Após fala de Bolsonaro, crescem apostas de furo ao teto de gastos no mercado

Após fala de Bolsonaro, crescem apostas de furo ao teto de gastos no mercado

agosto 14, 2020 Off Por Today Newsroom

BRASILIA, BRAZIL – AUGUST 12: Jair Bolsonaro President of Brazil makes a pronouncement reaffirming his commitment to the government spending ceiling amidst the coronavirus (COVID-19) pandemic at the Alvorada Palace on August 12, 2020 in Brasilia. President of the Senate Davi Alcolumbre, Rodrigo Maia, president of Brazil’s Lower House, Economy Minister Paulo Guedes and parliamentarians and ministers accompanied the president. Brazil has over 3.164,000 confirmed positive cases of Coronavirus and has over 104,201 deaths. (Photo by Andressa Anholete/Getty Images)

SÃO PAULO – As idas e vindas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e as disputas internas no governo federal por recursos orçamentários levaram agentes do mercado financeiro a elevar o nível de preocupação com um possível descumprimento do teto de gastos em 2021. A regra fiscal determina que as despesas públicas totais não podem crescer acima da inflação do ano anterior.

Uma sondagem feita pela XP Investimentos com 72 investidores institucionais, entre a noite de quinta e a manhã de sexta-feira (14), mostra que 67% acreditam que a âncora fiscal será “furada” de alguma forma a partir do ano que vem.

A maioria dos entrevistados (53%) acredita que o teto de gastos será alterado ou driblado de alguma forma a permitir gastos adicionais do governo. Outros 33% dizem que as despesas serão contidas pelo teto.

Segundo o levantamento, entre os que esperam o descumprimento da regra, a média das projeções indica um “transbordamento” de R$ 54 bilhões em relação ao limite de R$ 1,485 trilhão fixado para o orçamento do ano que vem. O valor do teto é formado a partir da inflação medida pelo IPCA do IBGE nos doze meses encerrados em junho (2,13%).

Na avaliação de economistas, o crescimento baixo da inflação gera uma pressão adicional para o cumprimento do teto de gastos, já que permite uma correção menor nos valores de um ano para o outro. Membros da equipe econômica, porém, argumentam que a maior parte das despesas obrigatórias está indexada à inflação, o que em tese evitaria este problema adicional.

O que se observa nos últimos anos, no entanto, é uma evolução mais acelerada de despesas obrigatórias (que respondem por cerca de 90% do orçamento público), movimento compensado por cortes nas despesas discricionárias, sobretudo vinculadas a investimentos públicos. Quanto mais a história se repete, menor a margem de manobra do gestor e maior a pressão sobre o teto de gastos.

Nos últimos meses, o debate se acirrou, em meio a uma disputa interna no governo federal. De um lado, a ala fiscalista, liderada pelo ministro Paulo Guedes (Economia), chama atenção para a importância de se manter uma postura de responsabilidade com as contas públicas e os riscos de se abandonar a âncora fiscal.

Do outro, conselheiros de Bolsonaro defendem a ampliação de despesas em obras públicas e programas sociais para a superação da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. Este grupo tem como expoentes o ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), além de membros da ala militar.

Nesta semana, Guedes foi enfático ao defender o teto de gastos e prometeu “brigar com ministros fura-teto”. Ele disse que a insistência no caminho do descumprimento das regras fiscais poderia levar Bolsonaro “a uma zona sombria, de impeachment”. O ministro também mencionou as demissões de Salim Mattar e Paulo Uebel de sua pasta para fazer uma cobrança pelo avanço de reformas.

No dia seguinte, Bolsonaro convocou a imprensa e, em breve pronunciamento, ao lado dos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse que respeita o teto de gastos e a responsabilidade fiscal.

Mas um dia depois, em live nas redes sociais, o presidente relatou uma “boa briga” no governo e disse que a “ideia de furar o teto existe”. “Qual o problema?”, questionou. Na ocasião, o mandatário também alfinetou os agentes financeiros. “Agora esse mercado tem que dar um tempinho também, né? Um pouquinho de patriotismo não faz mal a eles, né? Não ficar aí aceitando essa pilha”, disse.

Depois da repercussão dos fatos, nesta sexta-feira, Bolsonaro foi às redes sociais criticar a cobertura da imprensa e dizer que o teto de gastos é o “norte” do governo federal.

Preços dos ativos

No levantamento, a XP também compilou as projeções dos investidores para câmbio, bolsa e juros em três cenários: 1) com a manutenção do teto de gastos; 2) com uma mudança ou ruptura parcial do teto de gastos; 3) sem a regra fiscal. No primeiro caso, a média das projeções aponta para o dólar a R$ 5,00, o Ibovespa a 117.500 pontos e os DIs com vencimento em janeiro de 2027 a 6,00%.

No segundo cenário, as apostas são de dólar a R$ 5,50, Ibovespa a 100.000 pontos e DIs a 7,00%. Já no caso de uma extinção do teto de gastos, os analistas veem os três indicadores, respectivamente, a R$ 6,50, 80.000 pontos e 9,00%.

Auxílio emergencial

O levantamento também ouviu as apostas dos investidores para o auxílio emergencial de R$ 600. Para 83% dos entrevistados, o benefício será prorrogado, mas limitado a 2020. Outros 15% acreditam em uma prorrogação mais ampla, impactando no orçamento do ano que vem. Ao passo que apenas 1% vê o programa encerrado em agosto.

Foram realizadas 72 entrevistas com investidores institucionais entre a noite de quinta e a manhã de sexta-feira – portanto, após o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro em defesa do teto de gastos e as posteriores declarações de que o governo discute “furar” a regra fiscal. Os questionários foram aplicados eletronicamente e os resultados são divulgados apenas de forma agregada.

Entre os entrevistados, 44% são gestores, 32% economistas e 15% traders. A maior parte do público atua em gestoras (68%). Outros 24% trabalham em bancos ou instituições financeiras.

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