Alta da inflação eleva expectativa por Copom, mas economistas não projetam grandes mudanças na mensagem do BC

Alta da inflação eleva expectativa por Copom, mas economistas não projetam grandes mudanças na mensagem do BC

outubro 23, 2020 Off Por Today Newsroom

SÃO PAULO – Mais uma vez, a inflação surpreendeu para cima no Brasil. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) registrou alta de 0,94% em outubro, após ter avançado 0,45% em setembro, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a maior alta para meses de outubro desde 1995, quando o IPCA-15 havia saltado 1,34% e superou as estimativas de alta de 0,83% do consenso Bloomberg.

O indicador apresentou variação positiva de 3,55% nos últimos doze meses. No mês, o destaque ficou com as pressões de alimentos no domicílio (com alta de 2,95%) e passagens aéreas. Arroz, carnes e passagens aéreas foram os principais destaques de alta e educação foi o único setor que apresentou descompressão no mês.

Os núcleos (que buscam desconsiderar distúrbios resultantes de choques temporários) também aceleraram: a média passou de uma elevação de 0,28% no IPCA fechado de setembro para outra de 0,57% nessa divulgação. Com isso, os principais contratos de juros futuros tiveram alta na sessão.

Após o dado, algumas casas de análise revisaram as expectativas para a inflação para cima e também apontaram o que esperar para a política monetária daqui para frente.

Foi o caso da XP Investimentos, que destacou que a intensificação da pressão nos preços dos alimentos levou à mudança na projeção do IPCA de 2020 de 3,1% para 3,25%.

“Para 2021, o cenário é incerto e os aumentos persistentes dos preços das commodities e a incerteza com relação à saída da crise epidemiológica podem pressionar o IPCA para além dos 3,0% (a nossa projeção atual é de 2,6%)”, avalia Lisandra Barbero, economista da XP que assina o relatório (veja mais clicando aqui).

Contudo, considerando que as pressões nos preços estão sendo causadas fundamentalmente por movimentos muito peculiares da pandemia (que devem se dissipar ao longo de 2021 e 2022) e dada a ociosidade bastante elevada da economia para os próximos anos (a projeção da XP é de taxa de desemprego de 15,5% em 2020 e 14,5% em 2021), a tendência subjacente de inflação deve seguir baixa, avalia.

O Bradesco BBI reforça que, desta vez, o vilão do resultado não foi apenas a inflação de alimentos, mas também a natureza generalizada do aumento. “A desvalorização do real e a alta dos preços das commodities, aliados ao descompasso na cadeia produtiva e à retomada da atividade econômica mais forte do que o esperado, foram os principais motivos das recentes pressões inflacionárias. A nosso ver, o IPCA deve continuar refletindo esse ambiente até o final do ano. Em relação a 2021, o fim do estímulo governamental provavelmente apresentará alguns impactos negativos na atividade e na inflação”.

Com isso, os economistas do BBI revisaram a projeção para o IPCA do ano de 2020 de 2,6% para alta de 3,0%, enquanto mantiveram a projeção para o ano que vem de alta de 3,5%.

Mariana Guarino, gestora da Truxt Investimentos, também ressaltou que a surpresa da inflação foi “espalhada”, com núcleos em alta e grande pressão em bens e serviços, que reverteram com mais força a queda registrada anteriormente. Conforme avaliou a gestora para a Bloomberg, isso pode ter impacto no próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), que acontecerá entre terça (27) e quarta (28) da semana que vem. “O Copom deveria ajustar sua análise sobre a inflação”, avaliou.

O Morgan Stanley, por sua vez, ressalta esperar que as pressões sobre os preços dos alimentos e o aumento do núcleo da inflação sejam temporários, à medida que as condições de oferta e demanda se normalizam e devido a um grande hiato negativo do PIB – ou seja, quando a economia opera com ociosidade dos fatores produtivos.

“A inflação provavelmente não será uma preocupação para o Banco Central no curto prazo; as preocupações com a dinâmica fiscal estarão no centro do debate. Quaisquer indícios de que a principal âncora fiscal do país [teto de gastos] não será respeitada pode colocar em risco a estabilidade financeira, com o câmbio se depreciando ainda mais e a inflação acelerando, o que seria uma receita para aumentar as taxas de juros”, avaliam os economistas do banco.

A Capital Economics reforça ser provável que, pelo fato de haver um aumento contínuo dos preços dos alimentos, a inflação deve se manter em alta nos próximos meses. Contudo, o núcleo da inflação ainda parece baixo (apesar da alta recente), o que deve permitir que o Banco Central mantenha a Selic em sua mínima histórica de 2% – para os economistas da Capital Economics, a taxa ficará nesse patamar até 2022, em contraste com o consenso de mercado, que já prevê alta no próximo ano.

“Duvidamos que esses dados tenham grande influência na decisão do Copom da próxima semana (…). O BC fez, até agora, pouca (ou nenhuma) menção à alta da inflação dos alimentos e suspeitamos que o tom das comunicações que as acompanham permanecerá assim sobre esse tema”, avaliam.

Para o Itaú, na próxima reunião, o Copom deve alterar as projeções para a inflação no cenário básico – com a projeção passando de 2,1% para 2,8% em 2020 e de 2,9% para 3% em 2021, permanecendo em 3,3% para 2022.

Os economistas do banco, que também esperam manutenção da taxa, destacam que a percepção é consistente com comunicações recentes, como a ata da última reunião, que não trouxe mudanças significativas de tom em relação ao documento anterior.

“As declarações dos membros do comitê nas últimas semanas, transmitindo que o uso do forward guidance [usar as expectativas ao máximo, olhando para as projeções de inflação tanto para 2021 quanto para 2022, um horizonte mais longo] como um instrumento de política monetária seria abandonado em caso de deterioração das perspectivas fiscais são importantes e destacam as condicionalidades do comitê. No entanto, tais sinais não devem levar a uma mudança na postura da política monetária visto que não houve, pelo menos até o momento, uma mudança clara no regime fiscal. Com isso, esperamos que o Copom mantenha o forward guidance como está, mas com a indicação de que suas condicionalidades serão constantemente reavaliadas”, avaliam.

Assim, permanece válido que a estabilidade da taxa básica de juros é justificada por expectativas de inflação ancoradas e por estimativas de inflação abaixo da meta no horizonte relevante para a política monetária. Elas acabam por compensar a assimetria no balanço de riscos decorrente das incertezas fiscais, preocupações com questões prudenciais e riscos para a estabilidade financeira resultantes de taxas de juros historicamente baixas.

“Nosso cenário básico segue consistente com a manutenção da taxa Selic por um longo período em patamar extraordinariamente estimulativo. (…) Ressaltamos, porém, que tal avaliação, conforme projeção do Copom, está condicionada à manutenção da sustentabilidade das contas públicas. Nesse sentido, para as próximas decisões será particularmente importante acompanhar as discussões sobre a evolução do gasto público nos próximos anos”, reforça o Itaú.

Assim, a questão fiscal – e não a alta da inflação – segue sendo o principal condutor da política monetária, na avaliação dos economistas. Caso haja alguma deterioração da perspectiva fiscal, contudo, ela pode gerar ainda maior pressão sobre os preços, o que poderia mudar as indicações da autoridade monetária.

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