Em queda de quase 40% no ano, fundos compram ações da Via Varejo
maio 15, 2020SÃO PAULO — Em queda de quase 40% em 2020, as ações da Via Varejo (VVAR3), dona de marcas como Ponto Frio e Casas Bahia, têm chamado a atenção de alguns fundos de investimento. Mesmo em meio à pandemia de coronavírus, que mantêm fechadas as lojas físicas da companhia, alguns gestores foram às compras de VVAR3 em abril.
Um levantamento da provedora de informações financeiras Comdinheiro, feito a pedido do InfoMoney, apontou os fundos que não tinham posição em ações VVAR3 até março, mas que passaram a comprar o ativo no mês passado, diante do mergulho de 61,8% da cotação do papel no terceiro mês do ano.
Foram excluídos do levantamento os fundos fechados e exclusivos, os fundos com menos de 100 cotistas e os fundos cujas carteiras estavam ocultas (não disponíveis) no órgão regulador, seja em março ou em abril. Veja a tabela abaixo.
O fundo que montou do zero a maior posição em ativos da Via Varejo em abril foi o “Brasilprev Plus”, da BB Gestão de Recursos DTVM. No mês passado, o fundo investiu R$ 26,2 milhões em 2,85 milhões de ações da varejista — ou 3,38% do patrimônio do fundo.
Em nota enviada ao InfoMoney, a Brasilprev disse que o fundo “BRASILPREV TOP PLUS FI AÇÕES busca replicar o índice de small caps e o segmento de varejo”, e que a aplicação em ações VVAR3 em abril está de acordo com o fato de o papel integrar esse índice, além de representar uma “oportunidade, tendo em vista a desvalorização motivada pelo cenário impactado pela Covid-19.”
“É importante lembrar que essa estratégia trata-se de um FIFE, ou seja, fundo especialmente constituído para a execução de estratégias específicas dentro do processo de alocação de cotas dos planos de previdência. Ele está disposto na estrutura de FIC e não há um produto disponível pela companhia que oferte integralmente essa estratégia”, completou.
A Brasilprev disse ainda que “busca em sua gestão a melhor relação risco x retorno em seus processos de diversificação, com foco, sempre, nos ganhos de longo prazo em prol dos projetos de vida dos clientes.”
Também estão na lista dois fundos da BRAM, gestora de recursos do Bradesco. O fundo “Selection” investiu R$ 17 milhões em ações VVAR3 em abril, comprando 1,856 milhão de papéis — ou 2,90% do patrimônio do fundo.
Já o “Multi Setorial” comprou 61,8 mil ações VVAR3 em abril pelo valor total de R$ 567,3 mil — ou 2,67% do patrimônio do fundo. A assessoria de imprensa da BRAM e do Bradesco não quis comentar a alocação no ativo.
O fundo de ações da gestora Queluz completa a lista, com uma aplicação de R$ 1,854 milhão em 202 mil papéis VVAR3 em abril — ou 2,14% do patrimônio do fundo. Em contato com o InfoMoney, a gestora se limitou a dizer que sua posição nas ações é muito pequena e que segue aproveitando oportunidades.
O levantamento da Comdinheiro também levantou os fundos que já tinham ações da Via Varejo em março, mas aproveitaram o tombo dos papéis para aumentar sua exposição ao ativo em abril.
A lista também exclui fundos fechados e exclusivos, fundos com menos de 100 cotistas e os fundos cujas carteiras estavam ocultas (não disponíveis), seja em março ou em abril. Veja a tabela abaixo.
O fundo “Small Caps Ativo” da Caixa foi o que comprou a maior quantidade de VVAR3 em abril, 1,6 milhão de ações, por R$ 14,7 milhões de reais. Com isso, a posição de VVAR3 do fundo subiu para 2,427 milhões de papéis, equivalentes a R$ 20,6 milhões ou 2,34% do patrimônio do fundo.
Em segundo lugar, o multimercado “Kepler Equity Hedge”, da Safra Asset Management, investiu R$ 2,157 milhões para comprar 235 mil ações VVAR3 em abril, elevando assim sua posição no ativo para 417,104 mil papéis no final de abril, o que representa R$ 3,829 milhões ou 0,6% do patrimônio do fundo.
O fundo de ações da gestora do Banco Banrisul completou o pódio. Em abril, ele comprou 1,679 milhão de ações VVAR3, aumentando sua posição no ativo a 743,4 mil papéis, o que representa R$ 6,824 milhões ou 5,10% do patrimônio do fundo.
Números alimentam boas perspectivas
A Via Varejo divulgou nesta semana seu balanço do primeiro trimestre de 2020. Embora tenha sofrido impacto negativo das medidas de isolamento social e fechamento parcial do comércio aplicadas para combater a pandemia da Covid-19, os números foi bem avaliados por analistas e investidores — e alimentaram boas perspectivas futuras.
A varejista registrou um lucro líquido de R$ 13 milhões no período, revertendo o prejuízo de R$ 50 milhões observado um ano antes. Excluindo o impacto negativo da pandemia da Covid-19, o lucro líquido teria sido de R$ 100 milhões, segundo informou a própria companhia na quarta-feira (13) em seu balanço.
A receita líquida da varejista ficou praticamente estável na comparação anual, subindo 0,1%, para R$ 6,339 bilhões. Segundo a empresa, se não fosse o impacto da Covid-19, a receita líquida teria sido de R$ 6,948 bilhões nos três primeiros meses deste ano.
Já o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado ficou em R$ 621 milhões no primeiro trimestre de 2020, o que representa uma alta de 21,8% sobre o mesmo período do ano passado. Sem considerar o impacto negativo da Covid-19, a companhia afirmou que seu Ebitda ajustado teria sido de R$ 719 milhões no período.
Com isso, a margem Ebitda (relação percentual entre a receita líquida e a geração operacional de caixa) ajustada ficou em 9,8% nos três primeiros meses deste ano, ante 8,1% no período entre janeiro e março de 2019. Sem a Covid-19, ela teria sido de 10,3%, segundo a Via Varejo.
As vendas em lojas físicas tiveram uma queda de 7,1% na comparação anual, totalizando R$ 5,722 bilhões. Enquanto isso, as vendas online dispararam 48,6%, para R$ 1,704 bilhão. Assim, a receita bruta foi de R$ 7,426 bilhões, alta de 0,9% sobre o primeiro trimestre de 2019 — teria sido de R$ 8,034 bilhões se não fosse a Covid-19, disse a companhia.
O analista Richard Cathcart, do Bradesco BBI, aumentou o preço-alvo para os papéis VVAR3 para R$ 11, o que configura um potencial de crescimento de 21,95% sobre o preço de fechamento de ontem (R$ 9,02). A recomendação é outperform, de desempenho acima da média do mercado.
Cathcart frisou que a varejista foi uma das mais penalizadas pela crise da Covid-19 e que seus papéis foram um dos que mais perderam valor na América Latina. Entretanto, segundo ele, a companhia tem “conseguido se segurar de forma melhor do que a esperada” durante a pandemia.
“Estamos aumentando nosso preço-alvo para R$ 11, mas vemos outros fatores potencialmente direcionando as ações de volta ao pico de R$ 16 no acumulado do ano. Em primeiro lugar, ainda estamos usando um prêmio adicional de risco Covid-19 de 300 pontos-base em nosso cálculo do custo de capital”, disse.
“Se as condições do mercado permitirem, cada redução de 100 pontos-base adicionaria R$ 1 ao nosso preço-alvo. Em segundo lugar, esperamos que a Via Varejo conquiste participação de mercado de comércio eletrônico em 2020. Se as iniciativas previstas para serem entregues nos próximos 60 dias produzirem os resultados esperados pela administração, é provável que a empresa aumente sua participação de mercado nos próximos anos.”
O analista também destacou que espera que a margem Ebitda (relação percentual entre receita líquida e geração operacional de caixa, o Ebitda) da companhia atinja 7% em 2022 e 2023, o que está no meio do intervalo de guidance de 6% a 8% estabelecido pela administração da empresa no investor day mais recente, em dezembro de 2019.
“Os riscos para essas fontes de alta em nosso preço-alvo atual incluem uma recuperação mais lenta do que a esperada no consumo no pós-pandemia, uma segunda onda de infecções por Covid-19 e uma postura mais agressiva dos concorrentes”, concluiu o analista do Bradesco BBI.
O analista Gustavo Piras Oliveira, do UBS, acredita que o atual preço das ações está bem aquém do que deveria. Ele possui um preço-alvo de R$ 17 para os papéis VVAR3 em 12 meses, o que configura um potencial de valorização de 88,5% sobre o preço de fechamento de ontem.
Ele elogiou os números apresentados pela empresa no primeiro trimestre de 2020, em especial o crescimento das vendas em mesmas lojas, apesar de a receita ter tido um resultado mais fraco do que o esperado por causa da crise da Covid-19.
“Nosso preço-alvo é guiado pelo múltiplo valor da empresa sobre sua meta de vendas. Os riscos incluem a taxa de juros, o ambiente macroeconômico e os custos de financiamento e execução”, concluiu Oliveira.
Thiago Macruz, analista do Itaú BBA, tem preço-alvo de R$ 13 para as ações VVAR3, o que configura um potencial de valorização de 44,1% sobre o preço de fechamento de ontem. A recomendação é outperform, de desempenho acima da média do mercado.
“A Via Varejo apresentou receita em linha, mas Ebitda e margem Ebitda acima do esperado no primeiro trimestre de 2020. Além disso, a gerência está divulgando a capacidade da empresa de se adaptar e se reinventar quando enfrenta um cenário desafiador. A rápida transformação digital que a empresa está realizando parece claramente fortalecer o processo de recuperação”, disse.
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