As principais visões de negócios, segundo os participantes da Expert XP 2020

As principais visões de negócios, segundo os participantes da Expert XP 2020

julho 20, 2020 Off Por Today Newsroom

InfoMoney na Expert 2020 (Getty Images/Leo Albertino)

SÃO PAULO – A pandemia tem gerado muitas lições e acelerado algumas tendências entre as empresas que, diante das paralisações para conter o avanço do vírus e das mudanças causadas no consumo, estão buscando soluções para enfrentar os impactos causados pela crise em seus negócios.

Soluções que vão desde a transformação digital das operações, mudança da cultura corporativa, com a adoção do teletrabalho, foco em diversidade e a preocupação com a saúde e bem-estar dos consumidores e colaboradores e o cuidado com as questões socioambientais.

Esses movimentos foram temas de diversos painéis durante a Expert XP 2020, conferência promovida pela XP Inc. na última semana.

Garantir a segurança de seus colaboradores e desenvolver ações para ajudar a comunidade ao seu redor foram as preocupações iniciais de empresas como XP Inc., Renner e Ambev quando a pandemia do coronavírus chegou ao país.

A XP Investimentos criou a campanha “Juntos Transformamos” e doou o equivalente a R$ 30 milhões em cestas básicas para comunidades carentes. Já a Renner doou máscaras de proteção e aventais e fez doações em torno de R$ 4,1 milhões para hospitais na linha de frente de combate à Covid-19.

“Essa crise acordou o lado cidadão de todos nós”, disse Carlos Brito, CEO da Anheuser-Busch InBev durante painel sobre liderança. Durante a pandemia, a Ambev produziu álcool em gel e máscaras acrílicas em suas fábricas, além de ter ajudado na construção de 100 novos leitos para atender a rede pública de São Paulo.

Solidariedade que gera impacto

Com o cenário que se forma, Beatriz Johannpeter, uma das herdeiras da família Gerdau, afirmou que as empresas brasileiras estão mais preocupadas em gerar valor para suas marcas, a partir de investimentos de impacto e com a criação de estruturas de governança com foco nessas áreas.

Em painel com empresários e investidores engajados em projetos ambientais e sociais, a executiva pontuou que, apesar das doações terem aumentado durante a pandemia, é preciso desenvolver mais ações continuadas para que os investimentos gerem impactos ainda maiores.

“A sociedade civil organizada precisa desses recursos e realmente as empresas têm um papel importante nesse sentido. Os empresários, as famílias bilionárias podem contribuir e cada um de nós, como cidadãos, também”, disse.

Assumir um papel de transformação numa sociedade tão desigual como a brasileira deve ser um dos aprendizados gerados pela crise, de acordo com Eduardo Lyra, fundador da ONG Gerando Falcões.

Em conversa com o CEO da XP Inc., Guilherme Benchimol e a CEO da XPEED, Izabella Mattar, o empreendedor social, que desde do início da pandemia arrecadou mais de R$ 20 milhões em doações, reforçou que a cultura de filantropia deve ser disseminada no país nos próximos anos.

“Uma ação agora resolve um problema pontual, mas o que vai efetivamente fazer a diferença é se todo mundo participar das agendas mais importantes e estratégicas para o país por décadas. Temos um Brasil com quase 14 milhões de brasileiros em favelas, e 60 milhões de pessoas sem acesso à internet. Os problemas são reais e só resolveremos essas questões, que estão enraizadas na sociedade brasileira, se tivermos uma capacidade de atuar no longo prazo”, disse Lyra.

Já os empreendedores sociais Rodrigo Pipponzi e Alex Seibel pontuaram a importância de fomentar esse ecossistema no momento em que a a filantropia e a doação se tornam instrumentos poderosos nos esforços de reduzir as disparidades sociais existentes.

“O capital tem um poder gigantesco de escalar as coisas e esses negócios ajudam a construir um novo modelo de sociedade e atender os desafios globais que temos, sem perder a rentabilidade financeira. A filantropia tem o seu papel, mas o negócio precisa do lucro. Eu não vejo conflito em ser rentável e resolver problemas da sociedade”.

Diversidade e inovação

Na mesma esteira, Andreza Rocha, CEO da AfrotechBR e head de operações e diversidade da Brasil JS, afirmou que entre mudar o mundo e ganhar dinheiro, as pessoas devem ficar com os dois.

“Tem escolha e espaço para todas as pessoas. Encontre seu propósito, que pode mudar ao longo do tempo. Depois saiba a qual nicho você atende e seu papel nesse processo. Faz sentido empreender onde couber”, disse durante um painel na Expert XP 2020.

Durante o painel “O avanço das mulheres na liderança de PMEs é um modelo a ser seguido”, que abordou os desafios que essas empreendedoras têm na construção do próprio negócio, Ana Fontes, empreendedora, pesquisadora e fundadora da Rede Mulher, destaca que não existe um parâmetro para o sucesso e ressaltou que o mundo corporativo e a sociedade, como um todo, ainda possuem dificuldade em falar dos erros durante essa processo de inclusão.

“Empacotar as pessoas nas mesmas caixas não funciona. Empreender tem muito mais a ver com a atitude empreendedora do que oportunidade em si. As redes sociais só mostram o que deu certo. Importante dizer que nem tudo são flores. É uma jornada, não existe sucesso da noite pra dia. Quanto você está disposto? Em que momento você está? Quem vê o flash, não vê o ‘corre’”, afirma.

Amanda Graciano, head de desenvolvimento de negócios na iDEXO, acrescenta que essa glamourização do empreendedorismo é ruim.

“O trabalho é duro por trás de qualquer reconhecimento. Há uma tendência em olhar as experiências dos outros e tentar espelhar no que temos.  Não tem como copiar um homem branco, herdeiro, poliglota, sendo uma mulher negra. É utópico porque não tenho esses mesmos recursos para criar minha história”, disse.

Por parte das grandes corporações, a tendência precisa se tornar um pilar fundamental, conforme disse o CEO da Unidas, Luis Fernando Porto, destacando ainda que “empresas e líderes que não compreenderem a responsabilidade social e diversidade como regra estarão fora do jogo”.

Essa mudança de postura também é reconhecida pelos consumidores, que estão cada vez mais engajados com essas questões e cobrando posturas das empresas por não aceitarem mais o “lucro a qualquer custo”, como apontou Tania Consentino, presidente da Microsoft no Brasil, durante outro painel do evento.

“A preocupação social é algo que toda empresa deveria ter. Para ter este olhar para a sociedade, é preciso ter um grupo diverso, que inclua vários grupos da sociedade, dentro da empresa”, ressaltou.

Sobre inovação, Ana, da Rede Mulher, pontuou que ela pode estar em qualquer lugar. “As pessoas vêm inovação como ciência da NASA, mas a mulher que faz bolo no pote pode inovar, a que faz cabelo, a que tem negócio pequeno. É possível inovar em qualquer nível”, disse.

Andreza, da Brasil JS, em linha com essa ideia, afirma que inovar é automatizar qualquer parte do negócio. “É usar a tecnologia mais adaptada a você e ao seu segmento e negócio. A transformação digital é acessível, há quatro meses estamos descobrindo isso”, disse.

Mais digital

Na visão de Cleber Morais, diretor da Amazon Web Services, serviço de nuvem da Amazon no Brasil, a crise atual fez mais do que acelerar o processo de digitalização das empresas: ela está obrigando as companhias a reverem sua gestão, processos e sistemas para passar por uma verdadeira transformação. Para Morais, as empresas que não se incluírem nesse processo “talvez não sobrevivam” no curto prazo.

Entre os desafios de digitalizar uma companhia inteira, o CEO da empresa de medicina diagnóstica Dasa, Carlos de Barros, enfatizou que a mudança também precisa ser feita em sua cultura organizacional.

“Em uma empresa que era tão hierarquizada, com decisões de comando e controle, é um desafio. É como transformar a cultura e empoderar as pessoas na ponta, os funcionários que estão com a ‘barriga no balcão’ a escutar o seu cliente para desenvolver novas soluções”, completou.

Os desafios também são enfrentados por empresas que já nasceram na era digital. De acordo com Guilherme Kolberg, sócio e head de customer experience da XP Inc., a inovação não é só a aplicação de um novo software, mas a melhoria de processos como um todo.

Opinião complementada por João Del Valle, co-fundador e COO da startup de pagamentos Ebanx, que reforça que o desafio central nas empresas é lidar de maneira ágil com todo o acumulo de tecnologia que é gerado.

“A transformação digital está muito ligada ao conceito de ‘paranoia produtiva’. É preciso constantemente revisitar não só o “como”, mas “o quê” você faz. Você tem que ser paranoico, pensar naquilo que você faz e por quanto tempo o seu modelo de negócios vai durar”, afirmou.

Com as mudanças causadas no consumo e na própria estrutura de alguns negócios devido à pandemia, outra vertente desse processo de digitalização é ganhar relevância no meio digital através da atuação nas redes sociais.

Diante disso, a contratação de criadores de conteúdo online ou influenciadores digitais se tornaram peças estratégicas para promover produtos e serviços através das redes durante o período de quarentena e renovar suas estratégias de publicidade e impacto para atingir o público, que agora se encontra dentro de casa e mais ativo nas redes sociais

Durante o painel “Redes sociais: como marcas e influencers podem fazer negócios de valor” apresentado pela head de Influenciadores da XP Inc., Juliana Muncinelli, na Expert 2020, Danielle Noce e Paulo Cuenca, casal de influenciadores que juntos movimentam milhões de pessoas em plataformas como YouTube, Instagram e Spotify, explicaram que para fazer com que o investimento gere retornos positivos, o desafio é buscar uma figura do universo digital que dialogue com os propósitos e valores da empresa, gere mais visibilidade para o produto e serviço divulgado e faça com que o conteúdo criado se conecte com o público.

“As marcas, no geral, precisam antecipar as coisas que acontecem no setor delas para criar oportunidades com os influenciadores e alinhar o momento de vida do influenciador com o propósito da marca para, além dos números e resultados, os conteúdos criados façam sentido”.

Um exemplo de sucesso nessa abordagem foi levantado por Guilherme Kolberg, da XP Inc., durante o evento.

“Os times de redes sociais, por exemplo, usam essas ferramentas para engajar a comunidade de brand lovers, clientes que já são fiéis à marca. Recentemente um concorrente disse que os coletes eram coisa do passado. Respondemos que em 2020 criticar a roupa das pessoas não faz sentido. Selecionamos algumas pessoas que tinham comentado no post e enviamos coletes. O resultado foi positivo e lançamos a campanha de enviar um colete para quem fizesse TED para a XP. Isso faz as pessoas repostarem e gerar um retorno super positivo”, disse.

Chamado para se tornar “sustentabilistas”

Na outra ponta dos investimentos de impacto, a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante o painel “O papel dos investidores na construção de um Brasil sustentável“, reforçou que a sustentabilidade é uma necessidade civilizatória.

Durante a sua fala, Marina disse que governos estão buscando sinergia entre investimentos públicos e privados para superar os efeitos econômicos negativos agravados pela pandemia, mas também se distanciar da crise social e da grave crise ambiental que “ameaça não apenas parte da vida, mas toda a vida no planeta”.

Ela afirmou que a visão de que a economia se opõe à ecologia é a grande barreira que o país precisa romper para que haja uma realocação de capital que favoreça os projetos sustentáveis. “Não dá para os recursos da agenda da sustentabilidade serem uma espécie de ‘santa indulgência’ daqueles que estão investindo na agenda predatória”, afirmou a ex-ministra.

Empreender no futuro

Em uma das suas participações, Benchimol frisou que apesar da crise atual ter afetado muitas empresas, o cenário pós-Covid 19 deverá trazer uma onda de novos empreendedores.

“O Brasil sempre foi o país do CDI alto. Agora, o país vai ter um baita impulso para que as pessoas passem a acreditar mais em seus sonhos com o custo de oportunidade muito baixo. Todo mundo hoje pensa em empreender porque o dinheiro tá coçando na mão”, afirmou.

Porém, para se ter sucesso nessa jornada, Konrad Dantas, fundador do Kondzilla, garante que o aprendizado é constante e nada fácil. “Você vai ter que aprender a gerir pessoas, entender dos tributos, fornecedores, custos e muito mais”, disse.

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