Desde a última crise, volatilidade do índice de small caps da B3 é menor do que a do Ibovespa

Desde a última crise, volatilidade do índice de small caps da B3 é menor do que a do Ibovespa

julho 27, 2020 Off Por Today Newsroom

The businesswoman in glasses standing near the display
(Artem Peretiatko/ Getty Images)

SÃO PAULO — As small caps são empresas de menor porte que têm ações negociadas na Bolsa, mas com menor liquidez do que os papéis mais tradicionais, como Petrobras e Vale, por exemplo. Ou seja, por serem menos negociadas, os preços dessas ações podem sofrer oscilações maiores.

Apesar disso, o índice de small caps da B3 (SMLL) registrou uma variação média de preços menor do que a do Ibovespa desde a crise do subprime em 2008, quando houve a quebra do Lehman Brothers nos Estados Unidos — e analistas consultados pelo InfoMoney dizem que há boas oportunidades fora do radar principal do mercado.

Desde 15 de setembro de 2008, a volatilidade do SMLL foi de 25,66%, enquanto a do IBOV ficou em 28,70% no mesmo período. Os dados são da empresa de informações financeiras Economatica. Considerando apenas 2020, a volatilidade de ambos os índices está próxima — 62% do SMLL e 57,3% do IBOV.

Ao contrário da volatilidade, a diferença de performance dos dois índices foi expressiva: enquanto o SMLL teve crescimento de 202% desde a última crise, o IBOV subiu 95,4% no mesmo período. Em 2020, o primeiro cai 14,2 % e o segundo recua 10,7%.

“Na composição do Ibovespa sempre houve uma participação muito pesada de commodities e do setor financeiro. Petrobras, Vale e bancos. Alguns eventos específicos envolvendo essas companhias provocaram uma variação grande em suas ações nos últimos anos, o que pode ter influenciado na volatilidade geral do índice, como Brumadinho com a Vale, por exemplo”, disse Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Investimentos.

“Tem muitos novos investidores pessoas físicas na Bolsa e eu imagino que a maioria deles procure papéis que são mais conhecidos, das empresas maiores as quais eles conhecem. Mas é possível também olhar para o lado B do disco, fazendo uma analogia aos antigos vinis”, completou.

O especialista da Levante ressaltou que, desde a mínima do Ibovespa neste ano, em março, na casa dos 63 mil pontos, o principal índice da Bolsa brasileira já subiu cerca de 65% até chegar aos atuais 104 mil pontos. É a mesma variação do índice de small caps desde a sua mínima, também em março.

Mas, segundo ele, o potencial de valorização de algumas small caps tende a ser maior no médio prazo, mesmo que possam individualmente apresentar uma volatilidade também maior. “A Santos Brasil, por exemplo, é uma small cap que deve multiplicar em muitas vezes seu lucro e geração operacional de caixa nos próximos anos. Ela é líder no Porto de Santos. Empresas grandes não são capazes de multiplicar tanto assim as linhas do balanço. Você não vê um Itaú aumentando em três, quatro vezes sua geração de caixa em um ano.”

Esse desempenho potencial é refletido nos preços das ações. Guimarães citou a Weg, que divulgou na semana passada seu resultado no segundo trimestre de 2020, com avanço de 32% do lucro líquido na comparação anual, o que provocou uma disparada de 13,4% dos papéis da empresa no pregão de 22 de julho.

“A Panvel é outro exemplo de boa small cap. Ela fez uma oferta de follow on recentemente que vai ampliar a liquidez dos papéis, entrando no radar de mais investidores”, afirmou o especialista da Levante. Ele citou alguns pontos que os investidores precisam analisar na hora de “garimpar” boas small caps na Bolsa.

Entre eles, Guimarães considera importante olhar o lucro recorrente das companhias e o retorno sobre o capital (ROE ou ROIC). “Essa empresa gera caixa? Isso é importante porque elas podem pagar dividendos. Ela tem baixo nível de endividamento? Se a empresa estiver em expansão, às vezes faz sentido um endividamento mais elevado, mas quando as dívidas são menores, o risco diminui também”, disse.

Sobre a parte mais qualitativa da análise, o especialista gosta de observar o posicionamento de mercado e a estratégia de cada companhia. “Outro ponto é a governança corporativa, a transparência nas informações. Se tem duas empresas aparentemente boas no mesmo setor, prefira a mais transparente. O investidor novato pode usar as carteiras recomendadas de small caps feitas por analistas certificados e também tem a opção de começar a investir através de ETFs de small caps, sempre diversificando seu portfólio”, concluiu.

Sem preconceito

Na avaliação de Jorge Junqueira, sócio-fundador da Gauss Capital, mais do que comprar uma ação de small cap, o investidor tem que comprar a história que ela constrói. “A Magazine Luiza, uma das ações que mais sobem hoje na Bolsa brasileira, já foi uma small cap um dia. A Unidas e a Locamerica também”, disse.

“A Sinqia tem performado bem também, ela passou por uma transformação grande nos últimos anos. Enfim, quando você investe, tem que buscar uma tese que você gosta muito. São boas histórias que estão se consolidando. Não deveria haver preconceito por parte dos investidores com as empresas que são consideradas small caps. O Peter Lynch ganhou muito dinheiro com essas empresas”, completou Junqueira.

O sócio da Gauss afirmou que o investidor deve considerar a menor liquidez dos papéis de empresas de menor porte antes de investir, mas que o mais importante é checar se a “tese” da empresa é interessante.

“É preciso checar os dados do balanço, ver o retorno sobre capital investido, se ela consome muito caixa e, se consumir, ver se isso casa com o ganho dela de mercado ou não”, afirmou. “Nós no Brasil não temos muitas empresas listadas e acaba que as que vão para a Bolsa geralmente são as líderes de seus setores, mas é preciso fazer a lição de casa.”

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