As ações que mais devem ganhar e as que mais devem perder com as novas tendências no pós-pandemia

As ações que mais devem ganhar e as que mais devem perder com as novas tendências no pós-pandemia

julho 17, 2020 Off Por Today Newsroom

InfoMoney na Expert 2020 (Getty Images/Leo Albertino)

SÃO PAULO – Ibovespa voltando aos 100 mil pontos, bolsas dos EUA praticamente zerando as perdas do ano. Passado o pânico, que teve seu auge em março com a pandemia do coronavírus, os mercados globais mostram expressiva recuperação.

Contudo, isso não quer dizer que a Covid-19 não tenha deixado grandes efeitos para os cases de investimentos das empresas listadas em bolsa. Pelo contrário, ela mudou completamente a perspectiva para alguns setores, ainda mais levando em conta mudanças de hábitos, a princípio temporárias por conta da pandemia, que podem se tornar permanentes. Esse tema fez parte de painéis entre analistas e gestores durante a Expert XP 2020.

Para Thiago Kapulskis, sócio da Apex Capital e analista de empresas globais, “o coronavírus acelerou uma série de tendências no mercado, sendo que muitas delas só podem ser capturadas através de investimentos no exterior”.

Nos casos das empresas de-commerce (ou varejistas com forte exposição no setor), que viram suas demandas crescerem substancialmente em meio às lojas fechando suas operações físicas durante a pandemia, há algumas opções no universo brasileiro, como o caso de Magazine Luiza (MGLU3), listada na B3, com alta de 203% na base anual em suas vendas.

Com grande participação no mercado brasileiro, o Mercado Livre também viu suas vendas acelerarem durante a pandemia, com alta de 73% em abril na base anual – os ativos da companhia são listados na Nasdaq. A Amazon, que viu o crescimento de download nos seus aplicativos, também duplicaram, mostrando o potencial de possíveis clientes.

A tendência é de alta no mundo inteiro. Nos EUA, os gastos se aceleraram fortemente durante a pandemia. Antes do coronavírus, a trajetória já era de avanço, de 15%, mas a alta se intensificou para 70% em maio na comparação ano-a-ano

“Mesmo nas categorias onde o e-commerce teve dificuldades de penetração, como nos setores de alimentos, o e-commerce conseguiu registrar resultados fortes. Muita gente começou a tentar comprar frutas, verduras e outros tipos de alimentos pelo comércio online e a gente viu um crescimento de mais de 200% ao ano no pico da pandemia nos EUA”, destaca Kapulskis.

Para saber as tendências do setor, a Apex observa de forma atenta pesquisas com consumidores. Uma delas destacou que, em alguns países da Europa, continente com mais dificuldade de penetração do e-commerce, cerca de 60% dos clientes de França, Itália e Espanha pretendem permanecer comprando mais produtos online.

Além dos nomes considerados óbvios, como de empresas com exposição ao e-commerce, o analista destaca que companhias como Klabin (KLBN11) podem ser beneficiadas por conta da maior demanda por embalagens.

“No caso do e-commerce, se você acredita nessa tendência como duradoura, esses nomes como Magazine Luiza, Amazon, Mercado Livre e Klabin podem ser beneficiados dessa tendência”, afirma o analista.

Outro setor que vale ficar atento é o de pagamentos online. Segundo o analista, há tendências interessantes como de alta das transações de cartão “não-presente” (a mais significativa no online), nos EUA passaram de 35% para mais de 50% do total nos EUA durante a pandemia. No mercado de ações brasileiro, é mais difícil capturar essa tendência diretamente, mas no exterior há opções como os ativos do PayPal, listado na Nasdaq. Kapulskis ressalta que a abertura de contas globalmente em abril, no pico da pandemia, foi de 2 vezes a 2,5 vezes maior que nos 3 meses anteriores, para mais de 7 milhões – e segue em tendência de alta.

Online streaming é outro setor com forte expansão em meio à pandemia. Netflix, por exemplo, viu os downloads chegarem a crescer 40% ano-a-ano no pico da crise. O Youtube, do Google, também foi um beneficiário da crise, com uma aceleração da utilização da plataforma.

Outras tendências destacadas são de trabalho remoto e ensino à distância: “Conforme destacou Satya Nadella, CEO da Microsoft, vimos dois anos de transformação digital em dois meses. Essa fala foi muito representativa”, avalia o analista, destacando o forte crescimento de usuários no Teams (da própria Microsoft) e do aplicativo Zoom.

No caso do ensino à distância, aplicando ao caso brasileiro, uma grande beneficiária seria a brasileira Yduqs (YDUQ3), ex-Estácio. Outros possíveis beneficiários são as empresas de saúde, uma vez que há uma tendência observada internacionalmente da população ampliar acessos a planos de saúde também no pós-pandemia. “Nesse caso, se isso se transpor ao Brasil, nomes como Intermédica (GNDI3) e Hapvida (HAPV3) podem ser beneficiados”.

Na mesma linha, Carlos “Duda” Rocha, gestor da Occam, destacou durante painel ver a americana Apple muito bem posicionada, principalmente quando o assunto é o 5G, “o grande tema do futuro”. Na avaliação do gestor, as empresas de tecnologia americanas estão mais baratas do que as brasileiras.

Ele ainda apontou ver com otimismo a B3 (B3SA3), destacando que o ambiente de juros notoriamente baixos são bastante positivos para o crescimento das operações na bolsa brasileira. Na avaliação do gestor, a bolsa ainda encontra espaço para a valorização esse ano, ainda que pouco expressiva, devendo atingir os 110 mil pontos.

Recuperação lenta e gradual pode ter ganhadores

Quem também está cautelosamente otimista com a economia brasileira é a Dahlia Capital. Após uma forte queda do PIB em 2020 por conta da pandemia, a previsão é de que a recuperação deva ser lenta e gradual, aponta Sara Delfim, analista da gestora.

Porém, ela avalia esse movimento como positivo, uma vez que a inflação também não deverá ser fortemente pressionada, não devendo levar a uma alta da Selic que poderia, a princípio, fazer com que os investidores se voltassem mais à renda fixa. “Para a bolsa, o PIB morno pode ser bom”, ressalta.

Sara destacou o otimismo com os ativos do Brasil e apontou que a carteira do fundo do Dahlia Total Return está focada em três temas: juros baixos (com investimentos em elétricas, boas pagadoras de dividendo), tecnologia e e-commerce e empresas líderes, que devem se sair fortalecidas da crise.

“Quem está na bolsa são as melhores e maiores empresas do Brasil, não a economia real. Assim, o PIB morno traz menos competição, o que pode ser bom para  empresas como Lojas Renner (LREN3), Lojas Americanas (LAME4)”, apontou. A fundadora da Dahlia ainda reforçou gostar das ações da WEG (WEGE3).

O otimismo com a tese em Brasil continua, com 50% da carteira do do Dahlia Total Return alocada em ações do país, mas 20% do Dahlia Total Return é alocado em ações no exterior, majoritariamente nos EUA. Conforme aponta Sara, os Estados Unidos devem continuar exercendo papel de destaque na economia global ao longo da próxima década, por uma combinação de quatro fatores: 1) a força das instituições, 2) tecnologia e inovação e 3) demografia e 4) geografia.

De olho na China

Ganhando espaço durante a crise na carteira dos investidores, também estão as ações de empresas de logística, em meio à recuperação de um outro grande gigante da economia, a China, o que deve ter um reflexo direto sobre o setor de agronegócio brasileiro. Isso fez com que o gestor da Indie Capital, Daniel Reichstul, aumentasse recentemente a posição que já tinha no portfólio na Rumo (RAIL3).

Segundo Reichstul, o câmbio favorável para as exportadoras locais e a safra recorde do agronegócio, somados à pujante demanda chinesa, devem contribuir para um desempenho positivo da Rumo nos próximos meses.

Rafael Maisonnave, gestor da Tarpon, por sua vez, destacou que a crise provocada pela pandemia de coronavírus voltou seu olhar para empresas com receitas mais estáveis, de maior previsibilidade. Ele citou como exemplo a companhia paranaense de saneamento Sanepar (SAPR11).

“A Sanepar é uma empresa que vende água, com uma demanda altamente inelástica”, destacou, mencionando ainda Alupar e Wilson Sons dentro da mesma tese de investimento.

Cássio Bruno, sócio gestor da Moat Capital, citou ainda Lojas Americanas e Via Varejo (VVAR3) entre as ações na carteira em que deposita alta convicção.

No caso da dona das Casas Bahia, dada a valorização do papel, de 70% em 2020 até ontem, ante uma queda de 13% do Ibovespa no período, o ativo ganhou espaço na carteira e representa hoje a maior aposta no fundo de ações da Moat.

“A Via Varejo fez uma transição digital muito rápida, e o mercado precificou que ela ia quebrar”, afirmou Bruno. No caso das Lojas Americanas, além da aposta no digital, o fato de ela ter mantido as lojas físicas abertas mesmo durante a quarentena se mostrou uma importante vantagem, disse o sócio da Moat (veja mais sobre essas teses de investimento clicando aqui).

Ações prejudicadas também no pós-pandemia

Por outro lado, a pandemia do coronavírus colocou no radar novas tendências que podem afastar os investidores de alguns setores, como é o caso de aviação, com representantes como Latam, Gol e Azul, avalia Kapulskis, da Apex.

“Além de uma queda substancial em número de passageiros embarcados nos aeroportos, um número menor de viagens de trabalho (estrutural) pode prejudicar as operações. Em uma pesquisa com grandes CEOS, mais de 50% avaliaram que a demanda por viagem de negócios nunca mais voltará ao patamar pré-pandemia”. No exterior, o especialista ainda destaca que ações de empresas como Expedia, que faz reserva de hotéis e tem ações listadas na Nasdaq, podem sofrer mais.

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