“Debandada” de secretários faz Ibovespa se descolar do exterior e fechar no zero: qual o risco para o mercado?

“Debandada” de secretários faz Ibovespa se descolar do exterior e fechar no zero: qual o risco para o mercado?

agosto 12, 2020 Off Por Today Newsroom

SÃO PAULO – O Ibovespa fechou estável nesta quarta-feira (12) enquanto as bolsas americanas subiram entre 1% e 2,15% diante das esperanças por um acordo entre republicanos e democratas para aprovar um pacote de estímulos contra os impactos econômicos do coronavírus.

Hoje, o principal índice acionário da B3 terminou a sessão com leve variação negativa de 0,06% a 102.117 pontos com volume financeiro negociado de R$ 57,1 bilhões inflado pelo vencimento do índice futuro para agosto.

Já o dólar comercial subiu 0,7% a R$ 5,4517 na compra e a R$ 5,4527 na venda. Enquanto isso, o dólar futuro para setembro tem alta de 0,91% a R$ 5,434 no after-market.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 subiu quatro pontos-base a 2,71%, o DI para janeiro de 2023 teve variação positiva de seis pontos-base a 3,87% e o DI para janeiro de 2025 avançou sete pontos-base a 5,64%.

Aqui, os investimentos foram pressionados pelas preocupações com a saída de dois importantes membros do Ministério da Economia: o secretário de Desestatizações e Privatizações, Salim Mattar, e o secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel.

Expoentes da pauta econômica liberal no governo, Mattar e Uebel eram balizadores de parte da confiança que o mercado deposita na capacidade do governo de realizar reformas que diminuam o tamanho do Estado e melhorem o ambiente de negócios no País.

Paulo Gama, analista da XP Política, destacou em live realizada pelo InfoMoney que o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi claro ao admitir que os dois estavam frustrados com o ritmo com que as reformas estão avançando. “Os dois tinham uma bandeira e não viram espaço político para cumprirem suas metas”, explica.

Gama acredita que daqui para frente será importante observar se a política vai se sobressair novamente por conta da impopularidade das pautas relacionadas ao ajuste fiscal ou se o ministro da Economia vai conseguir vencer esse braço de ferro contra as resistências que sofre no Congresso.

Fontes ouvidas pela Bloomberg destacaram hoje que Guedes não tem a intenção de deixar o cargo, mas que ele espera um compromisso público de Bolsonaro com a agenda desestatizante.

Pela manhã, Bolsonaro fez justamente isso ao dizer que “em todo governo é normal a saída de alguns” e que sua gestão continua ciente da responsabilidade econômica e é norteada pelo ajuste fiscal e pelo teto de gastos públicos. “O Estado deve se desfazer de empresas deficitárias”, ressaltou.

O presidente da República lembrou ainda que a reforma da Previdência foi aprovada em tempo recorde e que as taxas de juros se encontram atualmente nas mínimas históricas, em 2% ao ano. “O presidente e seus ministros continuam unidos e cônscios da responsabilidade de conduzir a economia e os destinos do Brasil com responsabilidade”, assegurou.

Segundo Paulo Gama, a mensagem de Bolsonaro reassegurou Guedes, mas foi um pouco tímida diante do tamanho da questão.

Já Victor Scalet, analista da XP Investimentos, sentenciou que o risco de haver uma reorientação da política econômica e de uma saída de Paulo Guedes segue não majoritário, mas é maior do que era ontem. “O mercado já não acreditava que haveria grandes privatizações, mas o timing sempre passa alguma mensagem. Toda vez que o Paulo Guedes precisa pedir a reafirmação do compromisso do presidente Jair Bolsonaro com a pauta liberal traz uma sinalização negativa.”

Solange Srour, economista-chefe da ARX, disse em entrevista à Bloomberg que o mercado “está começando a colocar no preço alguma possibilidade de queda de Guedes, apesar de o presidente ter manifestado o apoio dele ao teto de gastos e à pauta do ministro.”

Por outro lado, Ari Santos, trader da H.Commcor, argumentou ao InfoMoney que ainda não existe uma visão nas mesas de operação de que Guedes vai sair. “A chance por enquanto é zero”, defende ele. Para Santos, o principal motivo para a volatilidade da Bolsa hoje é que foi dia de vencimento do índice, de modo que a saída dos secretários acabou dando força para os vendidos.

“A briga entre comprados e vendidos hoje naturalmente já seria muito forte, ainda mais com expectativas por resultados de grandes empresas como a Marfrig e a Via Varejo, mas essas notícias acabaram trazendo um componente a mais.”

Bruno Marques, gestor dos fundos multimercados da XP Asset Management avalia que a saída de Mattar já era esperada. “Ele é um outsider brigando com o establishment tentando manter o status quo. Uebel também foi uma grande perda, mas também por conta da reforma administrativa ser postergada”, diz.

Marques ressalta que não houve uma piora efetiva pelo lado fiscal, mas está havendo uma demanda maior dos parlamentares por mais gastos.

Nesse cenário, Bolsonaro tem se manifestado com o discurso de manter a estabilidade dos gastos públicos. “Não há a perspectiva de grandes reformas que mudem o estado brasileiro, mas não acho que vá haver uma virada para um lado não-fiscalista. Não ache que o Bolsonaro seja liberal, mas ele é fiscalista”, ressalta o gestor, destacando que o presidente viu o impacto da responsabilidade fiscal na economia.

“A gente já viu anteriormente ondas de pressões fiscais, que são rapidamente rechaçadas pelo presidente”. Desta forma, ele avalia que, após um acúmulo de notícias negativas, a bolsa brasileira já teve um bom ajuste ao risco. “Não posso dizer que o descolamento em relação aos mercados internacionais se encerrou”; contudo, ressalta, as notícias negativas já foram em boa parte precificadas”.

Vale lembrar que no fim do dia o Ministério da Economia negou que procedesse a informação divulgada em alguns veículos de imprensa de que os secretários especiais Waldery e Carlos Da Costa também sairiam da pasta.

O presidente Jair Bolsonaro faz pronunciamento às 18h (horário de Brasília) para falar sobre a “debandada”.

Mais destaques

Entre os indicadores nacionais, as vendas no varejo cresceram 8% em junho na comparação com maio, mostrou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número veio acima da mediana das projeções dos economistas compilada no consenso Bloomberg, que apontava para um avanço de 5%.

Hoje, na Europa, o pregão é de ganhos apesar do tombo de 20,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido durante o segundo trimestre. Essa é a maior queda desde o início desse levantamento e também a primeira vez que o Reino Unido entra em recessão desde 2009.

Radar corporativo

A XP Inc. registrou um lucro líquido ajustado de R$ 565 milhões no segundo trimestre de 2020, valor 148% superior na comparação com igual período do ano passado e 36% em relação ao trimestre imediatamente anterior.

A receita líquida, por sua vez, teve alta de 68% na comparação anual, passando de R$ 1,147 bilhão para R$ 1,921 bilhão.

A margem líquida ajustada passou de 19,9% no segundo trimestre de 2019 para 29,4% no mesmo período de 2020, uma alta de 9,51 pontos percentuais.

A combinação entre redução de volume e de preços fez o lucro líquido da BR Distribuidora cair 37,7% no segundo trimestre ante igual período do ano passado, para R$ 188 milhões.

O Ebitda ajustado ficou em R$ 816 milhões entre abril e junho, aumento de 61,3% na comparação anual, com o efeito positivo de uma recuperação de crédito de PIS/Cofins, que somou R$ 376 milhões.

A receita líquida caiu 38,1%, para R$ 14,9 bilhões de reais.

Já o endividamento bruto da empresa chegou a R$ 9,2 bilhões, alta de 49,6%. A empresa informou que essa elevação é decorrente das captações feitas em “caráter precaucional” para lidar com a pandemia da Covid-19.

Maiores altas

Ativo Variação % Valor (R$)
MRFG3 4.76868 14.72
JBSS3 2.56763 22.37
KLBN11 2.37996 24.52
VALE3 2.02389 61.5
USIM5 1.88679 8.64

Maiores baixas

Ativo Variação % Valor (R$)
HGTX3 -5.95313 14.85
BRML3 -3.98912 10.59
GOLL4 -3.84615 18.75
SULA11 -3.5268 47.87
IRBR3 -3.45253 7.83

E a empresa de meios de pagamento Stone anunciou na terça-feira á noite um acordo vinculante para unir sua área de software com a Linx, produtora de programas para o varejo. A transação poderia chegar a R$ 6,4 bilhões.

O acordo será implementado por meio de uma fusão de ações no Brasil, com cada ação da Linx sendo trocada por uma nova ação PN classe A e B da Stone. Após outras etapas, o valor base da operação será de R$ 33,7625 reais por ação da Linx.

Segundo a Stone, o valor base representa ágio de 41,6% sobre o preço médio das ações da Linux nos 60 dias anteriores a 7 de agosto e de 28,3% considerando os 30 dias prévios a esta data.

As ações da Linx fecharam o pregão de terça-feira em alta de 31,5%, a R$ 34,40. Em Nova York, onde são negociados, os papéis avançaram 11%, para US$ 52,39.

A companhia de energia Eneva registrou lucro líquido de R$ 85,8 milhões no segundo trimestre, ante R$ 15,8 milhões no mesmo período do ano passado.

O aumento do resultado se deveu basicamente aos valores relacionados a poços secos e a uma melhoria do resultado financeiro líquido.

O Ebitda ficou em R$ 279,2 milhões, uma redução de 2%.

(Com Bloomberg, Agência Câmara e Agência Estado)

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