Geraldo Rufino: o ex-catador de latinhas que criou uma das maiores empresas de reciclagem de caminhões

Geraldo Rufino: o ex-catador de latinhas que criou uma das maiores empresas de reciclagem de caminhões

agosto 29, 2020 Off Por Today Newsroom

Geraldo Rufino
Nome completo: Geraldo Rufino
Ocupação: Empresário e palestrante
Local de Nascimento: Campos Altos, Minas Gerais
Data de Nascimento: 21 de novembro de 1958

Quem é Geraldo Rufino

Geraldo Rufino teve um começo de vida muito comum entre as crianças brasileiras.

Nascido em Minas Gerais, ele passou a infância na Favela do Sapé, em São Paulo. Perdeu a mãe aos sete anos de idade. Com sete irmãos (por parte de mãe – pelo lado paterno, ele diz não ter certeza quantos são), começou a trabalhar com oito anos, ensacando carvão em uma fábrica. Saiu de lá para virar catador de latinhas em um lixão.

Depois de perder todas as economias que juntou recolhendo e vendendo as latinhas, ele e os irmãos foram criativos para conseguir mais dinheiro: montaram carrinhos e os alugavam para outras crianças trabalharem como carregadores em feiras livres, criaram um cinema dentro de casa e cobravam ingresso para outras crianças assistirem televisão e até montaram um campinho de futebol, que alugavam junto com a bola e os uniformes.

Aos 13 anos, arrumou um emprego como office boy, com a condição de ele voltasse a estudar. Em alguns anos, conseguiu comprar o primeiro carro: um Fusca.

Mais tarde, comprou uma Kombi para que um dos irmãos pudesse ganhar dinheiro fazendo carretos. Com o negócio de carretagem prosperando, os irmãos aumentaram a frota. Mas, então, veio a tragédia: perderam tudo em um acidente.

Com os veículos destruídos e sem seguro, a solução foi desmontar o que havia sobrado para vender as peças. Desse acidente, surgiu a JR Diesel, a maior recicladora de veículos do Brasil.

Família e formação

Nascido em Campos Altos, em Minas Gerais, Rufino nasceu em um parto complicado. Por conta disso, sua moleira demorou a se fechar – o que, como consequência, o salvou das surras que os irmãos costumavam levar.

Depois que uma geada queimou a lavoura de café dos pais, a família mudou-se para São Paulo. Rufino tinha quatro anos de idade.

A família desceu na Estação da Luz e foram para a casa da tia, que ofereceu um espaço nos fundos do terreno. As irmãs mais velhas de Rufino foram trabalhar como empregadas domésticas e dormiam no serviço. Já o pai encontrou um emprego como servente de pedreiro.

Rufino, o caçula, e José, seu irmão dois anos mais velho, acompanhavam a mãe no serviço de diarista e na ronda que ela fazia por feiras, na “hora da xepa”, e no Ceasa para pegar a comida que sobrava. O trio sempre trazia para casa mais que o necessário, para poder dividir com os vizinhos.

A primeira casa da qual Rufino se lembra era um barraco de madeira em uma favela: a construção simples, cheia de frestas, não segurava a entrada do sol todas as manhãs. Muito religiosa, sua mãe dizia que aquela luz era divina, mostrando que todos haviam ganhado mais um dia de vida.

Assim, o pequeno Geraldo Rufino cresceu agradecendo por cada dia, um hábito que ele garante carregar até hoje.

Apesar de sua mãe ter morrido quando ele tinha sete anos, Rufino se refere a ela como seu grande exemplo e costuma citar muitas das lições que aprendeu no pouco tempo em que conviveram.

Quando sua mãe morreu, seu pai preferiu se mudar para outra casa. Rufino foi morar com ele e começou a trabalhar, aos oito anos, em uma fábrica de carvão, como ensacador. “A gente abastecia meu pai de dinheiro, e ele gastava com a mulherada”, disse.

Após ver outras crianças usando chinelos melhores que os dele, perguntou a elas onde tinham arrumado os calçados. “No lixão”, foi a resposta. Rufino resolveu deixar o trabalho na carvoaria, indo para o aterro em busca de comida, latinhas para reciclar e um par de chinelos. Mas seus dias mais felizes eram aqueles em que encontrava brinquedos ou potes de sorvetes vencidos.

Rufino trabalhou no lixão dos nove aos onze anos, ao lado do irmão José. Lá, iniciaram uma espécie de negócio familiar. A dupla juntava todas as latinhas que encontravam e uma de suas irmãs as vendia para um depósito.

Sem acesso a bancos, a “poupança” dos irmãos era colocar o dinheiro arrecadado dentro de latas de leite, enterrando-as em um terreno baldio. Um dia, Rufino e José perceberam que o terreno havia sido limpo: “Tinha passado uma máquina e levado tudo: latinha e dinheiro”, relembra o empresário. Para Rufino, essa foi a primeira vez que ele “quebrou”.

Sem a “poupança”, Rufino e seus irmãos usaram a criatividade para conseguir dinheiro. Eles montaram um cinema dentro da casa da família, oferecendo arroz doce e pipoca para as crianças que pagassem ingresso para assistir à Sessão da Tarde. Os irmãos também montaram um bar para o pai, uma barraca de frutas, um campo de futebol de aluguel e uma “frota” de carrinhos de madeira, que eram alugados para outras crianças fazerem carreto em feiras.

Os Rufino conseguiram juntar dinheiro outra vez e ainda o guardava em latinhas de leite. Mas, dessa vez, a pequena fortuna foi escondida no assoalho do boteco da família. E ela ainda tinha um “segurança particular”: Rufino passou a dormir em cima do lugar o dinheiro estava enterrado.

Mas Rufino por uma segunda vez. No terceiro casamento, seu pai (que se casaria dez vezes, no total), precisou tomar emprestado o dinheiro dos filhos. O jeito foi começar outra vez, agora como office boy. Mas a condição para conseguir o novo emprego foi que ele voltasse para a escola.

Trabalhando na empresa que viria a ser o Playcenter, com 16 anos, Rufino conseguiu comprar seu primeiro carro, um Fusca. Muitos outros “veículos” viriam depois, como os carrinhos de pipoca do Playcenter que Rufino supervisionou. Mas uma Kombi foi o mais emblemático deles.

Em 1984, com seu irmão José passando por graves problemas financeiros, Rufino comprou o veículo e o emprestou para que o irmão fizesse carretos e excursões. Pouco tempo depois, com o lucro gerado pelo negócio, os irmãos compraram uma segunda Kombi.

O passo seguinte foi a compra de caminhões caçamba para transportar material de construção, expandindo a frota para um total de cinco veículos.

Paralelamente ao novo negócio, Rufino assumiu mais responsabilidades no Playcenter. Ele se tornou um dos gerentes da área de fliperamas e jogos eletrônicos da companhia, dona da marca Playland, com unidades espalhadas por shoppings de São Paulo e da Bahia.

Negócio por acidente

Em 1985, os caminhões dos irmãos se envolveram em um acidente. Sem seguro e sem dinheiro, os Rufino desmontaram os veículos para vender as peças e honrar os pagamentos do financiamento. Desse infortúnio, surgiu a JR Diesel, uma desmontadora e recicladora de veículos.

Apesar de o negócio ter decolado, seus irmãos acabaram perdendo o foco, investido em terrenos e agropecuária. Resultado: quebraram mais uma vez. Rufino, que manteve o emprego como gerente do Playcenter, decidiu pedir uma licença para colocar a empresa familiar em ordem.

Em 1987, aos 29 anos, Rufino deixaria o cargo de diretor da rede Playland para se dedicar exclusivamente ao seu próprio negócio. A estratégia se mostraria acertada.

Na década de 1990, a JR Diesel começou a crescer, aprimorando as técnicas de rastreabilidade. A organização da empresa também ajudaria a atrair um novo tipo de cliente, os frotistas. O sucesso no relacionamento com eles gerou novas oportunidades para a empresa, como a compra de grandes lotes de renovação de frota dos seus clientes e a posterior venda dos veículos no atacado.

Com a venda de seminovos decolando, uma montadora de caminhões internacional ofereceu a concessão de São Paulo, Santos e Vale do Ribeira para venda de seus veículos à JR Diesel, que topou a parceria. Rufino criou então a JR Veículos. Mas a empresa durou pouco. Em 2003, a montadora parceira deixou o Brasil por questões internas, sem honrar as entregas e garantias combinadas. Acabava também a curta vida da JR Veículos e a atividade de venda de caminhões da JR Diesel.

Com a falência, Rufino perdeu os R$ 8 milhões que havia investido na nova empresa e ainda assumiu uma dívida de R$ 16 milhões. Era o momento de colocar a família para trabalhar e ajudar a reerguer o negócio.

Família e filantropia

Rufino é casado com Marlene, com quem teve três filhos. Quando o negócio com os sócios estrangeiros azedou, foi a família que ajudou a recuperar o negócio.

Dadas as devidas proporções, os filhos de Rufino seguiram o exemplo do pai, começando a trabalhar desde cedo, no pátio da empresa, como lavadores de caminhões e peças.

Arthur Rufino, o primogênito, entrou na JR Diesel aos 16 anos. Dois anos mais novo, seu irmão Guilherme o acompanhou. Não que o ambiente da empresa fosse novidade para eles: desde os nove anos, os meninos já acompanhavam o pai na empresa. Marlene já trabalhava como diretora administrativa – cargo que ocupa até hoje – e cuidava dos departamentos financeiro e pessoal.

Cada um dos filhos trouxe novidades para a companhia. Ativista e focado em inovação, Arthur viajou por nove países para entender como funciona o modelo de negócio de desmanche em outros mercados. Em 2013, ele se envolveu pessoalmente na articulação com as principais entidades do setor para regularizar a atividade do desmanche de veículos.

A Lei do Desmanche entraria em vigor no ano seguinte. Desde então, todos os desmanches legalizados precisam ter um cadastro no Detran, além de manter registro das peças vendidas e licenças ambientais. “Quero tornar o roubo de veículos insignificante no país”, repete Arthur, que, hoje, ocupa o cargo de CEO da empresa.

Guilherme, por sua vez, saiu da JR Diesel para cuidar das carreiras paralelas do pai: escritor e palestrante. Geraldo Rufino já escreveu dois livros e deu mais de 300 palestras pelo país. Seu filho mais novo é o CEO da agência de marketing digital por trás disso. Além do pai, Guilherme representa outras personalidades em sua agência, que trabalha na produção de conteúdo, administração de redes sociais, gestão de carreira e assessoria de imprensa.

Com a família trabalhando unida, em dez anos a JR Diesel foi da concordata à liderança no setor. Atualmente, a empresa fatura R$ 50 milhões por ano. “Eu recolhia latinha e, hoje, tenho a maior empresa de peças seminovas da América Latina. Só mudou o tamanho da lata”, disse Rufino, em uma de suas muitas palestras.

Para saber mais

  • O catador de sonhos – Geraldo Rufino
  • Poder da positividade – Geraldo Rufino

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