal é o investidor procurar oportunidades dentro de seu próprio ramo de atividade.

Lynch destaca constantemente a importância da pesquisa para fundamentar as decisões de investimentos. “As pessoas são cautelosas quando compram uma casa, uma geladeira ou um carro. Pesquisam horas para economizar US$ 100 numa passagem aérea. Mas são capazes de colocar US$ 5 mil ou US$ 10 mil numa ideia maluca [de investimento] que ouviram no ônibus. Isso é aposta, não investimento. Não é pesquisa, é especulação pura”, declarou em entrevista recente ao site da Fidelity.

Na avaliação do autor, procurar empresas sólidas, que tenham capacidade de crescimento, ações a preços atrativos, pesquisar e conhecer os fundamentos do negócio são atitudes mais importantes do que tentar prever as oscilações do mercado, da economia e das taxas de juros. “Se você gasta mais de 13 minutos analisando projeções econômicas e do mercado, você desperdiçou 10 minutos”, costuma dizer.

Para ele, o investidor deve ser capaz de dar a si próprio e a terceiros uma explicação de dois minutos sobre as razões que o levam a optar por determinada ação, o que precisa ocorrer para a empresa ter sucesso e quais problemas podem surgir no caminho. Precisa ter condições de contar a “história” da ação de modo que qualquer um consiga entender.

“Você deve, antes de tudo, entender o que a empresa faz, qual é a sua natureza. A maioria das pessoas vê o investimento em ações como um jogo. O que é preciso ter em mente é que se a empresa vai bem, suas ações irão bem”, declarou o investidor em entrevista à revista IstoÉ Dinheiro.

Longo prazo

Lynch explica também que ações são investimentos de longo prazo. O investidor deve ter paciência e “estômago” para aguentar as oscilações do mercado. “No mercado de capitais, o órgão mais importante é o estômago, não o cérebro”, destacou. “No caminho para o trabalho, a quantidade de más notícias que você pode ouvir é praticamente infinita. A questão é: você consegue aguentar?”, ressaltou ao site da Fidelity.

Ele insiste que o mercado de capitais não é opção para quem quer retornos rápidos. Para Lynch, investimentos em ações ou em fundos de ações com horizonte de resgate de um ou dois anos são “tolice”.

“Isso é como apostar no vermelho ou no preto num cassino. O que vai ocorrer no mercado em um ou dois anos? Você não sabe. O tempo está a seu favor no mercado acionário. Se as ações caírem, e se você tiver dinheiro, não se preocupe e invista mais. Você deve se preocupar como as ações estarão daqui a 10, 20 ou 30 anos”, declarou o investidor à PBS. “Pergunte-se: por que essa empresa vai estar melhor daqui a cinco anos? Se ela vai bem, veja se ela tem condições de continuar bem”, disse à IstoÉ Dinheiro.

Ele costuma citar dados históricos e as escolhas que fez para mostrar que, no longo prazo, as ações têm valorização superior às de outros investimentos. Para quem vai precisar do dinheiro logo ou não tem “estomago”, a saída é a renda fixa.

Características

Lynch lista uma série de características que considera importantes para o investidor em ações. Segundo a revista norte-americana Forbes, são paciência, autoconfiança, bom senso, tolerância à dor (estômago), mente aberta, desapego, persistência, humildade, flexibilidade, disposição para fazer pesquisas independentes, disposição para admitir erros, habilidade para ignorar pânico generalizado, e disciplina para resistir à natureza humana e à intuição pessoal.

Ele acrescenta que os investidores devem aceitar tomar decisões sem ter todas as informações à mão. Esperar saber tudo para decidir, pode ser muito tarde para lucrar. Lynch busca boas empresas cujas ações têm preços atrativos, pois papeis adquiridos por valores muito altos dificilmente vão gerar lucros.

Em seus livros, ele sugere avaliar uma série de dados ao comprar uma ação, como se o crescimento dos ganhos da empresa é sustentável; se o balanço é sólido; quem já é acionista – quanto menos papeis nas mãos de investidores institucionais e quanto menos analistas monitorando a ação, melhor -; além de diversificar, desde que todas as ações atendam aos critérios sugeridos; e monitorar o portfólio para comprar ou vender frente à realização ou não das expectativas.

Começo em clube de golfe

Peter Lynch nasceu em 19 de janeiro de 1944, na cidade de Newton, Massachusetts, Estados Unidos. Quando tinha sete anos, seu pai descobriu um câncer, e morreu três anos depois. Aos 11, começou a trabalhar como “caddy”, carregador de tacos, num clube de golfe em sua cidade natal, perto de Boston.

Lynch contou à PBS que o clube era frequentado por executivos. Ele ouvia as conversas sobre ações, se interessou e passou a acompanhar o tema nos jornais. Por meio do trabalho, o jovem conseguiu uma bolsa parcial para estudar no Boston College, onde se tornou bacharel em Ciências, em 1965.

Ainda na faculdade, fez seu primeiro investimento em ações. Ao realizar um estudo sobre transporte aéreo de cargas, descobriu uma empresa chamada Flying Tiger e aplicou US$ 100 em seus papeis. Ele acreditava que o setor tinha futuro. “Eu tive bastante sorte porque [as ações] subiram, mas por outra razão”, contou. “A Guerra do Vietnã começou e eles basicamente transportaram um monte de tropas para o Vietnã, e a ações subiram nove ou dez vezes, eu acho”, acrescentou.

Lynch serviu dois anos como tenente no Exército e fez pós-graduação em administração de empresas na Escola de Negócios Wharton, da Universidade da Pensilvânia. Foi na universidade que ele conheceu sua futura mulher, Carolyn Ann Hoff. Os dois se casaram em 1968.

Quando estudante, Lynch fez um estágio de verão na Fidelity, em 1966. Ele entrou na empresa de vez aos 25 anos, em 1969. Diz que ajudou o fato de ter trabalhado como “caddy” para o presidente da companhia por oito anos. Em Boston, Lynch começou como analista da empresa, enquanto a mulher foi trabalhar como fisioterapeuta. O casal estabeleceu residência em Marblehead, localidade nas proximidades de Boston.

Em 1974, o investidor tornou-se diretor de Pesquisas da Fidelity. Em 1977, assumiu o cargo que o tornaria famoso, de gestor do fundo Magellan. Lynch causou surpresa quando deixou a administração do fundo, em 1990.

Família

Na época, ele disse que tomou a decisão para passar mais tempo com a família – Peter e Carolyn tiveram três filhas – e para cuidar de outras iniciativas pessoais.

“Desde 1982, eu trabalhei todos os sábados”, afirmou ele ao Wall Street Journal em 29 de março de 1990. “Nos últimos 18 meses, estou trabalhando também nas manhãs de domingo, antes da igreja”, afirmou, acrescentado que o pai morreu com 46 anos. Lynch é católico e apoia diversas ações ligadas à igreja em Boston. “Durante minha carreira, eu sempre disse que não levava trabalho para casa, mas isso não tem sido verdade recentemente”, declarou.

Lynch cita 1982 como um marco, momento em que o mercado de ações nos EUA começou a crescer de maneira constante, após mais de uma década de estagnação. Em 1983, os ativos administrados pelo Magellan ultrapassaram US$ 1 bilhão. Em 1987, porém, veio a “segunda-feira negra”. Em 19 de outubro, o índice Dow Jones caiu 22,6%, maior tombo num único dia até então. O mercado só voltaria os níveis anteriores à crise em janeiro de 1989.

O investidor diz, no entanto, que este não foi o período mais preocupante que passou à frente do Magellan, pois os investimentos do fundo tinham fundamentos sólidos, mas elevou sua carga de trabalho. O momento mais alarmante, de acordo com ele, foi a Guerra do Golfo, em 1990, e as incertezas geradas pelo ataque dos EUA ao Iraque.

Filantropia

Antes de deixar o Magellan, Lynch e Carolyn haviam fundado a Fundação Lynch, em 1988. O casal já fazia doações para iniciativas esparsas, como grupos de escoteiras, a igreja e o museu de arte Peabody Essex, em Salem, Massachusetts; mas decidiu organizar suas ações filantrópicas por meio de uma instituição.

No início, a fundação atuava com educação, preservação histórica e cultural, saúde e religião. Posteriormente, o casal decidiu se concentrar na área de educação. A entidade financia uma série de projetos nesta seara.

A organização prioriza projetos em parceria com outras instituições e investimentos em iniciativa já existentes, pois os Lynch chegaram à conclusão que as doações geram efeitos maiores assim do que em iniciativas isoladas.

Carolyn presidiu a instituição até sua morte, em 2015, aos 69 anos, por complicações de uma leucemia. Lynch cuidava de levantar e administrar o dinheiro da fundação e Carolyn selecionava os destinatários dos recursos.

A família financiou também a Escola de Educação e Desenvolvimento Humano do Boston College. Em 1999, o casal doou US$ 10 milhões para a instituição acadêmica, que em 2000 passou a se chamar Escola de Educação e Desenvolvimento Humano Carolyn A. e Peter S. Lynch. Em 2010, eles doaram mais US$ 10 milhões para a criação da Academia de Liderança Lynch, para capacitação de diretores de escolas.

Hoje Peter ocupa o cargo de presidente da Fundação Lynch. Ele vive em Boston e gosta de passar seu tempo com as filhas e os oito netos.

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