Mercado futuro: Um guia para entender seu funcionamento e começar a operar
junho 5, 2020Para alguns investidores, ele é um ilustre desconhecido. Para outros, a principal fonte de ganhos. O mercado futuro é um tradicional aliado de hedgers (você logo vai saber do que se trata) e de especuladores justamente porque permite traçar estratégias de tipos variados. E você, sabe o que é o mercado futuro?
InfoMoney preparou esse guia para quem está interessado em dar os primeiros passos nesse ambiente, onde são negociados os contratos futuros. Ele aborda desde as características técnicas até o que um investidor precisa fazer para começar a operar. Ficou interessado? Confira abaixo:
O que é mercado futuro
O mercado futuro é o ambiente onde são negociados contratos futuros, um tipo de derivativo. Em poucas palavras, os contratos futuros representam o compromisso de comprar ou de vender uma certa quantia de um determinado bem em uma data adiante e por um preço pré-definido.
O bem envolvido nesse compromisso – também chamado de ativo subjacente – pode tanto ser uma mercadoria quanto um ativo financeiro. Um exemplo? Os contratos futuros de soja negociados na B3. Quem opera um deles, no fundo, está negociando o direito de comprar ou de vender o equivalente a 450 sacas de 60 kg de soja. O preço de cada contrato futuro se baseia na expectativa do mercado para o preço da soja na data do seu vencimento.
O mercado futuro tem algumas particularidades em relação a outros tipos de derivativos. Uma delas é o fato de que todos os negócios acontecem na bolsa de valores. Por conta disso, outra característica é a homogeneidade dos produtos. Todos os contratos precisam seguir um determinado padrão, de modo que todos os investidores tenham a certeza de que estão negociando exatamente a mesma coisa e nas mesmas condições.
Voltando ao exemplo da soja, os contratos futuros negociados na B3 preveem que o grão obrigatoriamente seja de soja tipo exportação com até 14% de umidade, 1% de matérias estranhas e impurezas, 30% de quebrados, 18,5% de conteúdo de óleo, entre outras características. Quantos detalhes, não?
Esse nível de padronização dos contratos futuros é o que permite que eles sejam negociados no pregão. Se cada investidor negociasse um tipo diferente de soja – ou de boi gordo, de ouro, de moeda ou do que quer que seja – as cotações seriam todas diferentes entre si, inviabilizando as operações.
Do jeito que o mercado funciona atualmente, todas as condições de transferência dos ativos subjacentes entre compradores e vendedores são definidas previamente pela B3 e estabelecidas nos contratos. Em cada negociação, apenas dois itens podem variar: a quantidade de contratos e o seu preço.
Sendo uniformes, os contratos futuros atendem uma quantidade maior de investidores – e, por isso, possuem maior liquidez do que outros tipos de derivativos que não são padronizados. A liquidez é importante porque permite que um investidor encontre contrapartes para se desfazer da sua operação antes do vencimento do contrato, caso isso seja necessário por alguma razão.
Para que serve o mercado futuro
Se você já entendeu o que é o mercado futuro, consegue agora dizer para que ele serve? Existem formas diferentes de utilizar os contratos futuros, e cada uma tem um objetivo específico. Podem ser usados como uma proteção – a função tradicional e também original da sua criação – ou como uma fonte de ganho financeiro. Entenda mais abaixo:
Proteção ou hedge
Os contratos futuros podem ser usados para diminuir o impacto de uma eventual mudança nos preços de mercado do seu ativo subjacente. Isso porque os futuros fixam hoje um preço para que esse bem ou ativo financeiro seja negociado em uma data à frente, não importando o quando ele efetivamente estará custando no mercado à vista.
É o que se chama de hedge. Quem faz um hedge está menos preocupado em lucrar com as operações, e mais interessado em evitar perdas.
As empresas brasileiras que possuem dívidas em dólar, por exemplo, estão sempre expostas ao risco do câmbio. Se, em determinado momento, a cotação da moeda sobe, essas dívidas encarecem. Nessa situação, as empresas precisam dispender mais reais para quitar os débitos.
Uma maneira de evitar situações como esta é comprar contratos futuros de dólar, com o preço da moeda predeterminado para uma data futura. Nesse caso, mesmo que a cotação suba, as empresas já adquiriram o direito de negociar dólar por um certo valor, assegurando previsibilidade para o custo das suas dívidas.
Da mesma forma, o setor agrícola também usa o mercado futuro para proteger os seus negócios. Operando contratos de commodities agrícolas, eles podem garantir os preços dos produtos que ainda estão na lavoura para o período em que poderão ser comercializados.
Para especular
Também é possível especular com contratos futuros. Em vez de proteção, o especulador atua no mercado para lucrar. Seu objetivo é ganhar com os pequenos diferenciais de preços em cada compra e venda de um contrato. Importa menos o ativo subjacente – se é um futuro de dólar, juros ou soja. O interesse está mesmo nos movimentos de curto prazo dos contratos.
É comum que os especuladores atuem no day trade, realizando compras e vendas dos mesmos derivativos ao longo de um só dia. Ao fim do pregão, eles apuram os ganhos ou perdas pela diferença entre os preços de cada ponta das operações. Mas há também especuladores que ficam com posições em aberto por alguns dias para aproveitar movimentos um pouco mais longos do mercado.
Para fazer arbitragem
Os investidores que procuram lucrar com as discrepâncias de preços que encontram para um mesmo produto em mercados diferentes fazem o que se costuma chamar de arbitragem. Por isso, além dos próprios contratos futuros, as operações de arbitragem podem envolver outros elementos, como as mercadorias ou os ativos financeiros negociados no mercado físico.
A estratégia da arbitragem se baseia no fato de que o processo de formação de preços não é perfeito. Embora se espere que um ativo oscile do mesmo jeito em mercados diferentes, isso às vezes não acontece. Pense num exemplo bem simples: não é comum que um mesmo combustível seja vendido a um preço mais baixo nos postos de uma cidade e mais caro na cidade vizinha? Há inúmeras razões para isso. Permitido fosse, uma maneira de realizar uma arbitragem seria comprar combustível na cidade com os preços mais baixos e revendê-lo naquela em que valor de mercado é mais alto.
Algo muito semelhante com isso ocorre no mercado financeiro. Se o preço do dólar em um contrato futuro em algum momento, mesmo que por pouco tempo, seguir um caminho ligeiramente diferente do mercado à vista, possivelmente existe uma chance de realizar arbitragem. Quando percebem um movimento desse tipo, os arbitradores agem rapidamente antes que o mercado “perceba” o lapso e ajuste os preços.
O lucro de cada operação de arbitragem costuma ser pequeno. O tamanho dos ganhos depende, portanto, da quantidade e do volume de compras e vendas. Quanto mais volumosas e frequentes forem os negócios, maiores as chances de acumular ganhos maiores.
Principais contratos do mercado futuro
Existem contratos futuros de diversas naturezas. Eles são lançados pelas bolsas de valores conforme os investidores demonstram interesse em negociá-los. Afinal, para que sejam viáveis, os contratos futuros precisam de uma certa frequência e um volume mínimo de operações para que efetivamente tenham liquidez.
Os contratos futuros sempre apresentam alguns elementos em comum que você deve conhecer para entender melhor esse mercado. São eles:
- Objeto de negociação: É o bem ou ativo financeiro de base do contrato. A oscilação de preços do objeto é o que está em jogo nas negociações do mercado futuro.
- Cotação: É o valor atribuído a cada unidade do bem ou ativo financeiro em negociação. No caso dos contratos futuros de soja, por exemplo, estamos falando de reais por saca. Nos contratos futuros de dólar, são reais por dólar, e assim por diante.
- Unidade de negociação: É o tamanho do contrato em questão. Voltando ao exemplo dos futuros de soja, cada contrato equivale a 450 sacas de 60 kg de soja.
- Mês de vencimento: Representa o mês em que cada contrato futuro será liquidado (ou seja, encerrado)
Na B3, existe uma variedade de contratos futuros negociados. Os mais tradicionais são os de commodities agrícolas, como boi gordo, milho, café, soja, açúcar e etanol.
Mas existem também futuros de ativos financeiros. um exemplo são os contratos de moedas, como dólar, euro, libra esterlina, iene (moeda do Japão) ou iuan (moeda da China).
Há ainda contratos futuros de índices de ações, como Ibovespa e S&P 500, assim como futuros de ações. Também são bastante negociados os contratos de taxas de juros, como os de DI, Selic, cupom cambial de DI ou cupom de IPCA.
Além dos contratos “cheios”, como costumam ser chamados, existem também na B3 os minicontratos futuros. Trata-se de contratos menores e mais acessíveis aos investidores.
Um contrato futuro de dólar “cheio”, por exemplo, equivale a US$ 50 mil, com um lote padrão de cinco contratos. Já um minicontrato representa US$ 10 mil, com um mínimo negociado de apenas um contrato. Além de dólar, outro contrato futuro mini muito comum é o de Ibovespa.
Como funciona o mercado futuro
Mesmo para quem já fez algum investimento na bolsa de valores, o mercado futuro tem certas peculiaridades, diferentes do mercado à vista. Certos elementos não são comuns às negociações com ações, que costumam ser o primeiro passo dos investidores na B3.
Conheça os conceitos mais importantes para quem quer operar contratos futuros:
Liquidação financeira e liquidação física
A liquidação representa o momento final de uma operação com contratos futuros, quando ocorre a transferência dos recursos e dos ativos que foram negociados. Isso acontece na Câmara de Compensação e Liquidação da B3, que tem uma estrutura de garantias para assegurar que cada parte – compradores e vendedores – cumpram suas obrigações.
As operações com derivativos padronizados são liquidadas em câmaras de compensação ligadas às bolsas ou aos sistemas de negociação cuja estrutura de garantias garante o cumprimento de todas as obrigações assumidas pelas partes. Independentemente de a operação ser padronizada ou não, há duas formas de liquidação: financeira e física.
Existem duas formas de liquidar uma operação com contratos futuros. Uma delas – a mais comum – é a liquidação financeira. No dia do vencimento do contrato, é calculada a diferença financeira entre o valor de compra e de venda do papel. O acerto acontece em dinheiro, sem a necessidade de que o ativo de base – seja uma commodity agrícola, uma moeda ou qualquer outro – precise ser efetivamente entregue em mãos à outra parte.
A liquidação física é o contrário disso. Mais comum nos mercados agropecuários e de energia, pressupõe a entrega física do ativo na data de vencimento do contrato. Ocorre que esse procedimento pode tanto ser muito custoso, quanto indesejado em alguns casos – quando o interesse do investidor passa longe de ter um carregamento de milho em casa. Pode-se simplesmente deixar a liquidação física de lado e focar na financeira.
Na B3, alguns contratos admitem tanto um formato quanto outro, mas a maior parte deles prevê apenas a liquidação financeira.
Ajuste diário
Lembre-se novamente do conceito do mercado futuro: nele, são negociados contratos que asseguram o direito de comprar ou de vender um determinado ativo ou mercadoria numa data à frente por um preço já definido. Ocorre que ao longo do tempo, até o vencimento, os preços de negociação podem mudar de acordo com as expectativas dos participantes, a oferta e a demanda dos ativos subjacentes (e dos próprios contratos).
Mesmo que um determinado futuro tenha sido negociado hoje por um certo valor, amanhã ele pode estar valendo menos, custando mais barato no mercado. Ou também pode valorizar, custando mais caro.
Essas variações de preço determinam os resultados dos investidores. Se o contrato está custando mais caro hoje do que custava quando foi comprado, a operação está registrando lucro. Mas o contrário também pode acontecer. Justamente para evitar que perdas muito grandes se acumulem até o vencimento do contrato, o que poderia causar níveis elevados de inadimplência, a B3 conta com um mecanismo chamado “ajuste diário”.
O ajuste diário é um sistema que apura as perdas e os ganhos dos investidores com os contratos futuros todos os dias. Todas as posições mantidas por eles são avaliadas a partir de um preço de referência – o preço de ajuste diário. Se o valor das posições em uma certa data está abaixo do preço de ajuste, significa que elas – naquele dia – tiveram ganho. Se, no dia seguinte, as posições estiverem com preço abaixo do ajuste, é sinal de que houve uma perda.
Na prática, as operações são ajustadas todos os dias de acordo com as expectativas do mercado para o preço futuro do ativo de referência do contrato. E os valores das diferenças que forem encontradas serão creditadas (se houve ganho) ou cobradas (se houver perda) diretamente na conta do investidor.
A existência do ajuste diário diferencia os contratos futuros de outros derivativos, como os contratos a termo – em que todo o ganho ou toda a perda é calculada de uma vez na dada do vencimento. O problema, nesse caso, é o risco maior de que os investidores envolvidos não cumpram suas obrigações, já que os prejuízos podem ser grandes.
O que acontece se o investidor não pagar um ajuste diário? A primeira consequência é que ele será declarado inadimplente pela B3, a pedido da sua corretora. Seu nome será incluído em uma lista distribuída para todos os participantes do mercado, de modo a protegê-los também. Além disso, a bolsa terá de executar as garantias que o investidor tiver registrado (você aprenderá mais sobre isso ao longo do texto) e o proibirá de fazer novas operações até que a dívida seja saldada.
Margem de garantia
Para negociar no mercado futuro, a B3 exige que os investidores deixem algumas garantias depositadas nas corretoras pelas quais operam. Na prática, a margem de garantia se parece com um depósito caução que existem em algumas negociações – como em certos contratos de aluguel.
A exigência de garantias é vista como um diferencial da bolsa, porque permite que os investidores aproveitem as oportunidades existentes em vários mercados com maior tranquilidade. Isso porque ela serve justamente para que a B3 tenha recursos à disposição para garantir o pagamento das operações em caso de inadimplência do investidor.
O valor da margem de garantia equivale a um percentual da operação com os contratos futuros. Quando os negócios são day trades – iniciados e finalizados no mesmo dia – a corretora define de quanto será. Para contratos de mais do que um dia, a definição é feita pela própria B3, de acordo com o tipo de contrato e de operação.
As garantias não precisam ser sempre depositadas necessariamente em dinheiro. Outros ativos – como ações, títulos públicos comprados pelo Tesouro Direto ou até papéis de crédito privado – também podem ser utilizados para essa finalidade.
Uma situação prática em que a margem de garantia pode ser acionada é o caso em que o investidor registra perdas no ajuste diário e precisa realizar um pagamento à bolsa. Caso o valor não seja entregue dentro dos prazos devidos, a B3 pode cobrir essa inadimplência executando a garantia deixada por ele.
Liquidação por inadimplência
Quando o investidor deixa de realizar um pagamento de ajuste diário, além de recorrer à margem e executar as garantias para quitar o prejuízo, a bolsa encerra compulsoriamente a posição que ficou inadimplente. Assim, se o investidor tinha comprado contratos futuros, eles serão vendidos e o negócio, finalizado. O objetivo é evitar o risco de que novas perdas acabem se acumulando e colocando a segurança do mercado inteiro em risco.
No caso de liquidação compulsória por inadimplência, outras garantias também podem ser acionadas pela B3, além da prestada pelo investidor. É o caso das garantias depositadas pela própria corretora através da qual ele operou e ainda pelo membro da compensação que liquida para essa corretora.
Caso as garantias sejam insuficientes, outras maneiras de assegurar a estabilidade do mercado são acionar o patrimônio do fundo especial dos membros de compensação da bolsa, do fundo de liquidação de operações e da própria B3.
Como negociar no mercado futuro
Se depois dessa leitura você ficou interessado em testar o mercado futuro, saiba qual é o passo a passo básico para começar a negociar seus próprios contratos:
Qual é seu perfil de investidor?
Esta é a primeira pergunta que você deve fazer a si próprio antes de tomar qualquer decisão de investimento. Como acha que se comportaria em diferentes cenários de mercado, ganhando ou perdendo? Qual seria sua reação diante de uma perda? Ou de um ganho? Quanto está disposto a estudar sobre o assunto?
Isso vai ajudá-lo a entender se o mercado futuro – que envolve um pouco mais de complexidade do que outros tipos de investimentos – é uma alternativa interessante para seu portfólio.
Como escolher uma corretora para operar?
Para negociar no mercado futuro, é preciso ter conta em uma corretora de valores. Ela que realizará a intermediação das operações no pregão da B3.
Para escolher a corretora mais adequada, comece verificando as taxas de negociação que são cobradas. É comum que as operações com futuros sejam de valores baixos, mas muito frequentes. Uma taxa elevada pode acabar reduzindo os ganhos.
Considere ainda aspectos como os sistemas de análise e negociação disponibilizados pela corretora no home broker, além das exigências de depósitos de margem que ela estabelece. Confira as condições para todos esses serviços.
Qual será sua estratégia no mercado futuro?
Hedger, especulador ou arbitrador? Estude as possibilidades e defina uma estratégia de investimento para si mesmo. Quando isso estiver claro, busque fazer ou ler análises sobre os contratos que chamam sua atenção.
Conte com a ajuda da sua corretora e também de casas de análise nessa tarefa, pois elas costumam disponibilizar relatórios orientando os investidores a respeito das vantagens e desvantagens de cada contrato futuro e de cada estratégia.
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