Guedes e Marinho selam trégua com plano mais enxuto de obras para recuperação da economia
junho 18, 2020Após desavenças em torno da proposta de aumento dos investimentos com recursos públicos na fase pós-pandemia, os ministros da Economia, Paulo Guedes, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, selaram uma trégua e acertaram um plano mais enxuto de obras para ajudar na recuperação da economia sem inviabilizar o ajuste fiscal.
Os dois discutiram o assunto na última quarta-feira, dia 10, na primeira conversa que tiveram desde 22 de abril, quando se desentenderam após a apresentação do chamado Plano Pró-Brasil. Na ocasião, Marinho defendeu o aumento de gastos do governo para financiar investimentos, e Guedes o acusou de atrapalhar a atuação do Banco Central na crise e na política de juros diante da reação negativa do mercado, que temia afrouxamento do ajuste nas contas.
Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a conversa serviu para “abaixar a temperatura” entre os dois ministros e acalmar os ânimos. Interlocutores afirmam que Marinho redimensionou seu programa e agora “está alinhado” à orientação da equipe econômica. Ao mesmo tempo, Guedes estendeu a bandeira branca e deu sinais favoráveis ao plano do ministro do Desenvolvimento Regional.
Mais enxuta
As iniciativas do MDR devem envolver a aplicação de R$ 16 bilhões em três anos – bem menos que o plano inicial da pasta, que demandaria o dobro desse valor (R$ 33 bilhões) apenas em 2020. Os números ainda podem sofrer ajustes, mas o importante, segundo uma fonte, é o acerto para que a parcela do plano bancada com recursos públicos seja mais enxuta.
A previsão de recursos deve contemplar o novo programa habitacional que substituirá o Minha Casa, Minha Vida. Como antecipou o Estadão/Broadcast, o chamado “Casa Verde Amarela” deve focar num amplo esforço de regularização e titularização fundiária. A ideia de Marinho é mapear casas que já existem em áreas que sejam regularizáveis para conceder o título da propriedade e do terreno, juntamente com uma verba para reformas e melhorias que sejam necessárias. A pasta está fechando os últimos detalhes para o anúncio.
O anúncio do Plano Pró-Brasil em abril, feito pelas alas militar e política do governo sem a presença da equipe econômica, repercutiu mal no mercado financeiro à época porque soou como um abandono do compromisso com o ajuste das contas públicas. A área econômica viu a iniciativa como uma “bomba fiscal” e chegou a apelidar o programa de “Dilma 3” por prever a ampliação dos gastos para a retomada econômica por meio de obras em infraestrutura.
Guedes teceu críticas públicas a esse modelo e, sem mencionar nomes, chegou a comparar o desejo de colegas de ampliar investimentos públicos a uma tentativa de “bater a carteira” do governo em meio à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.
Centrão
Na equipe econômica, a avaliação é de que Marinho tentou atuar como um “pé de cabra” do Centrão, bloco de partidos que agora dá sustentação política ao governo Jair Bolsonaro e já manifestou desejo por um governo mais “gastador”, mas a estratégia deu errado.
O próprio ministro Paulo Guedes tem intensificado a interlocução com lideranças do Centrão e teve, na semana passada, uma reunião com o deputado Arthur Lira (PP-AL) e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), dois caciques do PP, uma das principais legendas do bloco. O encontro foi uma “conversa política” para tentar “aproximar” os políticos da visão da área econômica.
Nessas conversas, segundo interlocutores do ministro, os líderes têm demonstrado posições “moderadas”. A avaliação na equipe econômica é de que os parlamentares estão conscientes de que não é o momento de pôr lenha na fogueira dos gastos, e há a expectativa de que o bloco seja um importante pilar de sustentação na articulação pelas reformas no período pós-pandemia.