O que deu certo no Ibovespa até agora

O que deu certo no Ibovespa até agora

maio 4, 2020 Off Por Today Newsroom

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(Getty Images)

Os investidores respiram mais aliviados no início de maio, depois do mercado acionário esboçar uma reação no mês passado. O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas na Bolsa, subiu 10,25% em abril, retomando o nível de 80 mil pontos no fechamento do primeiro quadrimestre de 2020.

No entanto, a B3 segue longe de se recuperar do choque causado pelo novo coronavírus, que fez o Ibovespa despencar 29,9% em março e acumular baixa de 30,38% no ano. Com as políticas de isolamento em vigor para conter o avanço da covid-19, que já matou mais de 6 mil pessoas no Brasil, a economia sente os efeitos da paralisação de diversas atividades.

Se no começo do ano o boletim Focus do Banco Central projetava um crescimento de 2,3% para o produto interno bruto (PIB) em 2020, a situação mudou completamente com a pandemia. Agora, o relatório aponta para uma retração de 3,76% no PIB do País. Porém, os cenários mais pessimistas indicam que a atividade pode ter uma retração de até 10% no ano.

Como é de se esperar, o contexto econômico impacta o modelo de negócios e o resultado financeiro das empresas listadas na Bolsa. O tamanho do choque varia para cada companhia, segundo o setor no qual atua, fluxo de caixa e exposição aos ciclos da economia. No caso do Ibovespa, as ações de certos setores conseguiram atravessar os primeiros meses de 2020 com ganhos ou perdas abaixo das registradas pela maioria. Por outro lado, alguns papéis registraram perdas colossais, puxando a B3 para baixo.

Em relação aos destaques positivos, chama a atenção a presença de grandes exportadoras e varejistas bem posicionadas no e-commerce, além de companhias com modelos mais resilientes à crise atual. As ações ordinárias da Marfrig (MRFG3) foram as que mais subiram entre janeiro e abril, com avanço de 28,11%, negociadas por R$ 12,84 no fechamento da última quinta-feira, 30. Parte do sucesso da companhia se deve à alta do dólar, que sobe 35,57% no ano, a R$ 5,44. A moeda americana vem batendo recordes ao ser impulsionada pela aversão ao risco, que tomou conta dos mercados globais nos últimos meses, a queda histórica na taxa de juros básica da economia brasileira, em 3,75% ao ano, e pelo cenário político conturbado no País.

Com mais de 70% das receitas oriundas de exportações, a Marfrig se beneficia do dólar mais caro, mas esse não é o único fator que explica sua valorização. A título de comparação, outros frigoríficos como JBS (-6,53%) e Minerva (-5,30%) tiveram desempenho mais tímido no período. Analistas ouvidos pela reportagem destacam que a empresa conseguiu melhorar a gestão, diminuindo sua alavancagem, além de ter sido beneficiada pela reabertura de mercados relevantes aos seus produtos – como China, Europa e EUA. “O segmento também tem um aspecto mais resiliente para enfrentar este momento”, diz José Francisco Cataldo, superintendente de Research da Ágora Investimentos. “O consumo pode diminuir pela queda na renda da população, mas as pessoas que puderem não vão parar de comer por causa do coronavírus.”

Assim como o setor de proteína animal, outro segmento que se destaca é o varejista com foco no e-commerce. B2W e Magazine Luiza registram valorização de 17,56% e 4,70%, respectivamente, nos quatro primeiros meses do ano. Para Julia Monteiro, analista da corretora MyCap, ambas as empresas vêm há pelo menos um ano investindo pesado na malha logística, centro de distribuição e ampliação do portfólio, fazendo parceria com outras lojas que são disponibilizadas em suas plataformas digitais.

Segundo ela, antes da pandemia de coronavírus, o brasileiro já estava adquirindo o hábito de fazer compras online. “As empresas desse setor se beneficiaram ainda mais porque estavam preparadas para atender as demandas, com a malha logística funcionando de maneira que não precisaram fazer mais investimentos”, explica Julia. “O sistema online ainda tem o benefício de não ter de pagar aluguel de loja física e funcionários”. Após o fim da crise, a analista projeta redução de despesas para o setor, com fechamento de lojas físicas, e mudanças ainda mais profundas dos hábitos de consumo.

Por fim, uma empresa pouco conhecida pelo consumidor, que tem a indústria como cliente final, acabou figurando entre os maiores avanços do quadrimestre. As ações ordinárias da WEG tiveram a terceira maior alta do período (+15,8%), perdendo apenas para Marfrig e B2W. A produtora de equipamentos elétricos teve lucro líquido de R$ 440 milhões no primeiro trimestre, crescimento de 43% na comparação anual. Com mais de 50% das vendas em motores para uso industrial, a companhia catarinense não foi severamente afetada no curto prazo, por fazer parte de um ciclo econômico mais longo. Contudo, o agravamento da crise tende a adiar planos de investimento dos seus clientes e diminuir a demanda.

Maiores baixas do ano

Por outro lado, entre as maiores perdas do ano na Bolsa, aparecem empresas ligadas ao setor aéreo e de turismo. Azul terminou o quadrimestre com queda de 70,66%, CVC derreteu 68,72%, Gol tombou 66,36%, Smiles recuou 64,29% e Embraer caiu 56,11%. Esta foi mais prejudicada depois de a Boeing desistir de um acordo de joint venture.

Duramente penalizadas pela pandemia, as companhias do segmento têm um cenário nebuloso pela frente, sem qualquer definição sobre o fim do isolamento social nas principais metrópoles brasileiras, com os números da doença se multiplicando no País.

Segundo o analista Pedro Galdi, da Mirae Asset, com 90% das aeronaves no chão sem poder voar, as companhias aéreas precisarão se reinventar. “Elas terão de rever a quantidade de aeronaves, inclusive com devoluções, reconsiderar rotas e readequar a oferta”, afirma Galdi. “Esse novo modelo pode criar uma situação meio trágica para os voos internacionais, mas para os regionais isso pode até ser um incentivo”. O analista ainda cita um auxílio do governo como fundamental para a retomada do setor, em um modelo similar ao adotado pelos EUA.

A única companhia com pior resultado do que o setor de turismo é a IRB Brasil Re, que acumula queda de 73,86%. O ressegurador passa por uma séria crise de confiança do mercado após sucessivos eventos, como a troca de membros do conselho e questionamentos sobre os seu resultados. Outra notícia negativa foi a retirada dos divulgação de projeções de 2020 por causa das incertezas provocadas pela pandemia.

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