Ibovespa sobe e dólar cai depois de Bolsonaro assegurar apoio a Guedes e teto de gastos
agosto 18, 2020SÃO PAULO – O Ibovespa opera em expressiva alta nesta terça-feira (18) após o presidente Jair Bolsonaro reforçar seu apoio ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Bolsonaro disse que a saída de Guedes jamais foi cogitada e que a possibilidade do governo furar o teto de gastos é nula. Ontem, o risco fiscal e os rumores sobre a possível saída de Guedes do governo ajudaram a fazer a Bolsa perder os 100 mil pontos e o dólar a bater R$ 5,50.
No exterior, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aumentou as restrições contra a Huawei, tornando mais difícil para a empresa acessar componentes essenciais como microchips. Trump já havia assinado na última sexta-feira uma ordem executiva para a Bytedance, dona do aplicativo TikTok, vender suas operações no país. No fim de semana, as reuniões entre representantes dos EUA e da China para tratar do acordo comercial foram adiadas devido às tensões entre os dois países por conta de questões ligadas a tecnologias sensíveis.
Entretanto, o dia também é de alta para os futuros dos índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq. Isso porque Wall Street está de olho nos resultados do Walmart, que reportou lucro e receita acima das projeções dos analistas no segundo trimestre, e do Home Depot, que também superou as expectativas em suas demonstrações financeiras.
Às 10h13 (horário de Brasília) o Ibovespa subia 1,70%, aos 101.285 pontos.
Enquanto isso, o dólar comercial cai 1,25% a R$ 5,4258 na compra e a R$ 5,427 na venda. O dólar futuro para setembro tinha perdas de 1,32%, a R$ 5,439.
No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 opera com perdas de nove pontos-base, a 2,72%, o DI para janeiro de 2023 perde 13 pontos, a 3,90% e o DI para janeiro de 2025 recua 21 pontos-base a 5,72%.
Entre as commodities, o minério de ferro superou os US$ 120 por tonelada, mas o petróleo cai e o barril do Brent opera em desvalorização de 0,35% a US$ 45,21 com correção depois da alta de ontem, calcada na expectativa pela reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+) que ocorre amanhã.
De olho no teto de gastos
No Brasil, o foco continua a ser o noticiário político-econômico. O mercado teme que o presidente Jair Bolsonaro aumente os gastos do governo, degradando ainda mais o cenário fiscal.
A crise na pasta da economia é um dos pontos que chama atenção. Ontem, mais um membro do Ministério da Economia deixou o cargo. Foi a vez do subsecretário de Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles.
A informação foi publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (17), com data retroativa de 13 de agosto. Trata-se da oitava baixa no time econômico desde o início do governo Jair Bolsonaro.
A nova baixa na pasta ocorre menos de uma semana após os secretários especiais Salim Mattar (Desestatização, Desinvestimento e Mercados) e Paulo Uebel (Desburocratização, Gestão e Governo Digital) pedirem demissão.
Na imprensa, foi publicado que Bolsonaro já considera demitir Guedes e o principal cotado para substituí-lo seria o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Netto.
Ontem, Guedes disse ter a confiança do presidente e afirmou ter feito alertas sobre a necessidade de cumprir a lei ao avaliar novas despesas públicas.
Depois de reuniões para discutir medidas para liberar recursos do Orçamento, ele disse que é difícil que alguém fique “à vontade” no cargo de ministro da Economia.
“Existe muita confiança do presidente em mim e muita confiança minha no presidente”, disse, ao ser perguntado sobre sua situação no posto. “À vontade nesse cargo, eu acho difícil você encontrar alguém que vai estar sempre à vontade, é um cargo difícil”.
Ele não mencionou nomes, mas destacou que é natural haver pressão de ministros para maiores gastos e investimentos públicos. De acordo com Guedes, a equipe econômica está estudando o que poderá ser remanejado de recursos orçamentários para fazer mais investimentos.
Já o presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem à noite, em entrevista à CNN Brasil, que a saída de Paulo Guedes nunca foi cogitada. Bolsonaro também disse que a possibilidade de furar o teto de gastos é zero: “o governo tem prioridade na questão da responsabilidade fiscal e irá procurar recursos, pois há várias alternativas como privatizações e possibilidade de remanejamento de recursos de fundos”.
“As falas reforçam a visão de que Guedes não está de saída imediata, mas não encerram as disputas no governo. Ainda falta resolver como viabilizar os R$ 5 bilhões para agora – o que o próprio Guedes admite ser uma decisão de Bolsonaro – , e como solucionar o aperto do orçamento de 2021. O que moveu as tensões até agora foi a disputa por esses recursos. Enquanto ela não estiver solucionada, as oscilações na relação da dupla também existirão”, destaca a XP Política.
Aprovação em alta
Apesar dos temores do mercado sobre a equipe econômica, a aprovação do presidente está em alta.
Em agosto, ele teve o maior salto em seus níveis de aprovação desde o início de sua gestão e se aproxima da melhor marca do mandato, amparado por um aumento do apoio dos eleitores com renda de até 5 salários mínimos. Foi o que mostrou a nova rodada da pesquisa XP/Ipespe, realizada entre os dias 13 e 15 e divulgada ontem.
De acordo com a pesquisa, 37% dos eleitores consideram a atual gestão como ótima ou boa – o que corresponde a uma alta de 7 pontos percentuais em relação a julho e um salto de 12 pontos em comparação com a pior marca, registrada em maio. Com isso, o presidente repete desempenho de seu terceiro mês de mandato.
Ao mesmo tempo, o governo do presidente prevê cortar o orçamento do Ministério da Saúde para R$ 125,75 bilhões em 2021, em meio à pandemia de covid-19.
Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o valor é menor do que o aprovado para o começo deste ano (R$ 134,7 bilhões) e do que o limite atual de gastos da pasta (R$ 174,84 bilhões, alcançado após liberação de créditos para enfrentar a crise sanitária).
Radar corporativo
No noticiário corporativo, destaque para os resultados do Magazine Luiza, divulgados na noite de ontem. No segundo trimestre, a empresa reverteu um lucro líquido ajustado de R$ 85,2 milhões registrado no segundo trimestre de 2019 em um prejuízo líquido ajustado de R$ 62,2 milhões no mesmo período deste ano.
Apesar do dado aparentemente negativo, o prejuízo ficou abaixo da mediana da estimativa compilada pelo consenso Bloomberg, de R$ 127,8 milhões (com variação nas expectativas entre dado negativo de R$ 122 milhões e R$ 136 milhões).
A receita líquida da companhia, por sua vez, teve alta de 29%, atingindo R$ 5,57 bilhões e também ficando acima do esperado, que era de R$ 5,02 bilhões.
O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) teve queda de 62% entre abril e junho na comparação anual, enquanto a margem Ebitda (Ebitda/receita líquida) passou de 8,8% para 2,6% na comparação ano a ano.
Já a Petrobras informou o início da oferta de troca de títulos não registrados emitidos em 18 de setembro de 2010 por títulos registrados na Securities and Exchange Commision (SEC, a CVM americana) de sua subsidiária integral Petrobras Global Finance.
Já a fabricante de softwares de gestão Totvs ameaçou nesta segunda-feira ir à Justiça contra os termos da proposta de compra da Linx pela empresa de meio de pagamento StoneCo. A Totvs também tem interesse na empresa de software.
A Stone anunciou na semana passada acordo vinculante para unir sua área de software com a Linx, numa transação em dinheiro e ações que avalia a produtora de programas para varejo em R$ 6,4 bilhões.
Um dos pontos polêmicos da proposta é uma multa em caso de fracasso do negócio. A Stone deve pagar R$ 605 milhões de reais para a Linx, caso o Cade não aprove a transação, mas a Linx teria que pagar a multa se aceitasse uma proposta concorrente. Também está previsto punição se a assembleia da Linx não aprovar o negócio.
“Reafirma, assim, a Totvs, a sua intenção de, se concluída a transação objeto da sua proposta, questionar, pelos meios legais cabíveis, a legalidade do referido ônus e a lesão ao interesse e à soberania dos acionistas da Linx”, disse, em comunicado, a Totvs.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu investigação sobre a transação anunciada, enquanto investidores criticaram os termos da oferta da Stone por oferecer termos diferenciados a executivos da Linx, o que configuraria conflito de interesses.
E em meio a um processo bilionário de recuperação judicial e da venda de ativos, a Oi espera captar R$ 2 bilhões para a expansão de sua rede de fibra ótica, segundo reportagem do jornal “O Estado de São Paulo”.
Essa operação deve ser feita no máximo até o início do ano que vem, segundo a reportagem, que deve ter os ativos da área de fibra ótica como garantia.
A captação só será feita, no entanto, se os credores aprovarem, em assembleia prevista para o dia 8 de setembro, as mudanças propostas pela direção da Oi no plano de recuperação judicial.