
Conduta negacionista de Bolsonaro sobre vacina infantil terá impacto na reeleição, dizem analistas políticos
janeiro 26, 2022A conduta negacionista do presidente Jair Bolsonaro (PL) em relação à vacinação de crianças no Brasil contra a Covid-19 deverá ter grandes impactos na corrida à reeleição do mandatário. Essa é a opinião de analistas políticos consultados para a edição 32 do Barômetro do Poder, produzido mensalmente pelo InfoMoney. Para 60% dos respondentes, os impactos das atitudes de Bolsonaro na corrida para permanecer no Palácio do Planalto serão “altos” ou “muito altos”.
O Barômetro compila, mês a mês, avaliações e expectativas de consultorias de análise de risco político e de analistas independentes sobre assuntos em destaque na agenda política nacional. Em uma escala que vai de 1 (impacto muito baixo) a 5 (muito alto), a conduta negacionista do presidente em relação à vacinação de crianças e as ameaças à Anvisa recebeu nota média de 3,53 no levantamento.
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Desde a aprovação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) da primeira vacina para crianças entre 5 e 11 anos, em 16 de dezembro, Bolsonaro tem repetidamente tentado sabotar o programa de imunização infantil. Ele ameaçou servidores do órgão, dizendo que publicaria o nome das pessoas envolvidas na aprovação das vacinas para as crianças.
O presidente também chegou a dizer que a Covid-19 matou um “número insignificante” de crianças, o que gerou revolta no país. Segundo dados do próprio Ministério da Saúde, a Covid-19 foi uma das principais causas de mortes de crianças na faixa etária que coincide com aquelas autorizadas a receber a vacina.
De acordo com os números da pasta, 311 crianças de 5 a 11 anos morreram no Brasil por síndrome respiratória aguda grave causada pela Covid-19. Os números, contudo, podem ser bem mais altos. Levantamentos com dados não oficiais dão conta de ao menos 558 óbitos de crianças até novembro de 2021.
De acordo com esses dados, o Brasil teria uma criança morta a cada dois dias, em média, desde o início da pandemia, em março de 2020. O levantamento da Saúde mostra que a Covid-19 foi a 3ª maior causa de mortes infantis em 2020 e a 2ª no ano passado.
Bolsonaro também tem defendido que a vacina não seja obrigatória para crianças, como já fez em relação à vacinação da população em geral, e disse que não vacinará a filha mais nova, Laura, de 11 anos. Ele ainda acusou os técnicos da Anvisa, a quem chamou de “tarados por vacinas”, de terem interesses na liberação.
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“Restam 12 meses”, lembrou um dos analistas que responderam à pesquisa de janeiro do Barômetro. “O ‘pior governo do mundo’ (termo cunhado pelo economista Pérsio Arida) ainda provocará muita destruição ao longo de 2022– ambiental, institucional, sanitária, econômica, educacional, moral e política. Serão longos 12 meses”, conclui.
Em função das posições de Bolsonaro, o Ministério da Saúde resolveu realizar uma “consulta pública” sobre o tema, apesar de ter opiniões baseadas na ciência para liberar a vacina. Dessa forma, acabou atrasando o início do programa de imunização infantil no país e abrindo brecha para desinformações, fake news e confusão entre pais e mães de crianças. O ministério chegou a cogitar a exigência de prescrição médica para aplicação das doses infantis, o que foi depois descartado.
Enchentes
Outro aspecto sondado na pesquisa foi o impacto da conduta de Bolsonaro em relação às enchentes na Bahia e em Minas Gerais, nos primeiros dias do ano, que levaram dezenas de cidades a decretar estado de emergência ou calamidade.
Para 33%, o impacto será alto, mas a maioria (40%) acredita que a ausência de Bolsonaro – que estava de férias no Sul do país e preferiu não se deslocar para a região atingida pelos efeitos da chuva – deverá ter efeito nulo. Para 34%, o impacto será “baixo” (27%) ou “muito baixo” (7%).
Na mesma escala de 1 (impacto muito baixo) a 5 (muito alto), a conduta de Bolsonaro na crise das enchentes teve nota média de 3,00 na sondagem. “A conduta de Bolsonaro quanto às enchentes na Bahia e a vacinação de crianças tem pouco peso individualmente, mas é expressão reiterada de falta de empatia do presidente e de insistência em tema impopular, respectivamente”, escreveu um dos respondentes do Barômetro do Poder.
A edição 32 do Barômetro do Poder foi realizada entre os dias 17 e 19 de janeiro, com questionários aplicados por meio eletrônico. Foram ouvidas 11 casas de análise de risco político (BMJ Consultores Associados; Control Risks; Empower Consultoria; Eurasia Group; Medley Global Advisors; Patri Políticas Públicas; Ponteio Política; Prospectiva Consultoria; Pulso Público; Tendências Consultoria Integrada; e XP Política) e 4 analistas independentes: Antonio Lavareda (Ipespe); Carlos Melo (Insper); Claudio Couto (EAESP/FGV) e Thomas Traumann.
Conforme acordado previamente com os analistas, os resultados do levantamento são divulgados apenas de forma agregada, sendo preservado o anonimato das respostas e comentários.
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