Fleury vê lucro cair 36,6% no 1º trimestre, e CEO aposta em tecnologia para vencer crise

Fleury vê lucro cair 36,6% no 1º trimestre, e CEO aposta em tecnologia para vencer crise

maio 15, 2020 Off Por Today Newsroom

SÃO PAULO — Um dos principais grupos da área de saúde no país, o Fleury (FLRY3) observou uma queda de 36,6% em seu lucro líquido no primeiro trimestre de 2020, ante igual período do ano passado, para R$ 58,7 milhões.

A companhia conseguiu registrar uma alta modesta nas receitas, mas a geração operacional de caixa não escapou de ser prejudicada pela crise causada pela Covid-19, que diminuiu a demanda por exames diagnósticos de outras doenças.

A receita líquida do Fleury ficou em R$ 713,9 milhões, uma alta de 1,9% sobre o valor visto um ano antes. Já a receita bruta cresceu 1,7% no mesmo período, para R$ 770,6 milhões.

Enquanto isso, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do grupo registrou uma queda de 16,7% na comparação anual, para R$ 195,9 milhões.

Assim, a margem Ebitda (relação percentual entre receita líquida e a geração operacional de caixa, o Ebitda) fechou março em 27,4% — no primeiro trimestre de 2019, estava em 33,6%.

Em entrevista ao InfoMoney, o diretor financeiro (CFO) do Fleury, Fernando Leão, disse que, apesar do aumento modesto das receitas consolidadas, houve um avanço mais expressivo em algumas linhas específicas, como no atendimento móvel, que cresceu 21% de um ano para o outro.

“Antes da pandemia de coronavírus, a gente estava com uma estrutura de custos e despesas preparada para o cenário de forte ascensão. De repente, a crise gerou uma queda muito abrupta na demanda por nossos serviços”, explicou.

Exatamente por causa do cenário de crescimento que vinha vislumbrando que a companhia aumentou seu endividamento em dezembro de 2019 ao fazer uma captação para gerar caixa. Em março e abril, foram feitas novas captações, dessa vez para reforçar a estrutura financeira do grupo no enfrentamento da crise.

Assim, a dívida líquida do Fleury terminou março em 888,6 milhões, aumento de 67,7% em relação ao primeiro trimestre de 2019. Já a dívida bruta do grupo ficou em R$ 1,692 bilhão, o que representa uma alta de 49,5% sobre o valor visto um ano antes.

Com o aumento da dívida, a relação entre dívida líquida e Ebitda subiu para 1,1x, ainda dentro de um patamar considerado confortável financeiramente por analistas, mas acima do nível de 2019: 0,7x.

Os investimentos (Capex) foram no sentido oposto, e caíram. Nos primeiros três meses deste ano, eles foram de R$ 40,7 milhões, ou 15,3% menores do que os R$ 48,1 milhões investidos no mesmo período de 2019.

Segundo o CFO do grupo, investimentos menores e mais assertivos serão a tendência de 2020. A ideia do Fleury é focar as iniciativas no que mais importa em um cenário de pandemia em que as pessoas estão se locomovendo menos: na tecnologia.

“Apesar de a gente prever um investimento mais baixo em 2020, existe uma virada importante na natureza desse investimento. Todas as iniciativas de desenvolvimento de plataformas digitais estão sendo priorizadas, enquanto os investimentos em manutenção e expansão ficaram em segundo plano, por ora”, disse Leão.

O executivo afirmou que o caixa atual do Fleury é confortável para a empresa atravessar a crise. “A companhia está muito sólida do ponto de vista de liquidez. Estamos confortáveis com a posição de caixa atual para enfrentar esse momento”, concluiu.

Crescimento digital

Para o CEO do Fleury, Carlos Marinelli, a decisão de investir em tecnologia que foi tomada pelo grupo no passado não poderia ter sido mais assertiva — e o momento atual comprova isso.

Ao InfoMoney, Marinelli disse que espera uma retomada da demanda tão forte quanto antes no pós-pandemia, ou até antes, uma vez que as pessoas continuam desenvolvendo outras doenças além da Covid-19 que demandam exames diagnósticos em qualquer cenário.

“As pessoas vão precisar dos nossos serviços em algum momento, e estaremos prontos para atendê-los quando essa hora chegar”, disse. “Estamos numa nova realidade global, de Low Touch Economy [economia baseada em menor contato físico], por isso é importante desenvolver nossas plataformas digitais.”

Ele citou notícias recentes de que só no mês de abril, deixaram de ser diagnosticados no país 50 mil casos oncológicos, de câncer. “O aumento de casos de outras doenças é uma tendência que não deixa de existir por causa da Covid-19”, disse.

“Temos que oferecer tecnologias, como a telemedicina, em que as pessoas possam se consultar online, ter apoio digital e ir até uma de nossas unidades já com o check-in feito, evitando contato desnecessário. Uma vez que estiver ali, a pessoa verá que nossas unidades não oferecem risco e estão preparadas para o momento atual.”

O executivo disse que hoje 18% dos pacientes que vão fazer exames nas redes do grupo já chegam com o check-in feito em uma plataforma digital. “É o que vemos para o futuro do Fleury: medicina de excelência, personalizada e entregue em larga escala com as novas ferramentas tecnológicas. Estamos sendo líder na revolução digital da área da saúde.”

O Fleury lançou em abril a plataforma “Cuidar Digital”, que permite que médicos de qualquer parte do país possam realizar consultas à distância com pacientes sem pagar por isso. Não é preciso estar ligado ao grupo Fleury para utilizar a ferramenta aberta de telemedicina.

Sobre a Covid-19, o grupo já tem disponível para quem quiser pagar o teste diagnóstico da doença, tanto o PCR quanto a sorologia. Está disponível o modelo drive thru, no qual a pessoa faz o agendamento e o pagamento do teste online e vai até o local para colher o material sem precisar sair do carro, se protegendo contra o vírus.

Segundo Marinelli, o grupo conseguiu importar o material necessário para o diagnóstico da Covid-19 em grande quantidade e por uma taxa de dólar mais acessível do que a que está sendo praticada agora. “Estamos inclusive atendendo demandas de novos clientes, como condomínios, compensando em partes o menor movimento de exames eletivos nas nossas unidades.”

Quanto ao atual preço das ações do grupo Fleury na Bolsa brasileira, de R$ 20,83 nesta quinta-feira (14) — queda de 31,5% no ano —, Marinelli disse que parte reflete uma perspectiva macroeconômica negativa para o Brasil com a pandemia. “Temos que olhar para o longo prazo, e no longo prazo temos um potencial de crescimento enorme.”

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