
Vinland Capital aposta em crédito estruturado e fundos híbridos em cenário desafiador
setembro 11, 2025Em um cenário de incertezas tributárias e mercado aquecido, a gestora Vinland Capital decidiu reposicionar seus fundos para aproveitar oportunidades em crédito estruturado e infraestrutura. Em entrevista ao podcast Outliers Infomoney, os sócios José Monforte e Jean-Pierre Cotegio explicaram como estão lidando com as mudanças propostas na tributação de ativos e a busca por retorno em fundos de crédito isentos.
“Pela proposta, tanto a tributação dos ativos tributados, como os até então isentos, está adicionando uma camada adicional. Na cabeça do analista, do gestor, do custodiante do fundo, vai cobrar do cotista, vai cobrar do fundo. Quando tiver o papel antigo e o papel novo no mesmo fundo, vai ter que criar classe nova. Então, a gente tem mais dúvida do que certeza no momento”, explicou Monforte.
Ele destacou que, diante do cenário, há uma corrida para antecipar impactos tributários e que houve grande captação de fundos isentos nos últimos meses. Desde o início de 2024, fundos exclusivos passaram a registrar fluxo contínuo de entrada de recursos em crédito e fundos especiais isentos.
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Para se adaptar, a Vinland decidiu fechar seu principal fundo de infraestrutura, não por falta de oportunidades, mas para evitar atrapalhar os cotistas de um fundo maduro.
“Criamos um fundo idêntico ao anterior, que ganha o tempo agora para enquadrar nos próximos dois anos e depuramos melhor o fundo antigo, analisando o passivo e a carteira para encontrar boas oportunidades”
Desafios de gestão e spreads negativos
Monforte explicou que o rendimento sobre NTNB no fundo antigo caiu para cerca de 75 pontos-base, frente a 130-140 bps nos últimos dois anos, mostrando que o ganho foi expressivo, mas agora cada ativo agrega menos ao portfólio.
“Uma maneira que encontramos foi segurar um pouco o passivo dos fundos isentos e tentar fazer um trabalho melhor de gestão ativa. O mercado continua muito aquecido, mas você começa a tomar papel de baixo risco de crédito com spreads muito negativos”, afirmou.
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Cotegio reforçou que a atenção deve ser redobrada: “Um bom ativo não é só a qualidade de crédito, o preço também é uma variável. Tem duration de 5, 6, 7, 10 anos em alguns casos, então qualquer variação de spread vai doer mais do que num fundo CDI tradicional.”
Apesar das dificuldades, a Vinland percebeu abertura gradual entre ativos de baixo e alto risco. “O baixo risco, conhecido AAA e similares, foi onde houve maior fechamento de spreads. Os fundos CDI têm custos diferentes, de liquidez diária a D30, o que nos impede de entrar em algumas emissões, mas buscamos gerar alfa para os clientes com estratégias mais específicas”, explicou Monforte.
A gestora também vem mantendo entre 20% e 30% do portfólio em caixa desde meados do ano passado, para respeitar o preço e aguardar oportunidades melhores, compensando essa alocação maior com crédito estruturado. “Dentro de D30 ou D10, usamos até 15% ou 5-10% em operações mais sêniores na estrutura de capital, que ainda oferecem retorno atraente”, disse.
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Estratégias híbridas e fundos diferenciados
O destaque da Vinland está no fundo híbrido de infraestrutura, que combina gestão ativa de crédito e risco de mercado. Segundo Cotegio, “por ter dois books dentro do mesmo veículo, é um multimercado de crédito isento, baixa-volta, que ajuda a defender o spread em eventuais aberturas de crédito.”
Outro veículo que chamou atenção é o fundo D180, voltado a crédito estruturado, que explora FDIC, CRI, CRAs e corporativo. “Olha a diferença dos retornos: podemos obter até 350 bps a mais numa estratégia 180 do que numa D30. Ele é, sem dúvida, um dos veículos que mais gostamos, o nosso Vina 180”, detalhou Monforte.
A Vinland também lançou o Vinland 2 Renda Fixativa, que combina isenção fiscal com exposição ao mercado de juros, criando duas verticais de retorno.
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“Em momentos sem tendência clara de geração de retorno excedente ao CDI em infraestrutura, essa diversificação contribui para uma carteira mais resiliente”
No horizonte 2026, a gestora aposta em produtos incentivados de infraestrutura, setor elétrico, petróleo e gás, fibra e telecom, lembrando que nem todos os segmentos têm previsibilidade regulatória. “Existe muita oferta para financiar, mas a demanda por alocação foi tão grande que ainda não atingiu equilíbrio. Esperamos uma correção virtuosa com mais oferta e menos pressão de entrada de recursos”, afirmou Monforte.
Multiproduto e integração entre equipes
A Vinland reforça a estratégia de casa multiproduto. “Acreditamos que risco de mercado, crédito e bolsa se complementam. Trazemos uma equipe forte de macro, multimercado, crédito e bolsa para explorar oportunidades”, disse Cotegio.
Monforte acrescentou que a gestora mantém 43 profissionais envolvidos em crédito, contando com back office e equipe comercial integrada.
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“Trazer a visão macro para dentro do caldeirão de crédito tem sido uma experiência muito interessante, permitindo movimentações táticas impossíveis há cinco anos”
O sucesso da Vinland também se reflete no engajamento de investidores, que têm buscado diversificação em multimercado e bolsa, diante de subalocação histórica. “Parte da solução terá NTNB elevada e bolsa barata coexistindo, e produtos complementares fazem diferença na composição da carteira”, explicou Cotegio.