Começa a temporada de balanços do 1º trimestre, já com “efeito coronavírus” nas empresas: o que esperar?

Começa a temporada de balanços do 1º trimestre, já com “efeito coronavírus” nas empresas: o que esperar?

abril 23, 2020 Off Por Today Newsroom

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Foto: reprodução

SÃO PAULO – Além do noticiário intenso por conta da crise do coronavírus e da forte volatilidade do petróleo, a partir da próxima sexta-feira (24) investidores terão outro fator a ser monitorado de perto: o início da temporada de resultados do primeiro trimestre de 2020 para as empresas brasileiras, com a Hypera (HYPE3) dando o pontapé inicial ao revelar seus dados após o fechamento da bolsa.

Porém, mais importantes do que os números em si, que mostrarão os primeiros impactos do coronavírus nas atividades das companhias, o mercado estará atento às sinalizações das empresas e as medidas tomadas por elas para enfrentar a pandemia, conforme destaca em relatório Fernando Ferreira, estrategista-chefe e chefe de research da XP Investimentos (veja o relatório clicando aqui).

Vale ressaltar que a crise com o coronavírus chegou ao final do trimestre, com as quarentenas tendo início principalmente na segunda quinzena de março.

Desta forma, avalia o estrategista, o foco estará em dois pontos principais: i) as teleconferências pós-balanços e ii) os sinais dos setores mais impactados pelo coronavírus.

Com relação às teleconferências, a XP aponta que os investidores estarão debruçados sobre seis questões principais: i) impactos diretos e indiretos da covid-19 e das quarentenas sobre as cadeias de suprimentos, sobre a demanda e nas operações de cada companhia, ii) planos de preservação de caixa e de capital durante a crise, incluindo com possíveis retenções no pagamento de dividendos; endividamento de curto prazo, caixa disponível e refinanciamento da dívida feito (montante e custo); iv) renegociações em curso com fornecedores, funcionários, clientes e outros (como aluguéis de imóveis, fretes, hedges, etc); v) projeção dos executivos para o 2º trimestre e para o restante do ano e vi) efetividade ou não dos benefícios e medidas anunciadas pelo governo até agora.

Já com relação ao segundo ponto, o Morgan Stanley projeta uma queda de 33% para o lucro, de 12% para a receita e de 10% para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda na sigla em inglês) para as empresas brasileiras da área de cobertura do banco americano.

Porém, naturalmente, alguns setores serão mais impactados pela crise do que outros. Dentro do portfólio da América Latina, os analistas do Morgan preveem que empresas do setor agrícola e financeiro estejam à frente em termos de crescimento de Ebitda, enquanto empresas do setor de saúde e de educação podem ser pressionadas tanto nessa linha do balanço quanto nas projeções de lucro.

Neste cenário, a XP apontou também seis setores principais nos quais os investidores ficarão de olho nessa temporada de balanços.

Em primeiro lugar, está o setor de transportes, com as aéreas como Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) sendo algumas das companhias mais afetadas pela crise. Assim, os resultados serão acompanhados com lupa pelo mercado, que buscará entender o fôlego das companhias nos próximos trimestres, renegociações com grandes fornecedores, as medidas de emissão de debêntures conversíveis anunciadas pelo governo e os planos para a retomada das atividades. Gol divulgará seus números em 4 de maio e a Azul no dia 6.

Além do setor aéreo, os resultados das locadoras de automóveis também serão relevantes, com destaque para a Localiza (RENT3) em 14 de maio, assim como o setor de concessões rodoviárias, como CCR (CCRO3), em 15 de maio, e Ecorodovias (ECOR3), em 6 de maio.

As varejistas e operadoras de shopping centers também serão observadas de perto pelo mercado, uma vez que a quarentena levou grande parte dos varejistas a fechar suas lojas físicas e migrar seu fluxo de clientes para o digital e e-commerce.

“Planos de digitalização foram acelerados de meses e anos para dias, e consumidores fizeram a migração de hábitos também em questão de dias. Porém, os números devem mostrar grandes dispersões entre os tipos de varejistas (duráveis versus não duráveis) e pela exposição maior ou menor à lojas físicas e varejo online”, ressalta a XP.

Entre as companhias mais resilientes a esse cenário, estão a com maior exposição ao e-commerce e de consumo básico, caso de varejistas e farmácias.

O Morgan Stanley projeta uma aceleração de 1 ponto percentual para o valor total de mercadorias vendidas pela B2W (BTOW3) na comparação anual, para 32%, com aceleração das vendas diretas (1P) em meio à base de operação baixa mais do que ofuscando uma perspectiva de desaceleração das vendas pelo marketplace (3P).

Já sobre a Lojas Americanas (LAME4), que possui 61% da B2W, a expectativa é de um crescimento de 6,0% nas vendas nas mesmas lojas, com estimativa de manutenção da margem Ebitda nas lojas. “O comportamento do consumidor está mudando, mas a maioria das lojas da companhia permanecem abertas, o que é relativamente positivo”, apontam os analistas.

Com relação ao Magazine Luiza (MGLU3), embora haja a expectativa de um impulso contínuo do e-commerce com um crescimento previsto do GMV em 40% (excluindo a Netshoes), o impacto do fechamento de lojas no final de março provavelmente será a área de foco de curto prazo.

Sobre a Via Varejo (VVAR3), o Morgan destaca que, embora a empresa mostrasse sinais iniciais de recuperação no quarto trimestre, a expectativa é de uma volta à pressão das margens no primeiro trimestre, com o impacto inicial do fechamento de lojas no final de março.

O cenário é mais complicado para as empresas de varejo de vestuário devido ao fechamento das lojas no final do período. Para a Lojas Renner (LREN3), a expectativa é de uma desaceleração do crescimento da receita para 12%; “uma leitura antecipada do impacto do fechamento nas margens será o foco”, apontam os analistas. Para a C&A (CEAB3), a expectativa é de crescimento da receita em 6%, enquanto a Cia. Hering (HGTX3), que já teve um quarto trimestre difícil, deve ver a pressão aumentar ainda mais com as lojas fechadas.

Saindo do segmento de vestuário, quem deve ver uma importante deterioração em seus números ao olhá-los a partir da segunda metade de março é o Burger King (BKBR3). Assim, apesar dos sinais de recuperação das vendas nas mesmas lojas no primeiro trimestre, a companhia deve sofrer uma queda nesse quesito de 3% no trimestre. “Nós esperamos um impacto muito mais forte no segundo trimestre de 2020”, apontam os analistas do Morgan.

Por outro lado, o cenário é mais positivo para Carrefour Brasil (CRFB3) e Pão de Açúcar (PCAR3). O primeiro deve ver uma alta na receita do Atacadão e queda no segmento de mercados e hipermercados, enquanto a receita de alimentos do GPA também deve se acelerar (contudo, um ponto a ser observado é a margem da companhia).

Sobre a varejista farmacêutica RD (RADL3), o Morgan destaca: com fortes receitas, o Covid-19 impactou positivamente as primeiras duas semanas de março, mas pressionou a última metade do mês (ainda que com saldo líquido positivo para os números da companhia).

Já para o setor bancário, conforme ressaltado acima, a expectativa é de que o impacto deva ser pequeno no curto prazo, uma vez que a crise se iniciou ao final do primeiro trimestre. Contudo, questões como aumento de provisões para inadimplências, spreads de crédito no cenário atual e impacto das várias medidas recentes do Banco Central de aumento de liquidez e efetividade das linhas especiais de crédito parcialmente financiadas pelo Tesouro serão observados de perto pelos investidores, avalia a XP.

Dos grandes bancos, Santander Brasil (SANB11) reporta números dia 28 de abril, Bradesco (BBDC3;BBDC4) reporta em 30 de abril, Itaú (ITUB4) reporta dia 4 de maio e Banco do Brasil (BBAS3) em 7 de maio.

O Itaú BBA aponta que as maiores provisões terão início no primeiro trimestre, mas podem durar até 2021. O aumento anunciado nas renegociações de dívidas com pessoas físicas e jurídicas pode atrasar a recuperação de empréstimos vencidos, levando os bancos a continuar provisionando até o primeiro semestre do próximo ano. “Usando a experiência dos EUA durante a crise financeira global como modelo, as provisões mais altas impactaram os resultados por quase 2 anos”, avaliam os analistas do banco.

Para o Bradesco, os analistas esperam um lucro de R$ 3,2 bilhões, queda de 52% na base trimestral e 48,9% na base anual enquanto que, para o Santander Brasil, projetam baixa de 32,1% para o lucro na comparação com igual período de 2019 e de 36,5% ao comparar com os últimos três meses do ano passado, a R$ 2,37 bilhões.

Com relação ao Banco do Brasil, o lucro deve cair mais de 50% em ambas as bases de comparação, para R$ 1,92 bilhão, com a expectativa de que o retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) caia para a casa de um dígito, a 7,2%, forte baixa de 9,66 pontos percentuais na comparação com os 16,8% registrados nos primeiros três meses de 2019. Em relatório recente, o Morgan também apontou as projeções para o Itaú Unibanco, que podem ser vistas clicando aqui.

A XP apontou ainda o setor de commodities como relevante para que investidores mensurem como foram os impactos da crise na China durante o período entre janeiro e março e como está se dando a recuperação das atividades já em maio.

A Vale (VALE3) é a primeira a reportar, no dia 28 de abril, Klabin (KLBN11) reporta dia 4 de maio, Gerdau (GGBR4) em 6 de maio, Petrobras (PETR3;PETR4) e Suzano (SUZB3) dia 14 de maio.

A Petrobras, por sinal, deve ser fortemente impactada após o petróleo registrar o pior trimestre da história nos primeiros três meses de 2020, em meio à guerra de preços entre Arábia Saudita e Rússia (finalizada em abril) e a queda da demanda por conta da crise com o coronavírus, fazendo com que a companhia tomasse diversas medidas para preservar seu caixa (veja mais clicando aqui).

Para a Vale, a expectativa é de resultados mais fracos com os impactos negativos da sazonalidade já mais fraca sendo impulsionados por baixos volumes de minério de ferro devido às fortes chuvas no Sudeste brasileiro, apesar tanto na avaliação do Itaú BBA quanto do Bradesco BBI.

Com estimativa de redução do embarque de minério de ferro em 32% na base trimestral e de 11% na comparação anual, o Itaú BBA espera que o Ebitda atinja US$ 2,95 bilhões (queda de 37% no trimestre e de 23% no comparativo anual). Isso apesar da estabilidade do preço do minério de ferro no período.

Para as siderúrgicas, a expectativa é de resultados mais fortes em relação à temporada passada, com exceção da CSN, em meio aos menores embarques de minério de ferro mais do que compensando a melhora no setor de aço. “No entanto, nós não vemos os resultados do primeiro trimestre como catalisadores, dado que o impacto total do Covid-19 só deve ser sentido no segundo trimestre”, avalia o Bradesco BBI.

Para a Gerdau, a avaliação é de um primeiro trimestre “pouco inspirado”, com os embarques domésticos devendo permanecer relativamente baixos, enquanto os volumes exportados devem registrar queda significativa. A realização dos preços domésticos deve melhorar com a implementação do aumento de preços (de 4% na base trimestral), o que deve ajudar a aumentar a margem Ebitda para 15%, ante 13% no quarto trimestre.

Já com relação à Usiminas, houve uma melhora “antes da tempestade” com o coronavírus, com os embarques domésticos mais fortes de aço, melhora de preços, a divisão de mineração devendo ser impactada positivamente pelo menor frete, avalia o Bradesco BBI. O Itaú BBA também projeta que os  preços mais altos no mercado interno e o melhor mix de vendas devem resultar em margens mais fortes.

Sobre Klabin e Suzano, a expectativa também é por balanços mais fortes, ajudados pela forte depreciação do real e por custos mais baixos. “As vendas de celulose da Suzano permaneceram fortes e projetamos um Ebitda de R$ 2,62 bilhões, um aumento de 6% no trimestre; provavelmente o processo de desestocagem continuou durante o primeiro trimestre”, avalia o Itaú BBA.

Para a Klabin, os analistas do banco também esperam por um Ebitda sequencialmente melhor no segmento de papel, com preços mais altos e custos controlados, e Ebitda estável para celulose, com a depreciação do real compensando os embarques de celulose sazonalmente mais baixos.

Por fim, dado que a crise atual é principalmente uma crise de saúde, esse setor deve ser acompanhado de perto pelos investidores. Hapvida (HAPV3) reporta dia 8 de maio, Intermédica (GNDI3) dia 11 de maio e SulAmérica (SULA11) em 13 de maio pelas seguradoras.

As companhias serão impactadas de forma diferente pela crise da Covid-19. Para o Morgan, o impacto para a Fleury (FLRY3) será forte, com a maior parte das unidades de atendimento fechada ou atendendo em condições muito restritas, o que deve levar a uma desaceleração das receitas e pressão de margens (veja sobre as medidas tomadas pela companhia para enfrentar o coronavírus clicando aqui).

Enquanto nisso, no Notre Dame, a consolidação da Clinipam e São Lucas (com adição de 420 mil membros) deve impulsionar o forte crescimento de receita. Por outro lado, a adição de membros pode desacelerar e a provisão do SUS pode pressionar as margens. A Hapvida, por sua vez, ainda não foi impactada fortemente pela Covid-19, com a consolidação do Grupo São Francisco continuando a impulsionar um forte crescimento de receita, mas com alguma pressão de margens.

Ainda no setor, mas mais focado em fabricante de medicamentos, está a Hypera, que deve ver o aumento de vendas ao consumidor final (sell-out) provavelmente crescendo a uma taxa de dois dígitos, gerando ganhos de participação de mercado. O mix de vendas pode melhorar com mais medicamentos isentos de prescrição (ou over-the-counter em inglês, sob a sigla OTC), que possuem margem mais alta, enquanto investimentos mais baixos em marketing podem elevar as margens acima do nível de 30% em poucos trimestres.

Outros setores para ficar de olho

O Morgan Stanley ainda apontou outros setores para ficar de olho, como de educação, que deve ter como destaque a Afya, listada na Bolsa de Nova York, com bons resultados e crescimento das receitas impulsionados pelo segmento em que ela está posicionada e também por conta das aquisições. Vale ressaltar que o Itaú BBA reforçou recomendação outperform – acima da média de mercado, para o grupo educacional brasileiro, ao apontar “alta resiliência” nas faculdades de medicina que controla no Brasil, face à epidemia do Covid-19, ao tornar disponíveis aos estudantes aulas online e material didático pela Internet.

“As taxas de inadimplência permanecem baixas, porque a Afya negocia com os estudantes”, apontou o banco. “Nas próximas semanas, o grupo passará a oferecer residência para os estudantes de medicina do sexto ano nos hospitais, para mitigar os impactos do lockdown provocado pelo coronavírus”, comenta o BBA. O BBA possui um preço-alvo de US$ 28,00 para a ação da Afya no Nasdaq em 2020, uma alta de 45% sobre os US$ 18,62 de ontem.

A Arco é apontada como a empresa mais resiliente, com a melhor plataforma digital para prestar serviços educacionais no segmento de educação básica, com os resultados também sendo impactados pela consolidação do Positivo, a marca líder em sistemas de ensino no país.

Sobre a Cogna (COGN3), o segmento presencial ainda sob pressão, com menor demanda, concorrência e graduação no FIES. A desalavancagem operacional se traduz em menor margem bruta. A Yduqs (YDUQ3), por sua vez, também com o presencial pressionado, vê um bom desempenho do ensino à distância. As receitas podem ser pressionadas pelo diferente portfólio, com uma representação maior do ensino à distância, maiores descontos e graduações do FIES.

Também vale fazer menção à Ambev (ABEV3). O Credit Suisse espera um trimestre fraco em geral com queda de volume consolidado de 6,2% na base anual, baixa na receita de 4,8% e um Ebitda 18,2% menor, além de lucro por ação 22,3% abaixo, todas na mesma base de comparação.

Na divisão de cerveja no Brasil, os volumes da indústria no pais caíram entre 35% e 40% na base anual em março como resultado do surto do Covid-19, impactando os resultado do primeiro trimestre e, portanto, a estimativa para uma queda de 10% no volume desse segmento pra Ambev no trimestre. Além disso, deve haver uma pressão dos custos dolarizados.

Vale ressaltar que, em relatório recente, os analistas do Bradesco BBI traçaram um cenário sobre se, após a Covid-19, ficar em casa pode virar o “novo normal”. O impacto para a Ambev seria de queda de 3% no Ebitda no caso mais moderado (diminuição de 10% nas atividades fora de casa) e de 14% no caso mais extremo (redução de 50%).

Do ponto de vista de alimentos, o estudo do BBI aponta para uma queda de 4% no consumo de proteínas na soma de Estados Unidos, China e Brasil em um cenário de reclusão de 50% – o que afetaria em cheio as empresas de proteínas listadas na B3. De forma segmentada, espera-se queda de 25% no consumo de peixe, 60% para porco e 15% alimentos processados. Veja mais clicando aqui. 

“Dado que os mercados de proteínas são interconectados (Brasil, China e EUA correspondem a cerca de 50% do comércio mundial de proteína), nos preocupamos que os preços para carne e frango globalmente sofram com tal queda na demanda”, escreve Fontanesi. É esperada, nesse cenário, queda de 12% para o Ebitda da BRF (BRFS3), 9% para a JBS (JBSS3) e 8% para Marfrig (MRFG3) no longo prazo enquanto que, no curto prazo, os resultados do setor também serão acompanhados de perto pelo mercado nos dias 11 para a BRF e 14 de maio para JBS e Marfrig.

Confira abaixo a agenda de divulgação de resultados do primeiro trimestre de 2020:

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