Após perder brilho, gestoras veem momento oportuno para alocar em precatórios federais com decisão do STF

Após perder brilho, gestoras veem momento oportuno para alocar em precatórios federais com decisão do STF

dezembro 7, 2023 Off Por Today Newsroom

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), anunciada no fim do mês passado, que derrubou alterações implementadas em 2021 sobre restrições ao pagamento de precatórios federais, promete dar novo respiro a um mercado que perdeu liquidez nos últimos anos.

A reviravolta deve incentivar mudanças na indústria: gestoras que alocam em precatórios federais (títulos de dívida do poder público que originam de condenações judiciais definitivas) voltam agora a olhar para os papéis com maior otimismo e acreditam que o momento é favorável para a compra.

“O Governo agora fica liberado para pagar os precatórios sem estourar o limite do teto e para pedir um crédito extraordinário para regularizar o estoque”, observa Leonardo Barbosa, sócio-fundador da Score Capital, ao comentar a decisão do STF.

O executivo lembra que a promulgação das Emendas Constitucionais 113 e 114 — como consequência da aprovação da PEC dos Precatórios em 2021 — introduziu um novo regime ao estabelecer um limite ou “teto” anual para o pagamento dos precatórios federais entre 2022 e 2026.

Apenas parte da dívida vinha sendo quitada a cada ano – o restante era rolado para o ano subsequente.

A medida, conta Barbosa, fez com que um estoque relevante de precatórios expedidos deixasse de ser pago desde 2022, o que criou uma verdadeira “bola de neve” que fez o mercado de precatórios federais perder liquidez e o preço dos papéis recuar.

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“A decisão é boa para os dois lados. Os preços [dos precatórios] tendem a subir mais agora”, diz. “Também devemos ter um mercado mais ativo e estabelecido para quem vende e para quem compra, com mais previsibilidade”, acrescenta o profissional.

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Por ter sido uma pauta que exigiu “grande esforço do Governo no alinhamento entre as diferentes instituições” para a aprovação, o executivo afasta riscos de eventuais reversões ao longo da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

De olho nos potenciais de ganho e no menor risco oferecido pelos ativos, a casa disse que voltou a comprar precatórios, com foco em alimentares. A vantagem é que tais dívidas possuem preferência na hora do pagamento, porque originam de processos que discutem salários, vencimentos, proventos, pensões, benefícios previdenciários e indenizações por morte e invalidez.

“Tem muito precatório disponível de 2022 e de 2023, mas já estou olhando precatórios do Orçamento de 2024, que ainda não estão em atraso”, destaca Barbosa.

O Ministério da Fazenda informou ao InfoMoney que agora caberá aos tribunais organizar uma lista de pagamentos e informar à Fazenda e o Ministério do Planejamento e Orçamento os valores para elaborar medida provisória (MP) para solicitar a abertura de crédito extraordinário.

A pasta, porém, não respondeu quanto tempo isso levará. Nos bastidores, a expectativa é de que a MP seja apresentada nos próximos dias, já que o pagamento estimado em R$ 95 bilhões deve ocorrer ainda neste ano.

Novos fundos focados em precatórios federais

Quem também está otimista com a reviravolta vista no mercado de precatórios federais é a TAG Investimentos, que captou por volta de R$ 120 milhões em um novo fundo voltado 100% para precatórios federais no fim de setembro.

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O foco da gestora está em precatórios alimentares entre R$ 150 mil e R$ 200 mil.

“Não paramos de comprar precatórios desde a PEC, o que fizemos foi diminuir a velocidade das compras”, diz. “Quando começou essa discussão sobre a votação no STF, refizemos a conversa com investidores já aguardando uma decisão”, destaca Roberto Dib, sócio e diretor de produtos estruturados da casa.

Desde o julgamento do STF, que ocorreu no fim de novembro, Dib diz que já viu uma mudança no mercado: “Diria que já subiu 5% no valor do deságio desde então. Revisamos até mesmo a nossa tabela para conseguir originar mais precatórios”.

A casa é sócia da Precato, uma fintech que é responsável pela originação dos precatórios comprados pelos fundos da TAG Investimentos.

O executivo explica que a parceira aborda os detentores de precatórios, que costumam ser pessoas físicas, no caso dos alimentares, para ver se elas desejam negociar o título.

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Caso haja interesse, o processo é analisado pelo jurídico da TAG. Se aprovado, os fundos da gestora terão permissão para realizar a compra do papel, conta Dib.

Momento oportuno

O momento também é visto como “oportuno” pela Strategi Capital, gestora que possui fundos que compram ativos em situações especiais.

Embora o foco da casa seja investir em precatórios federais para viabilizar transações tributárias de empresas que estão devendo à União e não alocar nos ativos para carregá-los na carteira, a gestora não nega que agora há uma clareza nos pagamentos e que o cenário parece mais promissor para essa classe de ativos.

“Antes tinha indefinição de que o problema seria jogado para frente e de que poderia não ter solução, agora temos uma clareza dos pagamentos”, avalia Cristian Lara, sócio-fundador da gestora.

Aumento de retornos no curto prazo

A mudança também pode ser favorável para investidores, com destaque para os profissionais (com mais de R$ 10 milhões em alocações financeiras), que costumam ser o foco desses produtos. Dib, da TAG Investimentos, lembra que fundos que estavam alocados em precatórios federais sofreram com a postergação do pagamento a partir de 2021.

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Agora com a decisão do STF, o executivo avalia que, no curto prazo, tais fundos poderiam ter uma recuperação — com a possibilidade de antecipação do recebimento dos pagamentos, que antes estavam previstos para prazos mais longos.

“Já para os fundos que nascem agora nessa nova realidade, a visão é de que eles devem ter bons rendimentos, só que mais estáveis, entre 20% e 40% ao ano”, pondera o executivo.

Gestores que também souberam ser estratégicos durante a janela de incertezas também poderiam se beneficiar neste momento, defende Barbosa, da Score, apesar de acreditar que isso não representa a maioria das casas.

“Em geral, acredito que o mercado estava mais posicionado em casas que já vinham carregando uma carteira de precatórios e que sofreram com a PEC. Penso que teve menos gente que adotou uma visão oportunística”, acrescenta o profissional da Score.

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