Brasileiros entram na lista do calote por deixar de pagar gastos com alimentos

Brasileiros entram na lista do calote por deixar de pagar gastos com alimentos

agosto 16, 2022 Off Por Today Newsroom

A fatia de brasileiros que engrossou a lista de inadimplentes pela falta de pagamento de despesas com comida no primeiro semestre foi a maior em cinco anos. A disparada da inflação e a queda na renda explicam a entrada de devedores para lista do calote pelo não pagamento da fatura de um item básico.

Entre janeiro e junho, 18% dos inadimplentes deixaram de quitar despesas com alimentação e, por isso, foram parar na relação dos CPFs (Cadastro de Pessoa Física) com restrição — a marca mais elevada desde o primeiro semestre de 2017, quando a Boa Vista começou a coletar essas informações.

Contas diversas não pagas, que incluem as de educação, saúde e lazer, além de impostos e taxas, ainda são apontadas como as despesas que ainda têm levado a maior parte dos consumidores à inadimplência (23%).

Mas, desde o segundo semestre de 2021, a parcela dos que não conseguiram honrar o pagamento de alimentos chama atenção. “Instituições financeiras nos relatam que o pessoal está pegando dinheiro [crédito] para pagar contas do mercado, do dia a dia”, diz o economista da Boa Vista, Flávio Calife.

Segundo a empresa de inteligência financeira e análise de crédito, para o levantamento foram consultados eletronicamente 1.500 inadimplentes para fim de traçar o perfil desses consumidores.

A inflação do grupo alimentação e bebidas acumula alta de 14,72% no acumulado em 12 meses, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o índice oficial de inflação do país — valor superior ao da variação do indicador como um todo no mesmo período (que foi de 10,07%).

Os principais motivos alegados para a inadimplência no primeiro semestre foram o desemprego (apontado por 28% dos entrevistados) e a diminuição da renda (24%), que ficou 3 pontos percentuais acima do levantamento no semestre anterior. “É, sem dúvida, um fato de um ano para cá”, diz Calife.

Endividamento crônico

A percepção dos entrevistados é de que o quadro do endividamento pessoal piorou muito. Do segundo semestre de 2021 para o primeiro deste ano, a parcela de consumidores que se considera muito endividada subiu de 32% para 37% — a maior marca desde 2019, quando esse resultado atingiu 39%.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou para 13,75% a taxa de juros básica da economia, a Selic. Foi a 12ª alta consecutiva na tentativa de segurar a inflação, e o comitê sinalizou que poderá continuar subindo a Selic na próxima reunião, marcada para setembro.

Com juros e inflação ainda em alta e atividade fraca, a perspectiva, segundo o economista da Boa Vista, é de que a inadimplência continue crescendo nos próximos meses, até o ano que vem. “Juros altos contribuem para piora da inadimplência”. Dados da Boa Vista, mostram que o calote encerrou o primeiro semestre deste ano com alta de 12,3%. No acumulado em 12 meses, o avanço foi de 7,5%.

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