Por que todo investidor deveria ter exposição a criptoativos
junho 7, 2020Para Ray Dalio, um dos mais respeitados investidores do mundo, o Santo Graal da gestão de ativos é a descorrelação. Dois ativos são ditos descorrelacionados quando o preço de um segue uma trajetória independente do preço do outro. A comparação com a relíquia religiosa é bem pertinente.
Ativos descorrelacionados são tão valiosos para a construção de portfólios quanto são difíceis de achar. Uma vez encontrados, esses ativos permitem alcançar patamares substancialmente maiores de retorno ajustado ao risco. O próprio Dalio utiliza uma figura bastante didática para ilustrar esse efeito:
O desvio-padrão, representado no eixo à esquerda, é uma medida de risco e está relacionada à magnitude dos retornos da carteira. Podemos ver que ele é sempre decrescente com a adição de mais ativos (deslocamento ao longo das linhas coloridas, escala vertical da esquerda), pelo assim chamado efeito diversificação.
Porém, nota-se que a redução do desvio-padrão do portfólio é mais acentuada quanto menor é a correlação entre os ativos (deslocamento ao longo do eixo vertical, entre as linha coloridas, escala da vertical da esquerda). De fato, a redução que pode ser obtida pela adição de novos ativos é limitada pela correlação entre eles. Por mais que o número de ativos cresça indefinidamente, o desvio-padrão do portfólio será sempre maior que um determinado valor, o qual depende diretamente da correlação entre eles.
Com a grande redução do desvio-padrão, principalmente nas correlações mais baixas, a razão retorno por risco eleva-se muitas vezes (eixo da direita, primeira coluna), enquanto a probabilidade de haver um ano com retorno negativo despenca (eixo da direita, segunda coluna). É melhor ter um grupo limitado de ativos pouco correlacionados entre si do que ter muitos ativos fortemente correlacionados.
Pois bem, a classe dos criptoativos historicamente apresenta correlação próxima de zero com qualquer outra classe local ou global. A tabela abaixo traz as correlações entre os retornos diários de diversos índices e ativos, incluindo o Hashdex Digital Assets Index (HDAI), que representa a classe dos criptoativos, calculadas entre janeiro de 2017 e abril de 2020, todas em reais:
É interessante notar como o HDAI possui correlação próxima de zero com todos os índices e ativos desse exemplo. Consequentemen- te, qualquer carteira formada por esses outros ativos e índices teria uma correlação também baixa com o HDAI e, portanto, adicioná-lo poderia melhorar substancialmente a relação risco/retorno.
A simulação a seguir ilustra esse fenômeno. Adaptando a alocação de uma carteira moderada sugerida por uma grande corretora brasileira ao mesmo conjunto de índices e ativos anterior, é possível simular o que teria mudado caso essa carteira tivesse recebido 1%, 2,5% ou 5% de HDAI. A figura abaixo sumariza os resultados:
Apesar de ter uma volatilidade dez vezes maior que a carteira sem criptoativos, a adição de pequenas quantidades de HDAI causou pouco impacto no risco da carteira total, por conta do efeito diver- sificação. Esse pequeno risco adicional foi mais que compensado pelo incremento de retorno e a relação risco/retorno, medida pelo Sharpe Ratio, melhora consideravelmente.
A descorrelação é extremamente desejável pelo potencial de diversificação que ela proporciona. Os criptoativos são descorrelacionados dos demais ativos e facilmente acessíveis para investidores brasileiros, através de fundos de investimentos. Nesse sentido, pode-se dizer essa nova classe de ativos está mais para o que os anglófonos chamariam de “low-hanging frruit” (algo que se obtém praticamente sem esforço) do que para um objeto de cobiça do Indiana Jones.
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