Estrangeiros impulsionam rali da Bolsa em novembro, mas continuidade do movimento depende do fiscal

Estrangeiros impulsionam rali da Bolsa em novembro, mas continuidade do movimento depende do fiscal

novembro 19, 2020 Off Por Today Newsroom

SÃO PAULO – Depois de uma maciça fuga de capital da B3 até outubro, os investidores estrangeiros voltaram e foram os grandes responsáveis pelo rali da Bolsa em novembro, injetando R$ 14,5 bilhões só na última semana, com o saldo positivo líquido de novembro já totalizando R$ 17,8 bilhões. Em novembro, o Ibovespa já sobe quase 13% apesar da queda da véspera sendo que, na terça-feira, o índice ultrapassou os 107 mil pontos, no maior patamar desde fevereiro.

Essa entrada de recursos também ajudou o dólar a se desvalorizar em 7,11% ante o real desde o início do mês, indo a R$ 5,33, de maneira complementar à sinalização do Banco Central de que pode aumentar a quantidade de swaps cambiais oferecidos para atender à alta demanda por dólares nas próximas semanas.

Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora, explica que esse retorno dos estrangeiros está ligado ao menor número de focos de incerteza no cenário internacional passadas as eleições presidenciais nos Estados Unidos.

“Não foi necessariamente a eleição do [democrata, Joe] Biden, mas em especial a inexistência de uma ‘Onda Azul’, com democratas dominando Câmara e Senado”. Se esse cenário se concretizasse, lembra Indech, poderia haver a aprovação de medidas que repercutiriam mal em Wall Street como o aumento de impostos e políticas para combater o poder de mercado das grandes empresas de tecnologia.

O estrategista comenta ainda que existem razões particulares que atraem o investidor ao Brasil neste momento.

“Ao mesmo tempo em que temos boas notícias de vacinas e eleições nos EUA, o [presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo] Maia (DEM-RJ), declarou recentemente seu interesse em pautar projetos ligados ao ajuste fiscal no fim do ano. Isso é um bom sinal depois de tanto tempo sem falarmos nas reformas”, avalia.

Para ele, a combinação das expectativas de que vacinas como a da Moderna ou a da Pfizer/BioNTech já sejam distribuídas na segunda semana de dezembro com a retomada de pautas como a reforma administrativa devem atrair o investidor que estava com menor apetite por risco e mais receio em alocar seu capital em ativos brasileiros.

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A Levante Ideias de Investimentos destaca ainda que o movimento foi ajudado pelos preços relativos. “Passada a incerteza da eleição [dos EUA] e com uma vacina viável aparentemente a caminho, fica claro que os ativos brasileiros estão muito baratos em dólar. Mesmo considerando-se uma taxa de câmbio abaixo de R$ 5,40, as ações brasileiras estão sendo negociadas a preços muito convidativos”, avalia a equipe de análise.

Contudo, Rossano Oltramari, estrategista e sócio da 051 Capital, entende que a continuidade desse movimento depende de sinais claros de que o governo não perderá o controle da questão fiscal. “Tivemos um aumento grande dos gastos públicos na pandemia. Passando o período pandêmico, os investidores vão questionar ainda mais essa responsabilidade fiscal por parte do governo”, argumenta.

Na avaliação de Rossano, a agenda de privatizações precisa andar também para que o País siga atraindo os estrangeiros. “Era uma promessa do [ministro da Economia,] Paulo Guedes, e isso tem frustrado investidores.”

Em relatório, a equipe de economistas da XP Investimentos escreve que as semanas seguintes à eleição municipal serão críticas para reforçar o compromisso com o teto de gastos e a estabilidade da dívida pública.

“A discussão sobre a [Proposta de Emenda à Constituição] PEC emergencial e eventuais medidas para expandir os programas de transferência de renda deve voltar”, afirmam.

De acordo com a XP, em um momento no qual a dívida bruta alcança 90,6% do Produto Interno Bruto (PIB), em alta de 15 pontos percentuais em relação ao final de 2019, a cautela em torno do ambiente fiscal se impõe mesmo sem um novo programa de transferência de renda no lugar do Auxílio Emergencial.

“A dinâmica das contas públicas segue o principal risco para 2021. A resistência do Ministério da Economia e a melhor perspectiva para a economia global com a vacina para a Covid-19 respaldam nosso cenário de que o teto de gastos será mantido, trazendo algum alívio no curto prazo. Nossas projeções para a relação dívida PIB estão em 94,4% para 2020 e 96,3% em 2021, considerando leve melhora diante da recuperação da arrecadação e do resultado esperado para governos regionais”, prevê a XP.

A projeção de Indech, apesar das incertezas no cenário, é otimista. Para ele, seguramente existe espaço para um segundo rali do Ibovespa. Se o primeiro rali pós crise do coronavírus foi puxado pelo investidor nacional, este novo viria em decorrência do dinheiro de quem não mora no País.

“Se passarmos projetos como a reforma administrativa com certeza podemos ver a Bolsa subindo mais graças ao dinheiro que vem de fora”, destaca.

Mais no curto prazo, outra questão que mexe com os mercados e pode levar a uma maior aversão ao risco, consequentemente afetando mais os emergentes, é a preocupação com o aumento de casos de coronavírus no mundo (incluindo no Brasil, veja mais clicando aqui). Ontem, a decisão de Nova York de fechar escolas por conta da aceleração do número de casos afetou fortemente os ativos, fazendo o Ibovespa cair 1,05%.

Enquanto os investidores ficam divididos entre o otimismo com uma vacina próxima e os temores com a segunda onda, que pode levar a novas restrições de mobilidade e afetar a atividade econômica pelo globo, a volatilidade deve ser a palavra de ordem nos mercados, como observado na sessão da última quarta.

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