CPMI das Fake News identifica 2 milhões de anúncios do governo em canais de “conteúdo inadequado” em 38 dias

CPMI das Fake News identifica 2 milhões de anúncios do governo em canais de “conteúdo inadequado” em 38 dias

junho 3, 2020 Off Por Today Newsroom

Jair Bolsonaro (Antonio CruzAgencia Brasil)

SÃO PAULO – Um relatório produzido pela CPMI das Fake News identificou 2,065 milhões de anúncios pagos com verba da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) em sites, aplicativos de telefone celular e canais de YouTube que veiculam conteúdo considerado inadequado. As informações foram publicadas pelo site do jornal O Globo.

Segundo a reportagem, entre os veículos estão sites que divulgam notícias falsas, oferecem investimentos ilegais e até aplicativos com conteúdo pornográfico. O documento foi elaborado por consultores legislativos e divulgado na última terça-feira (2) e diz que, embora tenha solicitado por meio da Lei de Acesso à Informação informações do período entre janeiro e novembro de 2019, a Secom só forneceu dados entre 6 de junho e 13 de julho daquele ano.

Mesmo com as limitações, o relatório informa que foi possível identificar que parte dos anúncios pagos pela Secom foi parar em canais com conteúdo inadequado. Os consultores identificaram 843 canais considerados inapropriados.

A verba utilizada no período foi direcionada para a campanha pela reforma da Previdência e se refere a recursos distribuídos por meio da plataforma Adwords e Adsense do Google, que direciona a publicidade de forma automática aos sites – embora seja possível bloquear tanto sites específicos como categorias de assuntos.

A classificação de sites que divulgam notícias falsas foi feita pelos próprios consultores legislativos. No topo da lista das páginas que mais receberam verba pública para divulgar a publicidade oficial no período informado está o site “Resultados Jogo do Bicho”, com 319.082 impressões.

Há também publicidade oficial em páginas de apoiadores de Bolsonaro. O relatório cita o canal “Bolsonaro TV” no YouTube – o que poderia gerar questionamentos jurídicos quanto ao princípio constitucional da impessoalidade. O site “Terça Livre”, do blogueiro Allan dos Santos também aparece. O relatório afirma que, durante oitiva na CPMI, o blogueiro afirmou que não recebia dinheiro público.

“Como pudemos observar, houve descontrole do target (alvo) das ações publicitárias, o que redundou em desperdício de recursos públicos. Adicionalmente, o dinheiro da publicidade oficial terminou por ser empregado em diversos canais com conteúdo inadequado, fazendo com que a imagem do Governo Federal fosse veiculada em canais de baixa qualidade e associada a conteúdos falsos, criminosos, de cunho sexual ou referentes a promoção pessoal do presidente da República”, diz um trecho do documento.

Em nota, a Secom disse “repudiar” o que chamou de “matéria tendenciosa” publicada pelo jornal O Globo e afirmou não patrocinar qualquer site ou blog. A secretaria argumenta que “as verbas publicitárias são direcionadas pelo Google Adsense, que utiliza inteligência artificial e critérios próprios para distribuição de anúncios”.

“Ou seja, cabe à plataforma as explicações pertinentes sobre a ocorrência. Os veículos que constam na lista citada pela matéria foram selecionados pelo desempenho aferido pelo algoritmo do Google, e não pela Secom”, diz a nota.

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