IRB anima investidores com maior transparência, mas momento inspira cautela; próxima semana será crucial
junho 26, 2020SÃO PAULO – Em forte queda em 2020, de cerca de 70%, as ações da companhia de resseguros IRB Brasil (IRBR3) registram alívio nessa sessão, com ganhos que chegaram a 8%, após a companhia informar a conclusão da investigação independente sobre o notório caso “Berkshire Hathaway” em meio à divulgação errônea de que o veículo de investimentos teria participação IRBR3.
Em uma semana de queda para o Ibovespa, as ações avançam quase 15%. De acordo com analistas, a notícia é positiva e indica maior transparência e disposição da empresa para virar a página – mas ainda há muitas incertezas no radar.
A investigação, realizada pela KPMG Assessores Ltda. e pela Felsberg Advogados, identificou os responsáveis pela disseminação da informação de que o veículo de investimentos de Warren Buffett teria participação relevante na base acionária da companhia.
Ainda que a companhia não tenha revelado no comunicado que a diretoria anterior – José Carlos Cardoso (então CEO) e Fernando Passos (então CFO) saíram da empresa em meio ao episódio – tenha sido responsável por vazar a informação errônea de que a Berkshire Hathaway teria papéis IRBR3, esse fato já era de conhecimento público, conforme aponta a Levante Ideias de Investimento.
Contudo, também houve novidades: em apurações internas, a nova diretoria detectou a existência de irregularidades no pagamento de supostos bônus a ex-diretores e a outros colaboradores do IRB e suas controladas, em montante já identificado de aproximadamente R$ 60 milhões.
Além disso, foi verificado que, entre fevereiro e março de 2020, foram realizadas operações de recompra de ações da companhia que ultrapassaram as quantidades autorizadas pelo Conselho de Administração em 2.850.000 ações. O IRB reiterou que os responsáveis por todas estas irregularidades apuradas não integram mais os quadros da companhia.
Assim, conforme ressalta a equipe de análise da Levante, além do pagamento de bônus a executivos ser uma novidade, a confirmação das primeiras irregularidades é sinal de que realmente havia “fogo” em meio a “fumaça” de notícias negativas envolvendo a empresa.
“Dessa forma, o mercado pode aumentar as apostas para a confirmação de novas irregularidades” o que, a curto prazo, poderia gerar pressão para os ativos, apontam. A XP Investimentos lembra ainda que, apesar de o Conselho de Administração ter sido praticamente inteiro trocado, do presidente aos membros, os atuais conselheiros podem ter que responder na pessoalmente por eventuais omissões.
Cautela à espera do resultado
A iniciativa de comunicar o ocorrido, de qualquer forma, animou o mercado, fazendo com que as ações subissem em um dia de queda para o Ibovespa. Porém, ressaltam Carlos Daltozo e Daniela Brettahuer, da Eleven Financial Research, apesar da sinalização positiva, de maior transparência, o momento é de cautela.
“Ainda não temos as informações financeiras necessárias para estimar o futuro da companhia e nos
baseamos nos dados divulgados até então, que poderão ser alterados. Mantemos a recomendação neutra, aguardando o resultado que será divulgado na próxima semana, com preço alvo, em um cenário base, de R$ 25 e, em um cenário pessimista, de R$ 15”, afirmam. A ação, vale ressaltar, fechou a última quinta-feira a R$ 11,25.
A companhia já adiou duas vezes o seu resultado do primeiro trimestre de 2020, que agora está marcado para a próxima segunda-feira (29). Até lá, é difícil ter maiores sinais sobre o que esperar para o IRB, apontam os analistas.
A Levante Ideias de Investimento aponta que, durante a divulgação dos números referentes ao quarto trimestre de 2019, a gestora de recursos Squadra já havia sugerido irregularidades na recorrência de resultados e a antiga gestão de IRB Brasil sequer comentou.
“Por isso, a visibilidade para o que pode estar por vir na próxima segunda [com o resultado] é praticamente zero”, afirmam. Em fevereiro, cabe lembrar, a ação IRBR3 já havia registrado forte queda na esteira das indicações feitas pela gestora que justificaram sua posição vendida em papéis da empresa.
Marcel Campos, analista da XP, avalia ainda que, mesmo com o comunicado desta sexta, a principal dúvida dos investidores permanece – e os resultados podem ajudar a esclarecê-la. Afinal, qual foi o resultado da resseguradora nos últimos anos?
“Na apresentação do novo CFO, a posição da resseguradora era de não revisitar resultados contábeis anteriores. Porém, nos resta entender se a posição continua inalterada ou mudou”, reforma o analista em relatório. Outros pontos importantes apontados por ele são: i) como está a liquidez atual do IRB, uma vez que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) instaurou uma fiscalização; e ii) se uma emissão primária está nos planos, levando em consideração a divulgação sobre possibilidade de aumento de capital.
Cabe lembrar que, na última terça-feira, a empresa anunciou três medidas em seu estatuto: i) possibilidade de deliberação sobre o aumento de capital; ii) flexibilidade na composição da diretoria executiva; e iii) criação de uma reserva de lucros estatutária.
A visão do analista da XP sobre as alterações no estatuto foi mista. A primeira medida, avalia, é negativa, pois pode implicar uma emissão primária de capital para resolver, entre outros, os problemas de liquidez com a Susep, o que poderia diluir os acionistas atuais em um momento em que a ação está historicamente sendo negociada a níveis baixos. A Susep abriu em maio investigação sobre a companhia sobre a falta de disponibilidade de reservas técnicas para as operações de resseguros no exterior.
“Por outro lado, a medida de flexibilização dos executivos e a criação de uma reserva de lucro nos parecem positivas, uma vez que possuem o potencial de reforçar a gestão e melhorar os problemas de liquidez da resseguradora, embora nossa visão seja de que os dois últimos sejam questões menores de menor relevância no atual momento”, apontou.
Neste cenário, Campos reforça que continua com a recomendação nas ações do IRB sob revisão, sem intenção de revisão no curto prazo e com todas as estimativas anteriores e preço-alvo não mais válidos, em meio a fortes incertezas para o papel.
Com um ambiente de tamanhas incertezas, os resultados do primeiro trimestre, que serão divulgados na próxima segunda após o fechamento do mercado e, principalmente, a teleconferência na próxima terça-feira (30), a partir das 11h, serão cruciais para os analistas e investidores. Através da fala da nova gestão, será possível entender se o IRB está se movimentando para virar a página após um 2020 bastante nebuloso ainda que, a curto prazo, possa ser complicado revirar o passado recente da companhia.
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