Estudo vê países emergentes ainda mais fragilizados

Estudo vê países emergentes ainda mais fragilizados

maio 2, 2020 Off Por Today Newsroom

Impulsionada pela força da economia chinesa na crise de 2009, a maioria dos países emergentes não vai conseguir escapar da recessão desta vez. Enquanto, na crise financeira, 38% dessas economias viram seu Produto Interno Bruto (PIB) recuar, em 2020, deverão ser 75%, segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Há 11 anos, com a propulsão da China, os emergentes, juntos, conseguiram inclusive ter uma alta de 2,8% no PIB. Para este ano, no entanto, a projeção é de retração de 1,1%. “Quem puxou essas economias em 2008 e 2009 foi a China, que agora está no centro da crise. Ainda que ela cresça 1% ou 2% (a estimativa do FMI é de 1,2%), é um baque muito grande”, diz o economista Marcel Balassiano, responsável pelo levantamento. Em 2009, o país avançou 9,4%, criando demanda por commodities e beneficiando economias como a brasileira.

Mesmo que seu PIB aumente neste ano, a China não tem mais o mesmo potencial para impulsionar tantos países, dado que seu modelo econômico também vem mudando em direção ao consumo doméstico, e não mais em investimentos em infraestrutura. “O consumo interno ganhou peso nos últimos anos e os chineses também devem estar inseguros agora para sair de casa, o que vai causar impactos”, diz o economista Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências.

Outra diferença que prejudica os emergentes desta vez é que esses países já não vêm crescendo de forma acelerada como nos anos 2000. Àquela época, com o ciclo de alta das commodities, os emergentes estavam mais bem posicionados para enfrentar a crise, com espaço para políticas fiscais mais agressivas.

O Brasil é justamente um dos que vai encarar mais de perto essa mudança de cenário. “O País está em uma situação pior quando se compara com a última crise global porque vem de uma recuperação fraca após uma recessão”, acrescenta Balassiano.

Em 2009, o PIB brasileiro retrocedeu 0,1%, o mesmo número da economia global. Para este ano, no entanto, o FMI projeta uma queda de 5,3% para o País, o que significará um recuo mais acentuado do que o da média global.

Situação mundial

A natureza desta crise, decorrente de uma questão de saúde, a tornará muito mais global e profunda, de acordo com o estudo do Ibre/FGV. Em todo o mundo, 80% dos países deverão sofrer uma queda no PIB neste ano — China e Índia estarão entre os poucos que terão números positivos, ainda que modestos. Em 2009, foram 47% os que registraram recuo.

“A crise atual será pior que a anterior. Se olharmos o PIB global, a queda passará de 0,1% em 2009 para 3% neste ano”, diz Marcel Balassiano.

Entre os países avançados, o alcance da crise também será maior, mostra o levantamento de Balassiano. Em 2009, 85% deles registraram retração no PIB. Neste ano, deverão ser 100%. Apesar de mais atingidas, algumas dessas economias poderão ter uma retomada mais rápida, diz o economista Álvaro Frasson, do BTG Pactual Digital. “É difícil saber como será a recuperação, mas, dado que a política monetária tem feito pouco efeito, é de se esperar que os Estados Unidos, por exemplo, se recuperem mais rápido, pois têm mais espaço para fazer política fiscal.”

Campos Neto lembra que emergentes como Brasil, México e Rússia deverão sofrer ainda com a queda do preço do petróleo. Para Fabio Silveira, economista da Macrosector, em uma hipótese otimista, sem uma segunda onda da pandemia, a recuperação global pode vir a partir do fim deste ano. “Por enquanto, o que podemos dizer com segurança é que a crise será muito mais profunda do que a de 2009.”

Silveira lembra que, enquanto em 2008 e 2009, a crise era sobretudo financeira, mas com potencial de se expandir para a economia real, hoje a situação é a inversa. “Agora, há uma paralisação na economia real que pode contaminar o lado financeiro, reeditando, na sequência, a crise de 2009.”

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