Natura, Mercado Livre, Magazine Luiza e Hapvida, as favoritas da Studio Investimentos
junho 17, 2020Fazia tempo que não escutávamos tantas teses de investimento em empresas no Coffee & Stocks. Nosso apresentador Thiago Salomão conversou com Beatriz Fortunato, gestora carioca e fundadora da Studio Investimentos, casa fundamentalista de apenas um fundo 100% focado em ações.
Com mais de 20 anos de mercado, Fortunato iniciou sua carreira no Opportunity, uma das mais longevas gestoras fundamentalistas do Brasil, passou pela Arx Capital e está há 10 anos gerindo a Studio ao lado de Breno Guerbatin, colega de faculdade e parceiro de trabalho no Opportunity.
Fortunato deu uma aula de investimentos e ainda abriu a carteira da Studio aos mais de mil espectadores simultâneos que assistiam à live. Hoje, a principal posição do fundo é Natura – um vídeo dela sobre a empresa será divulgado no Telegram do Stock Pickers, clique aqui para fazer parte. Além de Natura, Mercado Livre, Magazine Luiza, Localiza, Equatorial e Hapvida também são posições relevantes do fundo
Sendo bem direto ao ponto, ela nos contou o que fez na carteira da Studio durante a crise, disse por que prefere Mercado Livre e Magazine Luiza a Via Varejo e B2W, mesmo acreditando que apenas uma delas será a grande vencedora do setor; explicou por que carrega Hapvida em vez de Intermédica dentro do setor de saúde e ainda explicou a tese de investimentos em Equatorial.
Como a carteira da Studio mudou durante a crise
“Nossos investimentos partem do micro através da análise bottom-up [da análise micro das empresas para a análise macro]. Logo depois que a crise começou, fizemos uma diligência para entender o fluxo de caixa das empresas nos próximos 12 meses e adotamos premissas de sensibilidade para analisar o impacto da quarentena em cada uma delas. O tamanho da destruição de valor delas é maior ou menor a depender da alavancagem de cada negócio.”
Como a Studio é uma casa fundamentalista que investe em empresas com horizonte de longo prazo, a carteira do fundo não mudou de forma tão relevante.
“Em março, todas as ações caíram na mesma proporção, mas a verdade é que as empresas serão impactadas de maneiras diferentes. Aquelas que entraram na crise em melhores condições sairão mais fortes do que entraram. Então, vendemos empresas em turnaround [processo de reestruturação], estatais e cíclicas e aumentamos exposição a nomes de qualidade que já tínhamos no portfólio, como Natura, Mercado Livre, Magazine Luiza, Localiza, Equatorial e Hapvida.”
Equatorial, o sonho do Leblon
Para Fortunato, essas empresas estão entre aquelas que estavam mais bem preparadas para passar pela crise. Dentro desse seleto hall de empresas, ela descreveu Equatorial como o sonho de todos os gestores fundamentalistas.
“Acompanho de perto desde o IPO em 2006. Temos desde 2012 e é a empresa que mais entregou retorno da história do fundo. É uma companhia focada em processos e com uma cultura meritocrática enraizada. Tem conseguido criar valor relevante através de bons investimentos, sendo o mais recente o negócio de transmissão, que será responsável por 1/3 da receita da companhia [o restante vem do segmento de distribuição].”
Hapvida > Intermédica
No ramo da saúde, Fortunato gosta do modelo de negócio das operadoras de planos verticais, por serem modelos de negócios altamente rentáveis mesmo praticando preços baixos. Ela explica por que prefere Hapvida à Intermédica.
“A Hapvida é uma empresa de dono e tocada pelos próprios fundadores, que detém 70% das ações em circulação. É o tipo de alinhamento que é difícil de ver e que nós gostamos bastante. Além disso, achamos ela mais barata do que Intermédica, o que não significa dizer que é uma empresa barata. Ela nunca foi barata, negocia a 30 vezes P/E [múltiplo de preço dividido pelo lucro por ação], mas tem uma perspectiva de crescimento relevante por muitos anos.”
Mercado Livre e Magazine Luiza > Via Varejo e B2W
Ela também comentou por que do setor de e-commerce e tecnologia, as empreas que ela mais gosta são Mercado Livre e Magazine Luiza e por que não carrega Via Varejo nem B2W na carteira.
“Não achamos que existe espaço para quatro empresas no setor de e-commerce [B2W, Via Varejo, Mercado Livre e Magazine Luiza]. Esse setor tem uma característica de que o vencedor leva tudo. O processo de desenvolvimento dessas empresas está muito no início e elas estão explorando apenas a primeira camada, que é o negócio de e-commerce e bens duráveis. Em breve, elas devem explorar outros mercados, como software, propaganda, logística. Quando o ecossistema começa a dar certo, essas empresas passam a explorar novos mercados.
“O Mercado Livre está à frente no processo de criação desse ecossistema, pois tem mais produtos, mais vendedores, mais engajamento. Mas a execução da Magazine Luiza é primorosa, com um foco enorme no cliente e o maior NPS do setor [net promoting score, nível de satisfação do consumidor], maior até mesmo que o da Apple. Essas duas são companhias que tem crescido mais nos últimos anos. Uma delas é uma empresa nativa digital e a outra é aquela que implementou a maior digitalização que já vi no mundo [a Magalu].
“Das quatro, Via Varejo está um pouco atrás, está fazendo um turnaround, acabou de fazer uma capitalização e terá que correr para acompanhar Magalu e Mercado Livre. B2W terá que fazer nos próximos meses um aumento de capital para conseguir crescer como as duas primeiras.”