Os melhores fundos de ações e multimercados no primeiro semestre de 2020 e em 12 meses

Os melhores fundos de ações e multimercados no primeiro semestre de 2020 e em 12 meses

julho 3, 2020 Off Por Today Newsroom

SÃO PAULO – Em um primeiro semestre que entrará para a história por conta de todos os reflexos oriundos da pandemia do coronavírus, a economia americana representou o principal abrigo para os investidores no meio da tempestade.

Em um ambiente de aversão ao risco sem precedentes, a corrida em direção ao dólar foi igualmente intensa. No caso do real, que se desvalorizou 36% contra a moeda americana na primeira metade de 2020, pesam ainda as crises políticas e o risco de descontrole fiscal no Brasil.

Na hora da paúra, o mercado de ações americano também esteve entre os mais resilientes no primeiro semestre, com destaque para a Nasdaq. Reunindo as principais empresas de tecnologia do planeta, o principal índice da bolsa fechou o semestre com uma alta de 12,1%. No período, o Ibovespa teve queda de 17,8%.

Diante da dinâmica global marcada pelo coronavírus, predominaram entre os fundos de ações e multimercados de maior rentabilidade no primeiro semestre os que se beneficiam tanto da valorização de ativos no exterior como da alta do dólar.

Apesar do amplo domínio, não foi apenas com a exposição aos Estados Unidos que os gestores conseguiram se destacar no mercado local.

Valendo-se de uma gestão bastante ativa, com diversas trocas de posições dentro do portfólio, o fundo de ações Sinergia, da Fator Administração de Recursos, e o multimercado Versa Long Biased, da gestora de mesmo nome, marcaram presença entre as maiores rentabilidades do semestre.

Apesar dos resultados satisfatórios mesmo durante a pior crise dos últimos tempos, a expectativa dos gestores é a de que a liquidez abundante, somada aos juros próximos de zero, mantenha o fluxo para ativos de maior risco.

Confira a seguir os fundos de ações e multimercados com as maiores rentabilidades nos últimos 12 e 36 meses, bem como apenas no mês de junho.

Importante lembrar que retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, mas é interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.

Para a análise, foram considerados fundos não exclusivos com patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas, em junho. No caso dos fundos de ações, foram excluídos os setoriais, os indexados e os monoações. Entre os multimercados, não foram considerados os fundos de crédito privado.

Gigantes do Vale do Silício

Por investir em ativos negociados na Bolsa brasileira, mas lastreados em ações de empresas estrangeiras, em que a apreciação do dólar joga a favor, os fundos de ações que investem em BDRs lideraram as primeiras colocações entre as maiores rentabilidades do primeiro semestre do ano.

O fundo de BDRs da Western Asset foi o que mais se destacou, com valorização de 40,5%, de janeiro a junho.

A maior exposição do fundo está no setor de tecnologia – especialmente em Amazon e Microsoft –, a tese de investimento que mais se destacou na pandemia. Segundo Mauricio Lima, gestor da Western, já se tratava de uma das principais apostas mesmo antes da Covid-19.

A carteira também conta com papéis relacionados ao setor de saúde (United Health) e de cuidados pessoais (Johnson & Johnson). Já no setor financeiro, o fundo tem com uma exposição abaixo dos índices de referência (“underweight’”, equivalente à venda).

Apesar do desempenho resiliente das bolsas americanas, em contraste a uma sociedade ainda bastante afetada pela pandemia, Lima acredita que a atuação proativa dos governos deve manter a boa performance dos ativos na região.

“Seguimos construtivos com a economia americana, que já tem mostrado alguns sinais de recuperação”, afirma o gestor da Western. “Parece que o pior já ficou para trás nos Estados Unidos.”

Já em relação ao câmbio, o investidor não deve contar com folga adicional partindo da moeda. A visão da Western é a de que o atual patamar, ao redor de R$ 5,30, está relativamente bem ajustado frente ao cenário.

“Independentemente do nível do câmbio, uma exposição ao dólar parece fazer sentido para proteger a carteira de uma eventual depreciação dos ativos locais”, diz Lima.

Giro alto do portfólio

Entre os fundos de ações com ganhos relevantes de janeiro a junho sem se expor ao dólar ou à bolsa americana, o maior destaque é o Sinergia, da Fator, com alta de 23,8% em 2020.

Apesar da valorização expressiva nos últimos meses, e do horizonte ainda nebuloso, o gestor do Sinergia, Daniel Utsch, entende que a liquidez abundante nos mercados deve manter o desempenho positivo das ações. “Em um ambiente como esse, não dá para dizer que a Bolsa está cara”, afirma Utsch.

A rotação elevada dos nomes na carteira foi uma das marcas da atuação nos últimos meses, diz o gestor do Sinergia. O fundo, explica ele, é estruturado com uma visão de longo prazo, mas se vale das flutuações de preços no curto prazo para trocar as posições.

A forte volatilidade de março, afirma o gestor, abriu uma série de boas oportunidades, o que tem contribuído para uma diversificação do portfólio maior do que a usual – geralmente são cerca de oito ações na carteira, número agora mais próximo de 15.

Segundo Utsch, posições em exportadoras de proteína bovina, como Marfrig, Minerva e JBS, ajudaram a defender bem o portfólio nos últimos meses.

“Dada a depreciação cambial, e a escassez de proteína na China, não fazia sentido o tamanho da queda dessas empresas”, afirma o gestor, acrescentando que são ativos que, pela resiliência, seguem na carteira.

A Via Varejo, que surpreendeu parte do mercado pela rápida conversão ao e-commerce e viu sua ação disparar 37% (leia mais aqui), também foi citada como um ativo importante para a rentabilidade do ano..

Dançando conforme a música

Na categoria dos multimercados, os fundos com exposição ao mercado americano e ao dólar também foram os grandes vencedores no primeiro semestre de 2020. Ainda assim, dentro da classe, os “long biased” foram os que mais conseguiram rivalizar com o desempenho dos fundos globais.

Os “long biased” são fundos que têm a maior parte do retorno oriunda da Bolsa, mas com uma flexibilidade maior que os fundos “long only”, que só ficam comprados (apostando na alta) em ações, podendo adotar posições “vendidas” (apostando na queda) ou neutras. Além disso, os “long biased” podem ter exposição em outros ativos, como moedas e juros.

Com um retorno de 41,2%, de janeiro a junho, o Versa Long Biased foi o que registrou o melhor desempenho entre os pares de mesmo mandato.

O resultado teria sido ainda maior, se não fosse uma posição comprada na moeda brasileira mantida no período, via opções. “Foi um grande prejuízo para o fundo no primeiro semestre e chegamos a reduzir a posição no real, mas já voltamos a aumentar”, afirma Luiz Fernando Alves Jr, gestor do Versa Long Biased.

Embora reconheça que a visibilidade segue muito baixa, o gestor busca passar uma visão relativamente otimista. “Acredito que teremos mais noticias de recuperação do que de piora.”

A falta de atratividade da renda fixa deve manter o fluxo em direção à Bolsa, impedindo um novo tombo mais acentuado como em março, prevê Alves. “Ainda tem alguns papéis bastante descontados, com muita oportunidade.”

Segundo o gestor do fundo, parte relevante do retorno no primeiro semestre se deve à rápida e antecipada redução de risco da carteira, ainda em meados de fevereiro. Pouco antes do carnaval, quando a China decretou o “lockdown”, a decisão do gestor foi reverter a posição comprada em ações, por uma vendida nos índices futuros do Ibovespa e do S&P 500.

“Na fase mais aguda da crise, deixamos o fundo com um viés negativo: quando a Bolsa caía, o fundo subia.”

Quando o Ibovespa chegou aos 80 mil pontos, o gestor da Versa entendeu que os preços de alguns ativos estavam baratos demais para serem ignorados. Ele então desfez as posições vendidas, e se aproveitou do caixa gerado por elas para aumentar a exposição em ações da Bolsa que já estavam no portfólio antes da pandemia, e que seguem até hoje.

Entre os nomes em que Alves deposita alta convicção e que tiveram o peso reforçado, estão BR Properties, Marisa e Via Varejo. O gestor se mostra cético quanto às previsões mais drásticas de mudanças nos hábitos de consumo pós-pandemia.

A Versa também aproveitou o tombo indiscriminado nos preços para fazer uma nova posição, via BDR, na General Motors.

Na ponta vendida, a principal aposta está no ETF “BOVA11”, que replica o Ibovespa. “A carteira vendida está menor do que a comprada, e sem nenhum case mais especifico, como já tivemos em IRB ou Banco Inter.”

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Dólar e ouro

O fundo Long Bias da Truxt também conseguiu se destacar de janeiro a junho, com rentabilidade de 19,3% no período, decorrente de um leque mais amplo de atuação que o da Versa.

Bruno Garcia, sócio e diretor de investimentos da Truxt, contou, durante live da série VRB Talks, que o resultado se deve em grande medida às apostas na alta do dólar e do ouro.

A posição comprada na moeda americana foi desfeita quando a cotação encostou em R$ 5,70 em meados de maio, momento no qual a Truxt optou por ficar comprada no real. “Ganhamos tanto na ida como na volta”, afirmou Garcia. Já o ouro segue no portfólio até hoje.

Segundo o gestor da Truxt, a redução da exposição à Bolsa local no inicio da crise, junto com um aumento em ações americanas, de tecnologia notadamente, foi outra estratégia que se mostrou acertada na primeira metade do ano.

Ainda entre as exposições globais, Garcia afirmou que manteve nos últimos meses uma operação de arbitragem comprada na bolsa da Alemanha, e vendida em emergentes.

Entre as ações brasileiras, o gestor disse que, em um ambiente de juros baixos, em que o tema de investimento vem ganhando cada vez mais espaço, gosta de B3, XP e BTG Pactual.

Garcia afirmou ainda que aproveitou a forte queda de março para comprar ações da Centauro. “Ficamos de fora do IPO e nos arrependemos, porque o trabalho do Pedro Zemel na condução da empresa está sendo brilhante”, disse o gestor da Truxt, acrescentando que reforçou a posição que já tinha em Magazine Luiza.

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