Ação do BB não tem forte reação à saída de Novaes enquanto investidores esperam por substituto; veja os nomes cotados
julho 27, 2020SÃO PAULO – Após a renúncia ao cargo do presidente do Banco do Brasil (BBAS3) na noite da última sexta-feira (24) pegar de surpresa os investidores e prenunciar uma reação negativa do mercado na sessão desta segunda-feira (27), o noticiário sobre os motivos para a saída de Rubem Novaes e sobre seus possíveis substitutos dão mais indicações sobre o futuro do banco estatal – mas sem dirimir totalmente as incertezas.
Vale destacar que as ações não chegaram a registrar uma reação extremamente negativa após a saída do CEO, chegando a cair cerca de 1,2% na mínima do dia na sessão desta segunda-feira (27), operando perto da estabilidade no final da manhã e passando a registrar ganhos por volta das 11h30. Contudo, elas destoam do movimento geral do setor da B3, uma vez que o dia é de alta ainda mais expressiva para os ativos de bancos, com ganhos superiores a 2%.
Conforme destaca o Credit Suisse, a saída de Rubem Novaes pode ser vista como marginalmente negativa. Isso porque ele era um grande incentivador da privatização e, em sua saída, mencionou que o banco precisava de uma nova liderança para lidar com os desafios de inovação na indústria.
Já de acordo com a análise do Bradesco BBI, o mercado pode avaliar alguns fatores, isoladamente ou em conjunto, para a saída de Novaes da instituição, sendo que nenhum pode ser considerado positivo para as ações.
São eles, apontam os analistas do BBI: (i) Rubem Novaes tem 74 anos e é extremamente bem respeitado no setor como um expoente do pensamento liberal no país. Assim, “se a decisão de renunciar foi motivada por sua crença de que o banco precisa de um tipo diferente de equipe administrativa, tê-lo apontado como o nome para administrar o BB um ano e meio atrás pode ter custado um tempo importante para o banco” afirmam; (ii) como liberal, alguns podem pensar que sua saída foi influenciada pela crescente pressão para o BB desempenhar um papel anticíclico maior, como foi feito na crise anterior e (iii) à luz das declarações feitas durante a sua permanência como CEO, os investidores podem ver sua saída como resultado das barreiras enfrentadas por ele quando se trata de implantar uma operação cada vez mais eficiente.
No fim de semana, Rubem Novaes afirmou que já havia sinalizado a sua intenção de deixar o comando do BB ao ministro da Economia, Paulo Guedes, no fim de maio.
Segundo ele afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo, a decisão antecipou o imbróglio envolvendo a publicidade do banco e sites de fake news e que foi parar em órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União (CGU).
“Minha primeira mensagem para o PG (Paulo Guedes) antecede a esta questão do CGU. Simplesmente chegou a hora de sair e dar lugar a alguém da geração digital”, disse ele, afirmando ainda que também pesou a “cultura apodrecida” de Brasília. Anteriormente, o executivo já havia demonstrado insatisfação com a realidade política local.
Vale destacar que a sua saída, a princípio vista como repentina, havia alimentado especulações de que teria ocorrido por motivos políticos.
De acordo com auxiliares de Paulo Guedes ouvidos pelo jornal O Globo, o executivo teria alegado cansaço e desejo de voltar ao Rio de Janeiro. A ideia da equipe econômica é evitar descontinuidade e fechar portas para indicação política.
Segundo um analista que não quis se identificar, apesar do noticiário apontando que ele já planejava a sua saída aliviar um pouco os temores dos investidores, isso não elimina o lado negativo, ainda mais levando em conta que Novaes citou questões políticas como um problema.
Outro ponto é que Novaes era responsável pelas concessões e prezava pelo acionista minoritário, avalia esse analista. “Não sabemos como vai ser o novo gestor. Como investidor do BB, estaria preocupado até saber quem vai ser o próximo nome a assumir o cargo”, afirma.
À procura de um nome
Conforme apontou Marcel Campos, analista da XP Investimentos, em nota divulgada ao mercado na última sexta-feira, uma vez que a renúncia do CEO ocorreu sem a devida transição, com nome de um substituto ou interino a serem selecionados, o movimento pode passar uma sinalização negativa para o mercado.
Pesa negativamente, afirma o analista, o momento da saída, em meio a uma crise de saúde e econômica, e a falta de visibilidade do mercado em entender questões importantes sem o nome do substituto, como qual será a nova postura do banco frente a temas como criação de valor, defesa do banco e relação com acionistas minoritários.
Por outro lado, avalia, existe ainda a oportunidade de o governo, que é o controlador, selecionar alguém que tenha boa percepção por parte do mercado para liderar o banco, o que viria a ser positivo. “Um executivo de mercado seria ideal, porém também existem oportunidades em funcionários de carreira com boa percepção pelo mercado”, afirma Campos.
Com isso, agora as atenções do mercado se voltam para os possíveis substitutos de Novaes no cargo.
Os jornais O Globo e o Estado de S. Paulo apontaram para alguns nomes cotados, dentre eles: i) Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, atual vice-presidente de Gestão Financeira e Relação com Investidores do BB; ii) Hélio Magalhães, presidente do Conselho de Administração do BB; iii) Mauro Ribeiro Neto, atual vice-presidente Corporativo do banco e iv) Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, nome descartado a princípio com a assessoria do executivo negando a possibilidade.
Ainda segundo o Estadão, Walter Malieni, de negócios de atacado, e Fabio Barbosa, de desenvolvimento de negócios, também estão na bolsa de apostas.
No caso de Hamilton, conforme aponta a publicação, este nome é considerado com melhor entrada na equipe econômica e sinaliza continuidade na gestão de Novaes. Já Malieni conhece as várias frentes do BB. Barbosa, por sua vez, com estilo reservado, é visto como um perfil adequado para presidir o banco, considerando os desafios tecnológicos existentes no setor bancário.
“Entre as possibilidades, as que consideraríamos mais favoráveis ao banco, implicando uma transição mais suave, são Hélio Magalhães, Fábio Barbosa e Mauro Ribeiro Neto”, afirmam os analistas do Bradesco BBI.
Contudo, vale destacar, a escolha final será do presidente Jair Bolsonaro. “Por isso, interlocutores não descartam que a indicação seja de um nome fora da bolsa de apostas”, aponta o jornal O Globo. Conforme aponta a publicação, Novaes deixa o cargo sem conseguir privatizar o banco, seu principal desejo, e também em meio a uma cobrança de Bolsonaro por uma atuação mais incisiva do Banco do Brasil, especialmente na redução de juros, o que pode pesar na escolha do presidente.
Desta forma, a expectativa é de que haja volatilidade para os papéis na Bolsa enquanto não haja decisão de um novo nome para o banco, ainda que a queda seja amortecida pelas sinalizações de continuidade.
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