O desempenho das ações que estrearam na B3 em 2020 – e o que os analistas esperam para algumas delas

O desempenho das ações que estrearam na B3 em 2020 – e o que os analistas esperam para algumas delas

outubro 6, 2020 Off Por Today Newsroom

SÃO PAULO – Em meio à recente volatilidade do mercado com a proximidade das eleições dos Estados Unidos e com o risco fiscal no Brasil, algumas companhias desistiram, por ora, de seus planos de abertura de capital, como é o caso da Compass (subsidiária da Cosan – CSAN3) e da Caixa Seguridade (da Caixa).

Contudo, apesar dos reveses, 2020 já marca uma verdadeira retomada para os IPOs (Initial Public Offering) na Bolsa, apesar de registrar um período sem operações por conta da aversão ao risco do mercado em meio à pandemia do coronavírus.

Até o momento, 17 companhias estrearam na Bolsa, somando mais de 22 bilhões em captação ao contar ofertas primárias e secundárias, conforme o quadro abaixo. Com estreia marcada para o próximo dia 7, a Sequoia, especializada em operações voltadas para e-commerce, captou cerca de R$ 1 bilhão com o IPO.

Em meio à forte volatilidade da Bolsa e com alguns setores despontando positivamente em meio à pandemia, algumas ações estreantes de 2020 registram forte desempenho, com a maior alta superando os 200%, – caso da Locaweb (LWSA3) -, enquanto outras registram forte queda, que vão até 48%, com destaque para as empresas de construção civil que abriram o capital recentemente.

Vale destacar que algumas companhias, como Pague Menos (PGMN3), Petz (PETZ3), Cury (CURY3), Melnick (MELK3), Hidrovias do Brasil (HBSA3) e Boa Vista (BOAS3), estrearam em setembro, ou seja, ainda têm pouco histórico de negociação. Já outras companhias, caso de Mitre (MTRE3) e Locaweb, abriram o capital em fevereiro, antes do auge da aversão ao risco do mercado com a pandemia – e tiveram movimentos bastante distintos desde então. Até então, ações de 9 companhias que abriram o capital registram ganhos, enquanto 8 têm baixa na B3.

No quadro abaixo, está o desempenho das ações desde a sua estreia no ano até o pregão de fechamento da última segunda-feira (5), comparado ao desempenho do Ibovespa em igual período.

Em meio a movimentos tão diversos, o que os analistas acham das companhias estreantes na Bolsa? Algumas empresas, principalmente as que abriram o capital no início do ano, já são alvo de recomendações por parte de grandes bancos e casas de análise, com a visão majoritariamente positiva para os ativos.

A Locaweb possui duas recomendações de compra e uma de manutenção por parte das casas de análise, conforme dados da Refinitiv.

A companhia é a plataforma de hospedagem de sites líder no país e também é uma das principais plataformas de e-commerce para pequenas e médias empresas do mercado.

Em relatório de início de cobertura, em março, os analistas do Itaú BBA destacaram que a Locaweb é um veículo de investimento único, oferecendo crescimento por meio da exposição ao e-commerce de rápido crescimento do Brasil, ao mesmo tempo em que oferece defesa por meio de sua geração de fluxo de caixa forte e previsível. Além disso, o histórico comprovado de aquisições da empresa leva a um promissor cronograma de transações destinadas a ampliar e complementar suas soluções digitais.

A companhia, por sinal, anunciou no fim de setembro, a compra da Social Miner, que oferece plataforma de software as a service para comércio eletrônico, por pouco mais de R$ 22 milhões – a primeira aquisição desde a oferta inicial de ações de fevereiro.

A Locaweb está em conversas avançadas com outros seis alvos, com foco em negócios que tenham receita recorrente e um produto bem definido, segundo Rafael Chamas, diretor financeiro da companhia, para a Bloomberg.

Fundada em 1998, a Locaweb desafiou um tombo de 18% do mercado local e foi beneficiada pela digitalização acelerada de pequenas e médias empresas em meio à pandemia. Porém, em meio à forte alta, algumas casas já costumam a reduzir a sua posição no papel: “a empresa se beneficia de uma tendência secular, mas o papel está mais esticado”, disse Fernando Siqueira, da Infinity Asset Management. “É necessário uma entrega muito boa de resultados para justificar” o múltiplo.

O rali levou a ação a negociar perto de 81 vezes o lucro estimado para 2021, segundo estimativas da XP Investimentos. A XP, por sua vez, segue com recomendação de compra para os ativos, com preço-alvo de R$ 71 por papel para o final de 2021, o que configura um potencial de valorização de 15% em relação ao fechamento da véspera.

Já entre as construtoras, entre as que já estão no radar de recomendações dos investidores são a Mitre (MTRE3) e a Moura Dubeux. (MDNE3) Os analistas iniciaram a cobertura para os ativos com recomendação positiva, apesar do desempenho negativo dos ativos em seus primeiros meses.

Sobre a Mitre, o Bradesco BBI afirmou que uma “nova estrela estava nascendo” em seu relatório de início de cobertura em 11 de junho de 2020.

“A forte execução da administração irá capturar o valor embutido em seu banco de terrenos premium nos próximos 3 anos. Além disso, a equipe de gestão detém uma participação de cerca de 37% na empresa, o que em nossa visão os alinha com os acionistas”, avaliaram os analistas.

Segundo eles, apesar do impacto de curto prazo esperado do COVID-19, os fatores de crescimento de longo prazo, como baixas taxas de juros e a demanda reprimida, dão suporte à recomendação equivalente a compra, que mantém até o momento. Em agosto, após o resultado do primeiro trimestre, os analistas do banco reforçaram a sua recomendação destacando que, apesar do cenário desafiador, o segmento de renda média parece estar se recuperando em um passo mais rápido do que o esperado.  Além disso, a empresa está capitalizada e deve seguir em frente com seu plano de expansão que pode se traduzir em melhorias nas métricas operacionais e financeiras no futuro.

Já o Itaú BBA destacou que a empresa está bem posicionada para se aproveitar da recuperação do mercado imobiliário na cidade de São Paulo e entregar uma expansão rápida do Retorno Sobre Patrimônio Líquido (ROE) suportada por um forte crescimento de lançamentos nos próximos anos.

Contudo, nem tudo é só o céu azul: “além dos fatores macroeconômicos, acreditamos que os principais riscos para a história do investimento são os desafios de execução e a competição acirrada, dado o foco dos players em lançamentos em São Paulo”, avaliam. O preço-alvo dos analistas do BBA é de R$ 15,80.

Já sobre a Moura Dubeux, maior queda entre as que fizeram IPO no ano, há duas recomendações de compra, do Itaú BBA e do Credit Suisse. De acordo com o Credit Suisse, a Moura Dubeux se beneficia com o momentum operacional do Nordeste e a dominância da companhia na região.

Em relatório da última segunda-feira, os analistas do Credit destacaram que a grande quantidade de ofertas gerou um peso no setor imobiliário como um todo, o que acabou gerando um movimento de mudança de posição dos investidores bastante forte.

Isso porque eles mantinham a exposição proporcional na carteira ao setor mas, para participar dos IPOs, vendiam as listadas para entrar nas ofertas, o que levou a um ajuste para as companhias que tinham capital aberto na Bolsa. Até o momento, 6 empresas do setor abriram capital em 2020.

Nesse cenário, eles mantiveram a Cyrela (CYRE3) como top pick do setor pela melhor performance operacional e o valuation de 1,6 vez pós IPO das subsidiárias Cury (CURY3), Lavvi (LAVV3) e Plano & Plano (PLPL3) , enquanto destacam a EzTec (EZTC3) como um nome interessante para o médio prazo em meio ao valuation atrativo e o bom estoque de terrenos.

Além dessas, os analistas apontam gostar de Even (EVEN3) e da Moura Dubeux, possuindo preço-alvo de R$ 12,50 para a estreante na Bolsa, ou um potencial de valorização de 27,81% em relação ao último fechamento. A expectativa é de que, após um segundo trimestre sem lançamentos e com vendas líquidas de apenas US$ 17 milhões, no terceiro trimestre a companhia faça vendas de US$ 220 milhões e lançamentos no valor de US$ 250 milhões.

Varejo: visão positiva para Soma e Quero-Quero

Já no setor de varejo, entre as empresas que já tiveram a cobertura iniciada, está o grupo Soma (SOMA3), com três recomendações, sendo 2 de compra e 1 neutra. O Grupo abriga as marcas FARM, Animale, A.brand, Fyi, Fábula e, mais recentemente, a Foxton.

O Bank of America iniciou a cobertura para a varejista de moda em 18 de setembro com recomendação de compra e com preço-alvo de R$ 13 por ativo.

Os analistas do banco apontam que a companhia é uma plataforma em crescimento para marcas aspiracionais e possui espaço considerável para efeitos de redes de mercados sociais, de fechamento e preço total. “Acreditamos que o Soma é um dos grupos de moda mais bem administrados da região, sentimos que sua tecnologia e outras capacidades excedem a maioria dos concorrentes e esperamos que o crescimento venha de uma combinação de esforços orgânicos e inorgânicos atraentes”, avaliam os analistas Robert Aguillar, Melissa Buyn e Vinicius Strano.

Eles ressaltam que a estrutura tarifária e tributária do Brasil, além do mercado contra-sazonal (em relação ao hemisfério norte), entre outros fatores, têm historicamente levado a uma indústria de vestuário de origem nacional e altamente fragmentada. Neste cenário, essa estrutura está sob pressão considerável de uma combinação de aplicação de impostos, volatilidade econômica e competição, e a expectativa é de que a covid-19 vai acelerar a consolidação.

“Uma parte importante do crescimento da Soma veio de aquisições nos últimos anos, e avaliamos que ela está excepcionalmente bem posicionada para continuar a adquirir e integrar marcas complementares em termos favoráveis”, ressaltam.

Para o banco, a companhia conta com várias vantagens competitivas, como marcas fortes, cuidadosamente selecionadas e que são bem mantidas, ao mesmo tempo em que a estrutura operacional minimiza a redundância, enquanto aproveita a escala e financia uma infraestrutura acima. Além disso, a empresa tem capacidade de acessar capital, contrasta fortemente com rivais menores.

Além disso, avalia, os movimentos da Soma em tecnologia, e-commerce e análise de dados estão distanciando-a ainda mais de seus concorrentes em um cenário em que os consumidores aceleram a digitalização, e a Soma alavanca cada vez mais sua plataforma.

Já o Itaú BBA destaca que o grupo é o candidato perfeito para consolidar o mercado de moda, destacando que a empresa possui marcas icônicas e os melhores KPIs digitais da categoria, que, juntamente com um modelo de parceria forte, podem suportar um crescimento robusto no futuro.

“Iniciativas comerciais e de preservação de caixa colocam a empresa em uma posição forte em relação aos concorrentes, principalmente com a nova coleção durante a reabertura das lojas”, apontaram com os analistas, que iniciaram a cobertura em setembro com recomendação outperform e preço-alvo de R$ 13.

Também no setor, mas voltado para a venda de materiais de construção civil, estão as ações da Quero-Quero (LJQQ3), com 4 recomendações de compra.

Dentre elas, a do Itaú BBA, que iniciou a cobertura em meados de setembro, com preço-alvo de R$ 18. “Acreditamos que o case de investimento da companhia oferece uma oportunidade interessante de crescimento. A empresa possui um modelo de negócios único e com alto potencial de abertura de lojas em um ambiente de baixa concorrência e alta lucratividade”, destacam os analistas.

Eles apontam que a companhia criou um modelo de negócios único, no qual pequenas lojas que vendem uma pequena quantidade de produtos, principalmente commoditizados, sendo capazes de entregar um alto nível de lucratividade, ressaltando ainda que a divisão de serviços financeiros é fundamental para proporcionar altos retornos.

“Este modelo de negócio único tem alto potencial de crescimento, pois está focado em cidades pequenas com baixa competição devido à pequena presença de grandes redes varejistas nessas cidades”, avaliam.

Também positivos com o case de investimento da companhia, está o Bradesco BBI. Os analistas ressaltam que a empresa oferece aos investidores uma combinação atraente de crescimento rápido e acelerado com retorno alto (ROIC – Retorno sobre o Capital Investido – superior a 20%) a um preço razoável.

Eles também ressaltam o fato da companhia possuir um modelo “único”, focado exclusivamente em cidades pequenas – com população média de cerca de 40 mil habitantes. Ou seja, lugares em que os grandes varejistas de materiais de construção não operam (e não podem) operar.

Já o BofA iniciou a cobertura para a Quero-Quero em outubro, destacando ainda as potencialidades do digital para a companhia. Para os analistas Robert Aguilar, Melissa Byun e Vinicius Strano, a companhia conta com potencial para triplicar sua quantidade de lojas, especialmente com a expansão para os estados do Mato Grosso do Sul e interior de São Paulo.

“Os mercados menores geralmente desfrutam de custos mais baixos de construção e ocupação, reduziram a rotatividade de funcionários e tendem a ser dominados por varejistas independentes”, avaliam.

A atuação digital em meio à pandemia também foi vista de um modo positivo pelos analistas. “Embora as operações de varejo e crédito ao consumidor da Quero-Quero sejam quase inteiramente físicas, a equipe de gestão e o conselho de administração da empresa preferem o digital”, ressaltam. Desta forma, uma das oportunidades é o potencial de evolução das operações de crédito ao consumidor VerdeCard para uma oferta de fintech a longo prazo. Segundo eles, a pandemia “teve um impacto desproporcional na competição, melhorando a oferta de mão de obra e a disponibilidade de localização, e reduzindo os custos de ocupação”.

Já entre os riscos, os analistas do BofA apontam: queda da demanda, eventuais mudanças regulatórias e competição do mercado.

Também no setor varejista, mas no segmento farmacêutico, está a d1000 (DMVF3). A companhia é a nona maior varejista farmacêutica do Brasil, com 0,9% de participação de mercado, R$ 1,1 bilhão em faturamento anual e 188 lojas em quatro estados. A companhia é resultado de três aquisições realizadas desde 2013 pela Profarma (PFRM3) – acionista controlador da companhia e segunda maior distribuidora farmacêutica do país.

Os analistas da Eleven Financial e da XP Investimentos possuem recomendação de compra para os ativos da farmacêutica. Conforme aponta a Eleven, a companhia vem passando por um processo de reestruturação com o fechamento de lojas ineficientes (no terceiro trimestre foram fechadas dez lojas) e abertura de lojas no modelo popular, que possuem margens mais atrativas.

“Acreditamos que o potencial da d1000 vai além da abertura de lojas, pois apresenta melhores estratégias no mix de vendas, com maior relevância nas vendas dos produtos de marcas próprias e com precificação mais assertiva”, apontaram os analistas.

Já a XP Investimentos iniciou a cobertura para as ações da d1000 no último dia 21 de setembro, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 20,50. Segundo a XP, a recomendação se deve às melhorias operacionais da empresa, principalmente das bandeiras Drogasmil e Rosário, que estavam em dificuldades.

Além disso, a XP destacou que a aceleração do processo de abertura de lojas da d1000 deve gerar um crescimento médio de receita de 17% ao ano entre 2019 e 2023.

Por fim, entre os bancos que possuem recomendação para as estreantes na Bolsa em 2020, está a Allpark (ALPK3), dona da Estapar (empresa líder de estacionamentos da América Latina) que tem recomendação de compra pelo Santander e pela Eleven Financial. Após ter sua operação bastante impactada pelo coronavírus, a expectativa é de recuperação.

Confira abaixo as recomendações dos analistas para as ações estreantes na B3 em 2020, segundo dados da Refinitiv:

Uma questão também bastante recorrente entre os investidores é se a onda de IPOs vai continuar. Isso porque, com a recente queda da Bolsa dado o aumento de preocupações no Brasil e o elevado número de ofertas em uma mesma “janela”, várias empresas acabaram anunciando o cancelamento ou postergação dos seus planos de abertura de capital.

Contudo, segundo apontou em relatório do início do mês Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head do research da XP, a continuidade das operações de abertura de capital essa deve ser a nova realidade no mercado brasileiro.

“É natural que em um cenário assim os investidores sejam mais seletivos nas ofertas de ações. Porém, acreditamos que conviver com os IPOs recorrentes deverá ser a nova realidade do mercado brasileiro. Essa é uma boa mudança que trará mais oportunidades de investimento aos investidores e mais opções de financiamento produtivo para as empresas”, avalia.

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