O diário de um “trader” na semana das eleições americanas

O diário de um “trader” na semana das eleições americanas

novembro 11, 2020 Off Por Today Newsroom

Newsletter Stock Pickers
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Texto originalmente enviado para os assinantes da newsletter Stock Pickers no sábado, 7 de novembro. Para assinar e começar a receber, clique aqui. 

O evento mais importante do ano (exceto a pandemia, que nem podemos mais chamar de evento) chegou, derrubando as poucas certezas que o mercado financeiro tinha para 2020.

Como em 2016, as pesquisas sobre as eleições americanas deste ano estavam imprecisas, para dizer o mínimo, e quem trabalha no nosso mercado precisou se virar para garantir a rentabilidade do mês.

Nesta newsletter trazemos o depoimento de um trader do mercado que vai explicar como foram seus dias lidando com as notícias e o mercado nessa atribulada semana.

Olá, amigos do Stock Pickers! 

Meu nome é Luís, e pode-se dizer que sou um habitante do condado da Faria Lima. Mais precisamente, sou trader júnior da Fake Asset e por aqui meus amigos me chamam de Luisêra.

Nosso principal produto é o FaFIM, Fake Fundo de Investimento Multimercado, que tem no portfólio moedas, ações brasileiras, estrangeiras e outros ativos.

Luis Stuhlberger, Roberto Campos Neto e CEOs de empresas premiadas participam de evento online e gratuito sobre ações do Stock Pickers; Inscreva-se!

Conheci o Thiago Salomão e o Renato Santiago na fila de espera do Ráscal. Pedi para tirar uma foto com eles e, depois que (inocentemente) contei o que fazia, eles me pediram que eu contasse como havia sido a minha semana com tudo que vem acontecendo nas eleições e apurações americanas.

No começo achei que seria uma má ideia, mas, pensando bem, preciso desabafar e acho que esse conteúdo vai ajudar outras pessoas a lidarem melhor com incertezas do mercado, e a entenderem que probabilidades, mesmo que de 95%, ainda são probabilidades.

Em terceiro lugar, se eu tivesse lido algo assim antes, teria sofrido menos nesta semana. Como diz o Santiago, sim, a nossa semana aqui foi como estar em um hospício. E como diz o Salomão: Tribunal Superior Eleitoral brasileiro, nunca critiquei!

Vamos ao diário da minha semana.

Segunda, 2 de novembro

Sei que foi feriado no Brasil, mas como tínhamos um evento muito importante no dia seguinte, todos aqui na Fake viemos trabalhar. 

Uma coisa importante que eu não li em lugar nenhum é que nós, como a maioria das gestoras do Condado, estávamos com muito dinheiro em caixa, pois o risco havia crescido muito nas últimas semanas. Além da incerteza fiscal no Brasil, a segunda onda do coronavírus começou a apertar e tinha gente falando em novo circuit breaker na terça-feira.

Me falaram para não ser muito técnico nesse texto, mas só para deixar claro, nosso VAR (value at risk) estava em 0,1%. É muito pouco.

Uma das únicas coisas que não era considerada incerta era a eleição nos Estados Unidos. Li na Economist no domingo que as chances de Biden eram de 19 em 20, ou 95%. O Nate Silver disse que, para o Trump ganhar, as previsões deste ano precisariam estar ainda mais erradas que em 2016.

Como um cenário tão certo, decidimos montar um kit Biden: tiramos quase tudo que tínhamos do caixa e compramos petróleo e IVE (um ETF com as empresas tradicionais da bolsa americana, como bancos, indústria e outras empresas que lucrariam com o provável aumento de gastos democrata). Vendemos Nasdaq e entramos em peso mexicano contra o dólar.

Terça, 3 de novembro

5h30

Enquanto corria perto do Parque do Povo, antes do trabalho, finalmente tive tempo de escutar o episódio do podcast Checks And Balances que o analista de ações internacionais da Fake tinha me recomendado. Era sobre o Joe Biden e ele falava que o candidato democrata não é anti-business como muita gente pensa. Na verdade ele foi senador por Delaware, o estado mais pro-empresas dos Estados Unidos e até ajudou a passar leis que facilitam a vida das empresas.

Refleti muito sobre a nossa posição vendida em Nasdaq. Ela estava baseada na possibilidade de os democratas atacarem empresas como Google e Facebook com processos antitruste e anti monopolistas.

7h30

Já no escritório da Fake conversei como o nosso estrategista-chefe, que não havia ouvido o podcast. Concordamos em reduzir a nossa posição vendida em Nasdaq e comprada em IVE. 

Colocamos o dinheiro na posição de peso mexicano, que, confesso, até então eu não havia entendido. A lógica é a seguinte: Biden não deve dar corda à guerra comercial de Donald Trump, então o comércio com os emergentes deve melhorar e as moedas deles se valorizarem. 

Nosso economista me explicou que o México, apesar de um governo de esquerda, tem a situação fiscal muito organizada, por isso o peso foi escolhido.

Finalmente perguntei por que então ele vinha dizendo que o peso ia “cair” e ele me respondeu que, na verdade, o que ia cair é a proporção de pesos mexicanos por dólar — valorização, portanto.

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Pois é, as pessoas do mercado financeiro às vezes fazem questão de dizer as coisas do jeito mais complicado possível.

13h

Almocinho top no Tatu Bola!

20h

O dia transcorreu sem problemas. Cheguei em casa, liguei imediatamente na CNN e fiquei esperando a avalanche de votos para Biden.

23h

Parece que a onda azul não veio e Biden perdeu a Flórida, inclusive. Lembrei que esse foi o começo da ruína da Hillary Clinton e perdi o sono.

Quarta, 4

1h55

Cometi o erro de dar uma espiadinha na cotação do peso mexicano contra o dólar: -4%, só por causa da Flórida. 

6h

Cheguei ao escritório cedinho, mas já comecei a ver que algumas coisas estavam estranhas… As bolsas da Ásia não tinham caído como eu imaginava que cairiam. Ainda assim, comecei a preencher as boletas para diminuir o kit Biden. 

A primeira foi a operação de petróleo. Biden é visto como anti-fracking (aquele processo de extração de petróleo que a turma do ESG não gosta), então a oferta da commodity diminuiria e o preço subiria. Agora isso tinha virado passado. Preenchi a boleta e esperei meu chefe chegar para apertar o botão.

7h15 

O chefe da mesa chegou e já escutei um pequeno grito: NÃO É PARA VENDER O PETRÓLEO. É PRA ZERAR IVE E COMPRAR NASDAQ.

Como assim? Uma coisa que eu não havia percebido é que o que importava mesmo não era a eleição presidencial, mas a do Congresso. Muita gente esperava que a Câmara e o Senado fossem tomados pelos democratas, que iriam aumentar impostos e talvez obrigar o Google e se dividir em muitas empresas ou o Facebook a vender o Instagram. 

Eu nem tinha olhado as eleições do Congresso, mas percebi que a onda azul também não aconteceu lá. Isso, na verdade é o melhor cenário para o mercado financeiro, pois um governo dividido não consegue fazer muita coisa — muito menos quebrar monopólios.

9h36

Finalmente consegui estopar a venda de Nasdaq e a compra de IVE. Virei a mão nas duas operações e acho que vou recuperar o dinheiro que havia perdido com o petróleo. 

18h06

Enfim o mercado fechou. Acho que não garanti meu bônus hoje, mas pelo menos ainda terei um emprego amanhã. Mais calmo, o chefe da mesa me mostrou um gráfico (proprietário, lamento) com a razão entre os preços das empresas de growth e value na segunda-feira.

Ela nunca havia sido tão favorável às de value e isso significa que todos estavam se protegendo de um congresso azul, o que na própria segunda todo mundo sabia que não aconteceria. 

Quinta, 5

18h00

Ainda nem sinal de fim das apurações, mas Nasdaq subiu nos últimos três dias 8,9%, o que não acontecia desde abril. 

Sexta, 6

17h30

Hora de checar como está nossa compra de peso mexicano contra dólar. O trader sênior da mesa tinha falado para nem mexer na operação (ele me disse que México é muito arrumadinho, lembra o Brasil de 2006, com juros altos). Agora parece que não tem mais como Biden perder e o peso subiu 2,76% desde segunda. 

19h

Acho que agora sim o bônus está garantido e o pessoal marcou uma breja no Tatu Bola. Irado, mas vou de gin tônica.

Queime após as 10h

Quem já está no nosso canal do Telegram está recebendo, desde o início da semana, um morning call diferente. É o Queime Após as 10h, nosso boletim diário para você ouvir antes da abertura da Bolsa.

É rápido e objetivo, feito do nosso jeito: sem frescura e com bom humor. É até estranho chamar de morning call, mas não conhecemos outro termo. Clique aqui.

O merchan voltou

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Camiseta do Stock Pickers, da Reserva

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