As reformas não serão todas aprovadas neste governo, diz Mansueto de Almeida

As reformas não serão todas aprovadas neste governo, diz Mansueto de Almeida

junho 19, 2020 Off Por Today Newsroom

SÃO PAULO – De saída do governo de Jair Bolsonaro, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto de Almeida, disse que a agenda de reformas deve ser atrasada por causa pandemia. “As reformas todas que a gente precisa não serão aprovadas neste governo, mas temos que debater o assunto porque aos poucos vai se criando um consenso”, disse Almeida em live realizada pelo InfoMoney nesta quinta-feira (18).

O secretário, que fica no governo até o fim de julho, destacou que a inflação e os juros baixos devem abrir caminho para a retomada econômica do país. Ele diz que a taxa Selic na mínima histórica cria um ambiente de liquidez favorável que deve impulsionar o crescimento econômico quando a fase mais aguda da crise passar.

Como os juros da dívida pública são baseados na Selic, a taxa reduzida deve conter o crescimento da razão entre dívida e PIB nos próximos dois ou três anos, segundo Almeida. E a menor pressão do lado fiscal abre espaço para que governo e Congresso cheguem a um denominador comum para fazer as reformas, que demandam elevado capital político e grande discussão.

“A gente ganhou aí uma janela de dois anos ou um pouco mais para avançar nas reformas e garantir uma sinalização de equilíbrio fiscal, para que a partir de um determinado ano, seja 2025 ou 2026, a dívida pública atinja um pico e comece a cair”, afirma.

Neste ano, no entanto, o secretário espera um rombo das contas públicas próximo de R$ 800 bilhões e diz que a dívida bruta pode atingir 100% do PIB. Segundo o Banco Central, em maio a dívida pública já atingiu o patamar inédito de 77% do PIB

Para conter o endividamento, Mansueto de Almeida, reforçou a importância das reformas e do teto de gastos, mecanismo que impede que os gastos do governo subam acima da inflação.

“Se o brasil não fizer reformas, a dívida alta pode ficar muito salgada. E, mesmo que as reformas atrasem – seis meses, um ano, o que não é o fim do mundo-, o que não pode acontecer é retrocesso, a gente não pode colocar em risco o teto dos gastos, porque isso é fundamental, é a âncora fiscal que nos permite ter esse cenário de inflação e juros baixos”, disse o secretário.

Desmame dos estímulos fiscais

Mansueto também disse que  é preciso evitar que auxílios emergenciais se tornem permanentes. Mas ao ser questionado sobre como fazer o “desmame” de empresas e famílias, que passaram a depender dos estímulos fiscais, Mansueto respondeu que o ideal é que não se faça nada, para que as premissas fiscais sejam mantidas.

“Se o governo não fizer nada, naturalmente vai haver um desmame desses estímulos. Para que exista o risco de estímulos continuarem no ano que vem, o governo precisa mudar a Constituição e alterar o teto de gastos. Mas isso está fora de cogitação. Seria um tiro no pé, aumentaria a incerteza e entraríamos em um cenário de reversão da queda de juros, com aumento do risco-país, e possibilidade de aumento da carga tributária para fazer o ajuste fiscal. Quem perderia são os brasileiros, que pagam os impostos”, disse.

Atuação tímida?

De acordo com dados da consultoria McKinsey, compilados pelo especialista em finanças públicas Murilo Viana, o Brasil desembolsou até o momento 5,5% do PIB em estímulos fiscais no combate à pandemia. Percentual inferior ao verificado na Alemanha, onde os estímulos já atingiram 33% do PIB, nos Estados Unidos (12%) e mesmo em países emergentes, como a Índia e África do sul, cujos estímulos alcançaram 10% e 8,6% do PIB, respectivamente.

Ao ser confrontado com os dados, Mansueto negou que as medidas econômicas tomadas pelo governo sejam tímidas e disse que o Brasil oferece estímulos significativos, em linha com pares emergentes e países ricos.

Segundo Almeida, se a previsão de déficit de R$ 800 bilhões para este ano se confirmar, representará um aumento de mais de R$ 500 bilhões sobre o rombo estimado no começo do ano. “Se isso se concretizar, nosso déficit primário ficará na casa de 11% do PIB. E o déficit fiscal (nominal) pode passar de 15%. É um patamar elevado para emergentes durante a crise” disse.

Newsletter InfoMoney – Informações, análises e recomendações que valem dinheiro, todos os dias no seu email:

waiting...