Crise no petróleo pressiona Petrobras, mas empresa está bem preparada para enfrentar queda do preço, dizem analistas
abril 22, 2020SÃO PAULO – Apesar do impacto inevitável do caos do mercado de petróleo, a Petrobras (PETR3; PETR4) é a companhia latino-americana mais bem preparada para enfrentar este cenário adverso. A avaliação é dos analistas do Bradesco BBI.
Segundo eles, a estatal brasileira “tem um mercado interno mais forte para distribuir sua produção”, além do fato de ter uma exportação menor para os Estados Unidos. Como comparação, a colombiana Ecopetrol exporta 20% de sua produção para os EUA, enquanto a brasileira, apenas 2,5%.
A Petrobras ainda deve ser beneficiada por atrair mais a demanda da China por conta do baixo teor de enxofre do seu produto. Diante disso, os analistas mantiveram sua recomendação neutra para as ações da companhia, com preço-alvo de R$ 18,50.
Mesmo com a queda dos últimos dias, o Bradesco BBI manteve suas projeções para o petróleo do tipo WTI, em US$ 30, e para o Brent, em US$ 35. Isso porque, segundo os analistas, “o mercado físico na América do Norte pode acelerar os cortes de produção em 6 milhões de barris, enquanto as curvas dos contratos futuros permanecem entre US$ 30 e US$ 35.
Já os analistas da Levante apontam que esta queda recente do petróleo ainda deve pesar nas ações da Petrobras no curto e médio prazo, apesar do bom humor dos mercados hoje ajudarem na recuperação dos papéis. Durante o feriado, os ADRs da estatal caíram até 3,5%, com as ações chegando a abrir em queda nesta quarta. O movimento porém, foi revertido, fechando em alta de 4,71% com o movimento de recuperação no petróleo na sessão.
“Após um ‘alívio’ no preço do petróleo com o acordo de cortes na produção no início de abril, a petroleira brasileira se vê novamente pressionada com a desvalorização da commodity”, diz a Levante ressaltando que, em março, a companhia anunciou diversas medidas para enfrentar a crise, como a suspensão dos dividendos, redução no nível de produção, captação de empréstimo de R$ 40 bilhões para melhor gestão do capital de giro e corte dos investimentos (Capex).
Além disso, a Levante destaca também que o impacto não é apenas na Petrobras, mas também para as contas públicas. De acordo com os analistas, com a queda do resultado operacional da estatal, o montante pago em royalties e impostos cairá vertiginosamente, reduzindo a arrecadação da união e dos estados.
Neste cenário, os analistas ressaltam que a curva de contágio do novo coronavírus se tornou o principal catalisador para as ações da Petrobras. Isso porque é só com o retorno da população às ruas que a demanda por petróleo irá retornar.
Enquanto isso, o UBS, em relatório, destaca que teve uma conversa positiva com o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, mantendo sua recomendação de compra para os papéis.
Entre os fatores positivos para as ações, os analistas destacam que não é provável que a produção da empresa seja drasticamente reduzida e que não deve haver interferência do governo no negócio dela. “Os projetos da petrolífera agora precisam ser resilientes ao preço do petróleo de US$ 25, com a viabilidade financeira para superá-lo”, afirmam.
Do outro lado, o UBS destaca uma pressão sobre a empresa por conta da queda da demanda, que tem feito as refinarias operarem com apenas 60% de capacidade. Segundo os analistas, Castello Branco destacou na conversa que o nível atual está provando ser suficiente para equilibrar o estoque e que não há necessidade de interromper as operações em nenhuma refinaria.
Outras empresas impactadas
Entre outras empresas que devem ser impactadas por este cenário, o Bradesco BBI ainda cita a São Martinho (SMTO3).
Os analistas explicam que isso poderia causar uma queda nos preços da gasolina e, consequentemente, reduzir ainda mais os preços do etanol, que representa 55% da receita líquida da companhia. Em uma análise de sensibilidade, eles projetam que a cada redução de US$ 5 na estimativa do Brent, o Ebitda da São Martinho cairia cerca de 10%.
Por outro lado, eles dizem preferir as ações de distribuição de combustível no curto e médio prazo, pois o setor deve se beneficiar primeiro do fim dos isolamentos em relação ao mercado de petróleo. A recuperação dos preços da commodity, de acordo com o Bradesco, só deve vir no último trimestre desde ano e início de 2021.
Como se tornar um trader consistente? Aprenda em um curso gratuito os set-ups do Giba, analista técnico da XP, para operar na Bolsa de Valores!