Para gestora, BC fez corte com “cara de fim de festa”
junho 18, 2020“O brasileiro nunca viveu com um juro tão baixo e deverá continuar migrando a sua carteira para ativos de risco. É por essa razão que estamos concentrando uma exposição maior a ações aqui no Brasil”. A fala é da carioca (e flamenguista) Mariana Dreux, gestora do fundo macro da Truxt, e a entrevistada de hoje no Coffee & Stocks.
Dreux compartilhou sua visão sobre o corte de mais 75 pontos-base na taxa Selic nesta semana e contou como está a carteira hoje do Truxt Macro. Com quase 20 anos de mercado, a maior parte deles como especialista em operação de juros locais e gestora, ela já passou por casas como o Banco BBM, Gap Asset, Itaú BBA e Arx. Está na Truxt desde 2012.
Copom no clima de fim de festa
“Eu tinha uma expectativa muito maior que o Banco Central trancasse a porta [para novos cortes na taxa Selic] dada a comunicação anterior e os riscos fiscais. Mas ele deixou uma frestinha da porta aberta para novos cortes. […] Foi um corte com cara de fim de festa. O mercado vai precificar alguma coisa entre mais 25 e 50 pontos-base de corte para as próximas reuniões.
Para Dreux, foi-se o tempo de ganhar dinheiro com o combo aplicação na curva curta de juros (apostando na queda dos juros de curto prazo) e na desvalorização do real. Em relação à estratégia de apostar na queda dos juros de longo prazo, a gestora é mais cética.
“Desde 2016, o Brasil vive um momento de grande arrumação fiscal por conta da lei do Teto dos Gastos e recomposição dos déficits primários. Foi um período em que o trade de apostar na queda dos juros combinado com a desvalorização do real, funcionou muito bem e que foi reforçado durante a pandemia. A parte longa da curva tem bastante prêmio, mas também tem risco. Até que a gente volte a ter confiança de que o Teto de Gastos será respeitado, essa curva longa continuará com prêmio.”
Maior alocação em bolsa da história do Truxt Macro
Com pouco espaço nos juros, Dreux enxerga na bolsa uma das maiores assimetrias que já viu ao longo de sua carreira.
“A bolsa brasileira em dólar ainda é um dos piores ativos do mundo. A China foi o primeiro país a sair da crise e tem estimulado a sua economia, o que por si só traz um ambiente favorável para as commodities. Além disso, o número de CPFs na bolsa explodiu para quase 2 milhões e achamos que é um movimento que está apenas começando. O brasileiro nunca viveu com um juro tão baixo e deverá continuar migrando a sua carteira para ativos de risco. É por essa razão que estamos concentrando uma exposição maior a ações aqui no Brasil.”
Dreux contou para os mais de mil espectadores simultâneos que assistiam a live que essa é uma das maiores alocações em bolsa da história do fundo. Mas ela alertou:
“Como gestora de multimercado e por ter bastante flexibilidade eu não tenho nenhum viés. Eu posso mudar de opinião a qualquer momento. Não podemos esquecer que isso aqui é Brasil. Temos um quadro político conturbado, um fiscal delicado e o cenário pode mudar rápido.