Investimentos em saúde do fundo de pensão da Caixa se sobressaem na pandemia

Investimentos em saúde do fundo de pensão da Caixa se sobressaem na pandemia

junho 21, 2020 Off Por Today Newsroom

SÃO PAULO – Os países que têm conseguido lidar melhor com a pandemia do coronavírus são os que estão testando sua população em larga escala, monitorando a evolução da curva de contágio para decidir se endurecem ou afrouxam o isolamento.

No Brasil, um dos agravantes para o ritmo de crescimento da doença nas últimas semanas é justamente a escassez de testes para atender a demanda crescente.

Para minimizar o problema, o laboratório Mendelics, especializado em diagnósticos genéticos, acaba de desenvolver, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, um exame de saliva que detecta o coronavírus em uma hora, ao preço médio de R$ 95.

De acordo com a empresa, o teste tem a mesma capacidade de diagnóstico, mas custa menos da metade do RT-PCR, o mais utilizado no mercado, cujo resultado leva até seis horas.

E um investidor que poderá ganhar com o sucesso do laboratório em tempos de crise é a Funcef, entidade de previdência complementar fechada da Caixa.

Com cerca de R$ 70 bilhões de patrimônio e quase 140 mil segurados, o fundo de pensão investiu R$ 30 milhões em 2012 por uma participação de 17% no então recém-constituído FIP BBI Financial, um Fundo de Investimento em Participações da gestora de private equity e venture capital Fin Health.

O fundo tem como foco empresas emergentes inovadoras na área da saúde e comprou parte do capital da Mendelics ao fim de 2014.

Retorno de quase 30% ao ano

Com um horizonte de investimento de dez anos, a expectativa é que o FIP possa começar a entregar o retorno para a Funcef e outros acionistas em 2022, com a venda de empresas do portfólio para remunerar o capital aportado pelos investidores.

Segundo Andréa Videira, diretora de participações societárias e imobiliárias da Funcef, o ganho projetado com o fundo é de 27% ao ano.

O resultado considera um desinvestimento hipotético pelo valor registrado na carteira na última atualização de fevereiro e poderá variar, para cima ou para baixo, conforme o momento de mercado e o humor dos investidores.

Caso 2022 se mostre desfavorável para o desinvestimento, o gestor, em conjunto com os cotistas, poderá optar pela postergação das vendas, diz João Paulo Baptista, presidente da Fin Health.

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Por apostar em negócios ainda em seu estágio inicial, às vezes em fase pré-operacional, os FIPs oferecem alta expectativa de retorno, com risco igualmente elevado. Em troca, o investidor precisa abrir mão da liquidez e esperar alguns bons anos até o negócio maturar.

Devido a essas características, o veículo de investimento é uma das opções mais arrojadas na prateleira das corretoras, de acesso restrito – a aplicação começa em R$ 100 mil –, sendo destinada somente aos investidores qualificados (com pelo menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras) ou profissionais (com R$ 10 milhões).

Pela barreira de entrada, quem costuma apostar nesses veículos são justamente os investidores institucionais, como fundos de pensão.

A carteira de FIPs representa aproximadamente 1,8% do patrimônio da Funcef, ou cerca de R$ 1,26 bilhão. A expectativa da dirigente é que o segmento galgue espaço dentro do portfólio nos próximos anos.

Cadeia de suprimentos

Com o surgimento do coronavírus e o repentino e exponencial aumento de demanda por serviços e produtos relacionados ao setor de saúde, as cinco empresas na carteira do FIP – Mendelics, Timpel, Lifemed, Biozeus e Placi – se viram no epicentro da crise, trabalhando no enfrentamento da doença em diversas frentes.

A Timpel, por exemplo, produz um tomógrafo portátil de baixo custo, fruto de pesquisa desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP). O equipamento está sendo utilizado no tratamento de pacientes com a Covid-19 no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa.

Segundo o presidente da Fin Health, entre as estratégias no radar para os desinvestimentos previstos para os próximos anos, está a abertura de capital na Bolsa. A Lifemed, que desenvolve produtos e equipamentos médicos e hospitalares, foi listada em janeiro no Bovespa Mais, o segmento de acesso da Bolsa.

A volta dos que não foram

Embora o BBI Financial se desenhe um case de sucesso, o fundo de pensão da Caixa ainda tem de lidar com resquícios de investimentos problemáticos em FIPs, realizados por gestões anteriores.

Entre os casos mais conhecidos está o fundo Sondas, da empresa em recuperação judicial Sete Brasil, criada após a descoberta do pré-sal, em 2006, para construir sondas de perfuração.

O investimento é investigado pela Força Tarefa Greenfield, do Ministério Público Federal (MPF), instaurada em 2016 para investigar desvios em fundos de pensão.

Em janeiro, o MPF denunciou 29 ex-dirigentes da Funcef e dos fundos de pensão do Banco do Brasil, da Petrobras e da Vale, acusados de gestão temerária pelo investimento no FIP Sondas.

Cálculos da força tarefa indicam um prejuízo de R$ 5,5 bilhões aos fundos de pensão pelo investimento na Sete Brasil.

Em maio, nova denúncia contra três ex-dirigentes da Funcef, além de executivos da Odebrecht Ambiental e da Voga Empreendimentos. Nesse caso, a investigação do MPF indica um prejuízo de R$ 48 milhões à fundação, por aportes irregulares no FIP Operações Industriais entre 2012 a 2014.

Diante desse histórico, os investimentos alternativos se tornaram palavra proibida no setor dos fundos de pensão nos últimos anos.

No entanto, com a Selic a 2,25% ao ano, a busca por risco é inevitável para a fundação que quiser seguir solvente para honrar os benefícios previdenciários. Por isso, além dos investimentos líquidos em ações ou renda fixa, até o investimento ilíquido em FIP volta a ser avaliado pela Funcef.

“Ocorreram problemas no passado, mas, na minha visão, é um ativo que não deveria ser descartado”, afirma a diretora de participações societárias e imobiliária, ressaltando o beneficio da diversificação que o investimento traz ao portfólio.

Há discussões em curso no fundo de pensão para avaliar como retomar o investimento em FIPs, diz Andréa. “Estamos criando novos processos e metodologias, fortalecendo a governança”, afirma a dirigente, ressaltando que novos investimentos na classe ainda não foram feitos.

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