O que se sabe até agora sobre o impacto do coronavírus no varejo – e as ações para comprar
abril 13, 2020SÃO PAULO – Em um momento de crise global a queda no consumo é inevitável, como se observa hoje com a pandemia de coronavírus. Mas é justamente nessas situações que as empresas mais bem posicionadas se fortalecem e se preparam para tempos normais. No caso do varejo brasileiro, analistas do mercado financeiro tentam identificar quais seriam essas companhias.
De olho nos dados por segmento de atuação, o e-commerce foi o que teve o menor impacto negativo. Segundo Pedro Fagundes, analista da XP Investimentos, as vendas online de farmácias e supermercados cresceram 24% e 28% respectivamente nas médias dos dias 17 a 23 de março, ao passo que os outros setores venderam 23% menos no mesmo período. Isso mostra que os consumidores estão direcionando seus gastos para o consumo básico, em oposição à compra de bens duráveis, turismo e vestuário.
Fagundes destaca que houve aumento de 55% no tráfego das principais plataformas online de varejo alimentar.
Para o Morgan Stanley, haverá um declínio de 70% a 80% nas vendas de eletrônicos e vestuário no segundo trimestre deste ano, com uma normalização apenas parcial no terceiro trimestre. Por outro lado, o crescimento nas vendas de alimentos vai contrabalancear essas perdas. “Nosso modelo mostra 21% de queda nas vendas do varejo no segundo trimestre, com perdas de 3% em todo o ano de 2020”, apontam em relatório.
No cenário-base do banco, o e-commerce cresce 24% em 2020, com avanço de 16% no segundo trimestre. “Nesse caso, as quedas do segundo trimestre no e-commerce de equipamentos eletrônicos são equilibradas por uma aceleração em vestuário e mercearia. Vemos crescimento a cada trimestre do ano, mas abaixo das nossas estimativas anteriores para os três primeiros trimestres do ano e para 2020 como um todo.”
Ações para comprar
De acordo com os analistas Andrew Rubin, Fernando Donega e Alexandre Namioka, do Morgan Stanley, a B2W (BTOW3) está bem posicionada para enfrentar a crise do coronavírus no Brasil por ser uma plataforma de varejo 100% digital. Um dos motivos é que a migração forçada que vem ocorrendo do varejo físico para o online durante essa quarentena pode ser o catalisador para uma mudança de comportamento de longo prazo.
“Isso pode causar uma inflexão da penetração do e-commerce no Brasil e na América Latina a partir de 2021, especialmente para os produtos de ticket médio mais baixo como alimentos e vestuário”, escreve a equipe do banco. Dentro deste cenário, as duas empresas da América Latina que mais podem lucrar com a mudança na realidade do consumo são o Mercado Livre, da Argentina, e a brasileira B2W.
Os analistas acreditam que qualquer companhia que possua lojas físicas será impactada negativamente, mas Magazine Luiza (MGLU3) estaria melhor protegida que outras concorrentes por ter 50% do seu valor bruto de mercadorias vendidas nos canais digitais. Entretanto, os riscos para os negócios tanto da B2W como da Magazine Luiza, neste cenário, derivam do crescimento dos concorrentes como Amazon. Para a Magalu especificamente, ainda há o risco de que a adoção de softwares pelos varejistas analógicos continue lenta.
A XP coloca Magazine Luiza entre suas top picks no setor varejista brasileiro, ao lado de Vivara (VIVA3) e Grupo Pão de Açúcar (PCAR3).
“Continuamos apostando em uma aceleração do processo de digitalização no Brasil, especialmente em categorias de ticket baixo (por exemplo, vestuário, cosméticos), cuja presença no e-commerce brasileiro ainda é limitada, ou até em segmentos como alimentação e saúde (farmácias), que apresentam relevância ainda menor”, defende a equipe de análise da corretora.
Pedro Fagundes, da XP, entende que a recuperação do varejo de loja no pós-quarentena será gradual, pois as pessoas devem ter algum receio ainda em andar em locais públicos como shopping centers e restaurantes, ao mesmo tempo em que terão menos renda disponível por conta do esperado aumento no desemprego.
O Morgan Stanley analisou ainda a Via Varejo (VVAR3), que teria como ponto positivo sua mudança mais rápida que o esperado para o omnichannel. Porém, o aumento da competição de gigantes como a Amazon, soma-se ao risco de que a expansão incremental de lojas não possa ser concluída produtivamente, além dos problemas decorrentes da fraude contábil em 2019.
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