Covid-19: Ministério da Saúde anuncia cronograma para vacinação, mas não cita vacina do Butantan
outubro 15, 2020SÃO PAULO — Na última quarta-feira (14), o Ministério da Saúde apresentou um cronograma para vacinação contra Covid-19. Essa agenda prevê o início de uma campanha de vacinação nacional em abril de 2021. Porém, a vacina experimental desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e pelo Instituto Butantan ficou de fora da lista.
O cronograma foi definido pelo Programa Nacional de Imunização (PNI). Ele prevê a utilização da vacina de Oxford, que está sendo desenvolvida em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e das doses fornecidas pelo consórcio internacional Covax Facility.
“Somando as duas iniciativas, a expectativa é que tenhamos cerca de 140 milhões de doses disponíveis para a população brasileira já no primeiro semestre de 2021”, assegurou o secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco.
Ainda que o Ministério da Saúde tenha informado que investiu R$ 92 milhões na modernização do Instituto Butantan, a vacina experimental do laboratório paulista não consta no primeiro cronograma do PNI. O imunizante está sendo desenvolvido junto da farmacêutica chinesa Sinovac e suas primeiras doses devem ser entregues ainda neste ano.
Após o anúncio da pasta, alguns secretários de saúde dos estados mostraram-se descontentes com a decisão, segundo a Folha de São Paulo. Eles consideraram que o calendário do governo federal está ignorando a vacina.
O secretário de Saúde de São Paulo, por exemplo, criticou a decisão. Jean Gorinchteyn disse acreditar que “as vacinas não estão sendo tratadas de forma republicana pelo Ministério da Saúde”. “Todos os presentes na reunião entenderam da mesma forma. A vacina de São Paulo está sendo ignorada”, completou o secretário.
Para alguns desses gestores, não faz sentido o governo federal apresentar um cronograma que contenha a vacina de Oxford sem considerar a vacina da chinesa Sinovac, já que as duas estão no mesmo estágio de desenvolvimento e são consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como duas das mais promissoras vacinas.
Ainda que nenhuma das duas tenha sido aprovada, ambas estão na fase três de testes no Brasil e já estão encaminhando seus resultados iniciais para a supervisão da Anvisa.
Em reportagem recente, o InfoMoney conversou com quatro voluntários que receberam as vacinas experimentais no Brasil para entender melhor a recepção do medicamento e como funciona um estudo clínico de vacinas.
Em coletiva de imprensa realizada na última sexta-feira (9), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que no próximo dia 21 de outubro se reunirá com Eduardo Pazuello. Doria deve conversar com o atual chefe da pasta da saúde para verificar a posição final do governo federal sobre a disponibilização da CoronaVac e o uso do medicamento em escala nacional.
“O plano prioritário é seguir com o Ministério da Saúde e disponibilizar a vacina através do PNI [Programa Nacional de Imunização]. Porém, se houver qualquer viés de ordem política ou eleitoral que possa colocar a vacina em prejuízo, São Paulo fará a imunização dos brasileiros no estado de qualquer forma”, disse Doria à época.
Sobre a vacina de Oxford
A vacina da Universidade de Oxford, em parceria com a farmacêutica britânica AstraZeneca, usa parte do material genético do vírus para desencadear uma resposta imune no corpo humano. O medicamento contém um vírus inofensivo, misturado a um pedaço do código genético do coronavírus.
No Brasil, 5 mil voluntários estão tomando a vacina. Os testes são coordenados pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em São Paulo. No Rio de Janeiro e em Salvador, os estudos são realizados e financiados pelo Instituto D’Or.
A vacina será produzida pelo laboratório Bio-Manguinhos, ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), segundo acordo firmado pelo Ministério da Saúde.
O acordo entre a AstraZeneca e a Fiocruz prevê uma encomenda tecnológica. A fundação adquire o produto finalizado e depois ensaia uma produção nacional. Esse processo é chamado de transferência tecnológica na indústria farmacêutica (entenda mais sobre as transferências tecnológicas). O investimento total para transferência das doses (e da tecnologia) foi de US$ 127 milhões, ou cerca de R$ 702 milhões.
Se a vacina for aprovada, o Brasil deve receber outras 70 milhões de doses. O custo será de US$ 2,30 por dose, com entrega ainda sem data definida.
Sobre a vacina da Sinovac
Produzida em parceria com o Instituto Butantan, a CoronaVac será testada em mais de 13 mil profissionais da saúde brasileiros até o dia 15 de outubro. 7 mil deles já receberam doses.
Após ser aplicada em 50 mil pessoas na China, os estudos da farmacêutica chinesa mostraram que 94,7% dos voluntários não tiveram nenhuma reação adversa. Apesar do sucesso sobre a segurança do medicamento, o resultado sobre a eficácia deve começar a ser analisado também a partir de 15 de outubro.
O governo de São Paulo afirmou que até outubro o estado receberá 6 milhões de doses importadas da China prontas para aplicação. Outras 40 milhões, ainda a serem processadas, devem chegar até o fim deste ano. Mais 15 milhões chegarão até fevereiro de 2021.
As 46 milhões de doses iniciais custarão US$ 90 milhões, valor que inclui também a transferência de tecnologia da Sinovac para produção da vacina pelo Butantan.
O governo paulista anunciou também que arrecadou R$ 97 milhões com a iniciativa privada para que o Instituto Butantan comece a construir uma nova fábrica, com capacidade para fabricação de 100 milhões de doses da CoronaVac por ano.
A expectativa do governo é iniciar a vacinação no estado na segunda quinzena de dezembro, mas as diretrizes da campanha ainda precisam ser aprovadas pelo Ministério da Saúde — algo que parece mais distante, levando-se em consideração o recente cronograma do PNI.