Transformando o impossível em possível: a jornada de Mick Ebeling para transformar o mundo por meio da tecnologia
julho 18, 2020SÃO PAULO – Tudo começou numa noite de primavera, quando Mick Ebeling, fundador do Not Impossible Labs, laboratório que desenvolve projetos com o objetivo de transformar o mundo – tornando coisas vistas como impossíveis em possíveis-, foi convidado para conhecer a exposição de um grafiteiro em Los Angeles.
No evento, ele descobriu que o artista responsável pelas obras sofria de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e estava em uma cadeira de rodas lutando para arrecadar dinheiro para seu tratamento porque não tinha seguro de saúde.
Esse momento foi crucial para Ebeling criar o movimento “Not Impossible“, que utiliza a tecnologia para o bem da humanidade. “Isso significa olhar o mundo e ver coisas absurdas, que geram revolta, indignação, mas que podem ser resolvidas com a tecnologia. Nossa missão é mudar o mundo através das tecnologia e das histórias”, disse.
Em entrevista comandada por Ana Laura Magalhães, do canal Explica Ana, e Guilherme Kolberg, head de customer experience da XP Inc., o empreendedor social contou como ele criou uma rede mundial que desenvolve soluções com foco em resolver um problema pontual, mas que pode ser estendido e impactar milhares de pessoas.
Impressionado com a história, Ebeling decidiu fazer algo a respeito. Primeiro, fez uma doação em dinheiro ao artista, mas quando descobriu que ele não produzia nenhuma obra há sete anos e se comunicava com a família por meio de um pedaço de papel que continha as letras do alfabeto, formando palavras através dos movimentos dos olhos, ele decidiu reunir uma equipe para tentar fazer algo mais.
Mesmo sem ter uma solução, o empresário destacou que o seu modelo de trabalho se baseia, primeiro, em captar o absurdo de uma situação e o que deveria ser um problema corrigível, antes de propor uma resolução.
“O fato de uma pessoa não ter uma tecnologia que pudesse ajudá-la e precisar recorrer a um pedaço de papel era um absurdo. Então, eu me comprometi. Quando você se depara com uma situação absurda, o mais importante é se comprometer a fazer algo, depois é que se descobre como realizar a promessa. O importante é tentar mudar situações incorretas, essa premissa define todo o nosso trabalho”, contou.
Ebeling reuniu várias pessoas para encontrar uma solução de baixo custo que pudesse ajudar o artista a voltar a produzir e se relacionar com a família. Depois de muitos testes, o grupo criou uma espécie de óculos, usando fita adesiva e uma câmera, o EyeWriter, que usa tecnologia de rastreamento ocular, permitindo que o artista voltasse a produzir.
“Eu já testemunhei coisas incríveis na minha vida e essa foi uma delas, porque representava o momento em que um artista que não conseguia se expressar e não fazia aquilo que mais amava, agora, podia desenhar. Conseguimos ajudar esse cara e nosso plano era liberar esse código aberto para que todas pessoas tivessem acesso à tecnologia”, afirmou.
Com o sucesso mundial da invenção, Ebeling decidiu abandonar seu negócio e focar no desenvolvimento da Not Impossible Labs, para promover o bem-estar social, impactar a vida de mais pessoas com a ajuda da tecnologia e transformar o impossível em possível.
“Se olharmos isso do ponto de vista histórico, algumas coisas que são possíveis hoje, como celulares e garrafas térmicas, em um determinado momento eram vistas como impossíveis. Então, tudo que é impossível nesse momento está em um caminho para tornar-se possível. Por isso o impossível é uma falácia”, explicou.
Ampliando as possibilidades
Depois do EyeWriter, Ebeling ouviu outra história, de um médico que trabalhava sozinho em uma região do Sudão tratando pacientes em uma zona de guerra.
Pesquisando sobre, o empresário descobriu que o médico odiava fazer amputações. Bastante curioso, ele foi mais a fundo na sua pesquisa e descobriu que a região sofia ataques constantes de bombas que, ao se chocar, lançavam estilhaços, amputando as vítimas atingidas.
Quando conheceu a história de Daniel Omar, um garoto sudanês que, aos 12 anos, perdeu os dois braços ao ser atingido por uma bomba no momento em que cuidava das vacas das família, ele decidiu que essa seria a próxima história a ser focada.
“O que mais me tocou foi quando, na reportagem, ele disse que ‘sem as mãos ele queria morrer para não ser um peso para a família’. Então, juntei várias pessoas de novo para lidar com esse absurdo e, no final, estudando a situação, decidimos nos comprometer a criar uma prótese de braço para o Daniel, com alguma solução que pudesse ser replicada na aldeia”, contou.
Cerca de 4 meses depois de ter conhecido a história do garoto, Ebeling viajou para o Sudão com sua equipe e desenvolveu, com impressoras 3D, uma prótese de US$ 100. Para perpetuar a ideia, a equipe, com ajuda da Intel, montou na região um laboratório protético de impressão, que ficaria responsável pela fabricação de outras próteses e capacitou moradores da aldeia para dar continuidade ao trabalho.
A história de sucesso do laboratório não para por aí. Seu mais recente projeto visa resolver um dos maiores e mais antigos problemas do mundo: a fome. Estudando soluções para atacar a questão de forma direta, o executivo e sua equipe perceberam que era preciso fazer conexões.
“A fome não é causada pela falta de alimentos, ela é causada por uma cadeia de suprimentos que é problemática porque tem muito alimento sendo produzido. Mas a gente não conseguia conectar os pontos para que a comida chegasse às pessoas”.
Diante disso e, ao verificar que as pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade social tinham acesso a um celular, ainda que simples, eles criaram com a ajuda da Postmates, uma empresa americana de delivery, o programa “Fome: Não impossível” (Hunger: Not Impossible, em inglês).
A plataforma conecta pessoas, ongs e escolas dispostas a ajudar aos restaurantes e, com uma simples mensagem de texto, uma pessoa sem teto ou família exposta à condição de insegurança alimentar, pode pedir uma refeição pré-paga de restaurantes próximos.
“O que nós aprendemos em todo trabalho que realizamos é que fazer o bem é bom para os negócios. Não acreditamos que alguns problemas sociais precisam ser resolvidos pelos governos ou grandes instituições, pessoas como você e eu também podem ser responsáveis por essa mudança”.
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