A bioeconomia ganha espaço no agronegócio brasileiro

A bioeconomia ganha espaço no agronegócio brasileiro

junho 3, 2020 Off Por Today Newsroom

Bioeconomia, agronegócio
Getty Images

Diversas agendas que se aproximavam lentamente do agronegócio brasileiro serão quase obrigatórias neste mundo pós-pandemia: certificação, rastreabilidade, venda de alimentos por e-commerce, bioeconomia, sanidade e sustentabilidade. De certa forma, em alguns setores as agendas citadas eram mais presentes, em outros incipientes.

Segundo a ONU, até 2050 a população mundial se aproximará de 10 bilhões de pessoas. E isso ampliará a pressão sobre a agricultura e os recursos naturais.

A transformação do atual modelo econômico de desenvolvimento – baseado tanto na utilização de fontes fósseis (petróleo, gás e carvão), quanto na degradação do meio ambiente é um dos principais desafios globais.

A bioeconomia dá uma saída para este desafio e cria um novo paradigma de desenvolvimento. Seu conceito é amplo: uma atividade econômica que reúne setores que produzem e utilizam recursos biológicos.

A necessidade dessa agenda se dá sobre dois pilares: pressão da sociedade, em especial dos consumidores mais atentos e que transformam tendência em realidade, além do próprio esgotamento dos recursos não-renováveis.

O setor tem potencial de atrair US$ 400 milhões para o Brasil em investimentos nos próximos 20 anos e gerar mais de 200 mil empregos, de acordo com a Associação Brasileira de Bioinovação.

Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), a bioeconomia movimenta no mercado mundial cerca de 2 trilhões de euros e gera cerca de 22 milhões de empregos.

O segmento de floresta plantada no Brasil está totalmente conectado com a bioeconomia e irá assumir o protagonismo no Brasil.

“O setor tem a sua matéria prima (madeira) utilizada na produção de produtos que são renováveis, recicláveis e muita vezes biodegradáveis”, registra Patricia Machado, coordenadora de bioeconomia do IBA – Indústria Brasileira da Árvore.

E existe uma infinidade de pesquisas e produtos em desenvolvimento: resinas, óleos, bio-óleos, nanofibra, nanocelulose e nanocristais que podem ser utilizados na indústria de alimentos, automobilística, cosméticos, medicamentos e produtos têxteis.

Os nanocristais, por exemplo, têm potencial de aplicação em sensores da indústria de petróleo e gás, cosméticos, tintas, na indústria de eletrônicos.

A Suzano, referência no setor de floresta plantada, projeta o futuro de olho em cinco plataformas principais, além dos produtos do portfólio atual (papel e celulose), segundo Fernando Bertolucci, diretor de inovação da empresa: bio-óleo, lignina (resinas), nanoceluloses, biocompositos (substituto para os plásticos atuais) e celulose solúvel.

Olhando para a indústria têxtil hoje, alguns números surpreendem: 500 bilhões de dólares/ano em valor perdido devido a subutilização de roupas e falta de reciclagem e responsabilidade por 8 a 10% das emissões de gases de efeito estufa.

Mas, em 2023, segundo a United Nations Alliance for Sustainable Fashion, 7,5% da produção de têxteis virão de fibras de madeira.

A startup finlandesa Spinnova, que tem a Suzano como sócia, detém a tecnologia para transformar a nanocelulose em fios têxteis, processo que economiza 90% da água e 90% dos químicos utilizados hoje na indústria têxtil tradicional. “É uma revolução”, comemora Bertolucci.

Em dois anos, a primeira planta industrial pré-comercial da Spinnova deve entrar em operação – e, em cinco anos, o produto deverá ser completamente comercial.

O fortalecimento da bioeconomia deve ser comemorado, mas não podemos nos esquecer da vida que leva o setor de etanol, primeira experiência brasileira em bioeconomia, que desde o início, na década de 1970, parece ser o setor do futuro.

No entanto, ele caminha aos trancos e barrancos, nunca se firmando totalmente no Brasil, mesmo com o gigantesco potencial. Mas alguns fatores explicam as crises sucessivas do setor sucroalcooleiro (etanol, açúcar e energia).

A relação direta entre o preço do etanol e o preço do petróleo é um enorme desafio. Ao final do dia, o cliente vai escolher o produto mais barato na bomba. Toda vez que o petróleo caiu muito ao longo destes 40/45 anos, o álcool ficou com margens negativas.

Quando o governo federal resolve fazer política e segura o preço artificialmente da gasolina, gera quebradeira no setor. E isso aconteceu nos últimos 10 anos: foram mais de 80 usinas fechadas e 70 pediram recuperação judicial.

Na última década, também tivemos outro problema: um excesso de oferta de açúcar no mercado internacional.

O RenovaBio (política que cria créditos de descarbonização), aprovado pelo Congresso Nacional, pode ser a salvação do setor. Os primeiros passos já foram dados no mercado

O portfólio de produtos da bioeconomia cresceu muito. Muito além do etanol e do açúcar. Há mais de 3 mil produtos desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Por tudo isso, o setor ganha espaço no agronegócio brasileiro. E tem tudo pra se firmar em definitivo ao lado da soja e da proteína animal, nossos campeões nacionais.

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