Equilíbrio na vida: o olhar da neurociência sobre o feedback nas empresas

Equilíbrio na vida: o olhar da neurociência sobre o feedback nas empresas

abril 2, 2020 Off Por Today Newsroom

Por Caroline Garrafa: idealizadora do Método Exclusivo Santé e fundadora da empresa (www.sante.com.vc)

Grandes estudiosos da mente humana, como Cury1 e Goleman2  falam da necessidade de equilíbrio, na relação entre razão x emoção e entre inteligência cognitiva x emocional. Porém, o que mais vemos são pessoas falando sobre assuntos que não dominam, transformando conhecimento em lixo mental. Nunca tivemos tanta informação, mas com tão pouco aprofundamento, tantos medicamentos de última geração, para um número crescente de pessoas perturbadas (perturbadas = desequilibradas).

Não existem mais erros ou perdedores, e todos parecem merecer um prêmio de consolação. Enquanto isso, negligenciamos os vencedores e os motivos de seu sucesso.

No sistema educacional, principalmente, com seu estilo “decoreba”, se você já é bom em algo, é incentivado a ficar na média; se não for, a fazer o básico e usar sua energia em algo que você não domina. Ou seja, ninguém é incentivado a buscar a excelência.  O que, de fato, estamos criando? Seres humanos medíocres, que não são extraordinários em nada, que ficam apenas na média – daí a superficialidade dos assuntos. Quase não há aprendizagem verdadeira e, portanto, evolução. Ou seja, não temos mais ganhadores, somos todos iguais… Idealismo barato ou involução?

O sucesso é um estado de ação, e ação depende de movimento, planejamento e sustentação. Infelizmente, o que mais se vê é reação. Na Física, o fenômeno de ação e reação é uma lei, bom e vital; no cérebro, isto precisa ser melhor estudado e entendido, já que algumas pessoas, incluindo clientes e colegas, com os quais discuto esta temática,  entendem que a parte “lógica” do pensamento, a cognitiva, a que supostamente comanda, é a mais importante… Mas é realmente assim que funciona? Pelas lentes da neurociência, estamos automatizando nosso sistema da forma errada,  invertendo papéis importantes e minimizando outros por ignorância. Hoje em dia, existem “neuros” para tudo: neurocoaching, neuromarketing, neuroeconomista… muitos deles sem base sólida. Sobram “neuras”, falta ciência.

Barras3 (2015) e outros estudiosos da neurociência discorrem sobre o poderoso e tão falado pré-frontal, nome forte, imponente, e que, apesar de muito importante, não trabalha sozinho . Ao avaliarmos profundamente o sistema nervoso, precisamos falar com mais propriedade, além de desmistificar outras partes igualmente importantes do cérebro, com papéis vitais e complementares às funções do pré-frontal até então menosprezadas ou subestimadas… Lembra aquele ditado que os últimos serão os primeiros?

Quero lhes apresentar o cerebelo, termo originário do latim que significa pequeno cérebro, responsável pelo nosso equilíbrio físico. Ele está abaixo do encéfalo, especificamente na parte anterior à medula, e é responsável pela coordenação postural nos estados de repouso e atividade. Além disso, é responsável pelos reflexos e movimentos voluntários e pelo tônus muscular.

De forma geral, o cerebelo é a região do cérebro que capta os impulsos sensitivos das articulações, tendões, músculos, além  dos provenientes dos receptores  do equilíbrio e visuais. Embora sua massa ocupe apenas 10% de volume do encéfalo, o cerebelo é responsável por funções extremamente importantes em nosso corpo, como, por exemplo, coordenar as complexas sequências dos músculos esqueléticos.

Sem o cerebelo seria impossível desempenhar todas as atividades motoras que requerem habilidade, da mais simples como pegar um copo até outra mais complexa como dançar. Quer testar o desempenho de seu “pequeno cérebro”? Tente colocar as pontas dos dedos indicadores alternadamente na ponta do nariz. Conseguiu? Ufa! Sem o cerebelo seria impossível fazer isso. Ou seja, lesões no cerebelo (ataxia) implicam fraqueza e perda do tônus muscular, assim como descoordenação dos movimentos.

O consumo excessivo de álcool faz com que as pessoas apresentem sinais de ataxia, tais como alteração na fala, que ocorre pela falta de coordenação nos músculos da fala, bem como a movimentos cambaleantes, pela falta de coordenação motora. Um exemplo mais próximo: quando saímos de brinquedos de parques de diversão, o cerebelo continua em movimento para equilibrar o corpo, por isso a sensação que ainda estamos rodando, tontos. A título de curiosidade, algumas escolas americanas já estão colocando bicicletas nas mesas das salas de aula para acalmar a parte motora e dar foco na cognitiva.

No passado, acreditava-se que as funções cerebelares se restringiam a esse controle de movimentos, mesmo essa pequena estrutura tendo aproximadamente 60 bilhões de neurônios (3x mais que o córtex). Porém, estudos recentes4 mostram que sua abrangência e importância são muito maiores, estando relacionado a funções cognitivas.

Estudos anatômicos sugerem que o cerebelo pode estar ligado a áreas associativas dos hemisférios cerebrais (regiões pré-frontal5, occipito-parietal6, temporal7 e límbica8). Trabalhos com métodos funcionais mostraram ativação do cerebelo (vérnis e região posterior dos hemisférios cerebelosos) na realização de tarefas cognitivas, não relacionadas com atividades motoras. Ou seja, também está associado à aprendizagem. Crianças que tiveram privações de afeto na infância tem áreas laterais menores do cerebelo, o que influencia sua capacidade cognitiva e afetiva.

Era comum associar a parte cognitiva apenas ao córtex pré-frontal, e de fato lá está a intenção para suas ações, mas, hoje, com a evolução da neurociência, já sabemos que tem muito mais envolvido no aprendizado e cognição. Nosso cérebro funciona de maneira mais inconsciente do que consciente , ou seja,  existe todo um mecanismo para que a cognição aconteça e é o cerebelo que programa o córtex para agir sem que tenhamos a consciência real disso.

O cerebelo não faz nada sozinho, mas ajuda os outros núcleos a gerar a sequência:  é como um programador, um Sr. do tempo, pois é o pai do movimento voluntário e grande temporizador na sequência das coisas. E é por isso que é fundamental entendermos o famoso feedback para implementarmos o feedfoward, planejando as ações futuras e aperfeiçoando as repetições corretas para melhorar nosso desempenho, seja na prática de um esporte, na forma como nos comportamos, na apresentação de um musical ou em uma pesquisa científica.

Portanto, o cerebelo funciona  como um mecanismo de tentativa e erro, um grande programador responsável por automatizar os sistemas, ou seja: o caminho do erro é muito importante para o aprendizado, afinal, aprendemos mais quando erramos e identificamos que não é assim que deveria ter sido feito! Ou seja, o erro precisa ser levado em conta.

O tripé mágico do cerebelo é: Valor do Modelo / Valor do Erro / Valor do Treino.

A forma mais eficiente de aprendizado não trabalha com a perfeição e sim com a possibilidade. Apontar o que está errado é importante para a pessoa saber se sua intenção está certa e, ademais, se não sabemos em que estamos errando e repetimos o erro, afetamos diretamente o aprendizado, pois o cerebelo também automatiza esses erros. O cerebelo aprende com o erro. E como ele é o grande programador, se for “avisado” ou, melhor, receber um feedback, pode automatizar da forma correta, já pensando no feedforward do que pode ser feito diferente para acertar.

Por isso, o feedback não é essencial apenas dentro das empresas, possibilitando entender o que está errado e o que está certo para  construir feedforward e plano de ação com vistas  para o futuro, mas também para vida do indivíduo, pois não existe evolução sem aprendizado, e não existe aprendizado sem tentativa e erro!

Ou seja, o grande e importante cerebelo está associado ao equilíbrio físico, ao movimento e às funções motoras e, de quebra, faz parte do aprendizado, tema de nosso artigo de hoje. Portanto, se quiser ter uma vida equilibrada, aprofunde-se, tente, experimente, erre se necessário, tome consciência, analise o feedback, aprenda, mude se precisar, crie o feedfoward e acerte da próxima vez… praticando você se tornará cada vez melhor e vencerá. Chega de prêmios de consolação!

O cérebro quer recompensas … mas esse já é um outro capítulo. Santé!

 

Notas

1 Cury, Augusto. Treinando a emoção para ser feliz. Ed 2. São Paulo: Academia, 2014

2 Goleman, Daniel. Inteligência Emocional: A teoria revolucionária que define o que é ser inteligente.Ed 2.  Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

3 Barbas, Helen. General Cortical and Special Prefrontal Connections: Principles from Structure to Function. Neural Systems Laboratory, Department of Health Sciences; Graduate Program in Neuroscience; School of Medicine; Boston University, Boston, Massachusetts

4 Vandervert, Larry. The prominent role of the cerebellum in the learning, origin and advancement of culture. Cerebellum & Ataxias – Biomed Central

5 Pré-frontal : Localizado a partir do sulco central para a frente do cérebro. Responsável pela elaboração do pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e emoção.

6 Occipto-Parietal: A região occipatal é responsável pela sensação de dor, tato, gustação, temperatura, pressão. A região Parietal é responsável pelo processamento da informação visual. Danos nesta área promove cegueira total ou parcial.

7 Temporal: É relacionado primariamente com o sentido de audição, possibilitando o reconhecimento de tons específicos e intensidade do som. Tumor ou acidente afetando esta região provoca deficiência de audição ou surdez. Esta área também exibe um papel no processamento da memória e emoção.

8 Limbica: Area ao redor da junção do hemisfério cerebral e tronco encefálico. Aréa cerebral envolvida com aspectos do comportamento emocional e com o processamento da memória.

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