Maioria concorda com “nova CPMF” desde que para facilitar contratações, diz pesquisa

Maioria concorda com “nova CPMF” desde que para facilitar contratações, diz pesquisa

agosto 18, 2020 Off Por Today Newsroom

SÃO PAULO – Defendida pelo governo Jair Bolsonaro como parte do pacote de reforma tributária a ser encaminhado para discussão no Congresso Nacional, a criação de um novo imposto sobre movimentações financeiras alimenta reações distintas da sociedade, a depender da justificativa apresentada. É o que mostra nova rodada da pesquisa XP/Ipespe.

Segundo o levantamento, realizado entre 13 e 15 de agosto, 78% dos entrevistados são contra a criação do tributo, quando não é apresentada nenhuma contrapartida pelo governo federal. Neste caso, apenas 12% são a favor da introdução do imposto, que costuma ser comparado por críticos à extinta CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras).

A pesquisa, no entanto, mostra que a rejeição à proposta cai para 43% quando há indicação de que os recursos arrecadados seriam utilizados para custear o programa Renda Brasil, que busca unificar benefícios sociais e substituir o Bolsa Família, incluindo mais brasileiros contemplados. O percentual é o mesmo dos que apoiam a introdução do tributo com esta condição.

As resistências são superadas com a justificativa de que o novo tributo substituiria impostos pagos pelas empresas, o que facilitaria novas contratações. Neste caso, 46% dos entrevistados dizem apoiar a mudança, ao passo que 37% apresentam posição contrária. A margem de erro máxima da pesquisa é de 3,2 pontos percentuais.

A proposta do novo imposto ainda está em etapa de formulação pela equipe econômica do governo federal. O tema chegou a ser defendido no ano passado pelo então secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, que perdeu o posto em meio à percepção de forte resistência no mundo político e na sociedade.

O governo argumenta que o tributo teria uma base ampla (inclusive maior do que a que tinha a antiga CPMF), o que permitirá a adoção de uma alíquota baixa. Críticos, porém, alegam que o imposto provoca profundas distorções e desorganiza o sistema econômicos, sobretudo em um contexto de juros baixos – que tornam o tributo proporcionalmente mais elevado do que no passado.

O ministro Paulo Guedes (Economia) estuda implementar o novo tributo como forma de viabilizar uma desoneração mais ampla da folha de salários das empresas. Argumenta-se que a medida, demandada sobretudo pelo setor de serviços, que emprega mais e se vê mais prejudicado pelas etapas hoje em discussão da reforma tributária, poderia garantir mais ofertas de postos de trabalho.

Opositores ao imposto sobre transações financeiras, por sua vez, argumentam que a desoneração da folha de salários pode não garantir a geração de empregos. Inclusive, essa é a avaliação feita por muitos economistas sobre a iniciativa tomada nesse sentido pelo governo Dilma Rousseff (PT): a despeito do forte impacto fiscal da medida, os efeitos sobre o mercado de trabalho teriam sido muito pequenos.

Ainda neste tema, a nova edição da pesquisa XP/Ipespe mostra que 59% dos entrevistados dizem não lembrar de como era cobrada a antiga CPMF. Entre os mais jovens, que tem entre 18 e 34 anos, a proporção é ainda maior: 78% não se lembram de como era a cobrança.

A pesquisa registra ainda que a maior fatia dos entrevistados (41%) vê a elevada carga de impostos como o principal problemas do sistema tributário brasileiro. Ela é seguida pela falta de transparência (28%), pela injustiça do sistema (14%) e pela elevada complexidade (6%).

O levantamento também mostra que, embora a reforma tributária venha sendo debatida em termos semelhantes aos atuais pelo menos desde o governo Michel Temer (MDB), apenas 10% se consideram bem informados, enquanto 61% se dizem mais ou menos ou pouco informados e 26% afirmam não estar acompanhando o assunto.

A pesquisa XP/Ipespe foi realizada entre os dias 13 e 15 de agosto e contou com 1.000 entrevistas realizadas por operadores pelo telefone, com eleitores de todas as regiões do país. A margem máxima de erro é de 3,2 pontos percentuais para cima ou para baixo.

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