Mandetta diz que Brasil pode atingir 100 mil mortes em semanas

Mandetta diz que Brasil pode atingir 100 mil mortes em semanas

julho 23, 2020 Off Por Today Newsroom

Luiz Henrique Mandetta
Luiz Henrique Mandetta em entrevista a jornalistas (Isac Nóbrega/PR)

(Bloomberg) – Três meses depois de ser demitido como ministro da Saúde, o pior temor de Luiz Henrique Mandetta está se tornando realidade.

Na terça-feira, o Brasil registrou quase 68 mil novos casos de Covid-19, um recorde que eclipsa o anterior em mais de 20% e rivaliza com números vistos nos Estados Unidos, cuja população é 50% maior.

Mandetta, que pressionou para que o país fizesse quarentena logo no início da pandemia, foi demitido em meados de abril, depois de entrar em desacordo publicamente com o presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista na terça-feira, o médico de 55 anos criticou a condução da crise no país e disse que é apenas questão de semanas antes que as mortes ultrapassem 100 mil.

“A gente está vivendo uma baderna científica porque ninguém mais tem credibilidade para vir a público e falar o que fazer no Brasil”, disse Mandetta em entrevista do Mato Grosso do Sul, seu estado natal. “O Ministério da Saúde e o governo federal saíram do assunto.”

O país está sem ministro titular da Saúde desde 15 de maio, quando Nelson Teich, substituto de Mandetta, se recusou a liberar o uso da cloroquina e renunciou depois de apenas 29 dias no cargo. O general Eduardo Pazuello, que comanda interinamente o ministério, não tem experiência na área médica.

O coronavírus matou 82.771 pessoas no Brasil, que tem 2,23 milhões de infectados. Os casos ativos somam cerca de 613 mil. Embora o Ministério da Saúde não tenha comentado sobre o aumento de terça-feira, há indícios de que o recorde pode ser em parte consequência de problemas no sistema que computa os casos. O estado de São Paulo afirmou na quarta-feira que havia tido dificuldades em inserir os dados devido à instabilidade técnica nos sistemas do ministério, segundo o G1.

Procurada por e-mail, a assessoria de imprensa da presidência não quis fazer comentários para esta matéria

A determinação do presidente de usar a cloroquina se tornou ainda mais evidente depois que ele próprio foi diagnosticado com o vírus em 7 de julho. Bolsonaro tem dito repetidamente que sente bem e até tomou o polêmico medicamento contra a malária durante uma live no Facebook. Um terceiro teste nesta semana mostrou que o presidente continua infectado.

Desde o início da pandemia, Bolsonaro vem criticando as quarentenas, insistindo na reabertura das atividades – e ele tem suas razões. Antes da pandemia, a economia ainda tentava se recuperar após a forte recessão.

Em 2019, o país registrou o quarto ano consecutivo de desemprego acima de 10%. E, com tantos brasileiros na economia informal, mesmo as quarentenas irregulares adotadas por alguns governadores e prefeitos não conseguiram conter totalmente a propagação coronavírus.

Ainda assim, Mandetta e a comunidade global de saúde dizem que Bolsonaro poderia ter feito muito mais para minimizar o impacto da epidemia e salvar vidas.

“Quando veem o chefe da nação dizer na TV que usar máscara é uma bobagem, as pessoas acham que realmente não existe problema nenhum e você fratura a coesão que a sociedade precisa ter para enfrentar uma pandemia como esta”, disse Mandetta. “As pessoas se utilizam disso quase como um álibi macabro.”

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