Quarentena é algoz de coworkings, mas médio prazo pode beneficiar setor

Quarentena é algoz de coworkings, mas médio prazo pode beneficiar setor

abril 15, 2020 Off Por Today Newsroom

Pessoas trabalhando em regime de coworking em um escritório
(Getty Images)

SÃO PAULO – Com a quarentena forçada pela pandemia do novo coronavírus, empresas de todos os portes nos mais diversos setores descobrem uma inédita capacidade de alcançar certo nível de produtividade sem precisar fornecer um espaço físico. Alguns empresários já avaliam a possibilidade de usar esquemas de home office esporádico ou aplica-lo a equipes inteiras permanentemente, mesmo depois de uma contenção da doença e retorno às atividades normais.

No setor imobiliário, prédios comerciais sentem o baque das renegociações de aluguéis, postergação de pagamentos e eventuais rescisões de contratos. Dentro desse universo, o efeito mais imediato caiu na conta de quem trabalha com o modelo mais flexível: os coworkings.

Nascidos como uma alternativa mais barata para pequenas empresas e adequado ao dinamismo da nova era, os contratos nos escritórios compartilhados são totalmente diferentes dos acordos fechados em prédios comerciais tradicionais, muitas vezes com validade de vários anos, por terem flexibilidade já no dia zero. Isso significa que, assim que puseram seus funcionários para trabalhar de casa, muitos inquilinos conseguiram cortar esse vínculo imediatamente, sem prejuízos.

“A receita dessas empresas vai cair consideravelmente no curto prazo”, garante Giancarlo Nicastro, CEO da companhia de análise de mercado Siila Brasil. “Não sei se 70%, 80% ou 90%, mas vai cair, justamente porque o modelo permite que o cliente pague pelo uso. Ninguém está usando neste momento”, avalia.

O especialista, por outro lado, vê o mesmo modelo como uma alternativa das mais interessantes para quando a crise passar – principalmente se o retorno às ruas vier em ondas, ou seja, períodos de reabertura dos negócios alternados com outros de isolamento.

“Agora, o home office é obrigatório, mas a natureza humana é de contato, e as empresas estão percebendo uma produtividade em queda”, argumenta. “Para quem não tem um contrato de longo prazo já fechado, o coworking é a melhor alternativa: ele surge com uma flexibilidade e um custo mais baixo, justamente o que as empresas devem procurar”, argumenta. “Não tem racional que indique que o coworking vá sofrer [no médio e longo prazo] – muito pelo contrário, pode se beneficiar”.

O passado recente apoia essa visão: um relatório de fevereiro deste ano da consultoria Cushman & Wakefield mostra que o período mais favorável para o segmento até hoje no país foi justamente o de crise.

“Com entregas acima do que os mercados Classe A e B de São Paulo e Rio de Janeiro viriam a absorver, a taxa de vacância ao final de 2015 já havia crescido consideravelmente. Como reflexo de tais fatos, a partir de 2016 os preços pedidos começam a sofrer quedas mais acentuadas”, diz o relatório. “Longas carências e cash allowances foram dadas, e as empresas de espaços flexíveis então começaram a se expandir exponencialmente.”

Peneira

Mesmo sem efeitos apocalípticos para o setor como um todo, a crise deve fazer vítimas entre os coworkings, segundo Giancarlo, principalmente devido ao que ele chama de “efeito lan house”: a rápida multiplicação dos espaços sem necessariamente aplicar os critérios necessários a um bom negócio.

Atualmente, conforme levantamento da Siila, a cidade de São Paulo tem 233,5 mil metros quadrados em suas zonas comerciais mais nobres ocupados por esse tipo de empreendimento, sendo mais de 43 mil apenas na região da Avenida Paulista e entornos.

Região Área
Berrini 21.304
Chácara Santo Antônio 8.957
Chucri Zaidan 24.772
Faria Lima 28.726
Itaim Bibi 6.771
JK 6.934
Marginal Pinheiros 6.089
Paulista 43.269
Pinheiros 26.733
Vila Olímpia 36.510
Alphaville 10.243
Barra Funda 4.252
Jardins 8.093
Marginal Tietê 864
TOTAL 233.518

“Você vê restaurante que depois do almoço é coworking, agência bancária do Santander com coworking”, lista. “As crises normalmente têm essa característica de filtrar as empresas profissionais e quebrar as que estão se aventurando: quem tem inquilinos mais fortes vai sofrer menos”, explica.

No Brasil inteiro, de acordo com a Cushman, entre o quarto trimestre de 2015 e o quarto trimestre de 2019, a ocupação de espaços flexíveis de trabalho saltou 568% no Brasil, para 354 mil metros quadrados.

Wework: caso à parte

Com 32 espaços no Brasil e 847 abertos ou em processo de abertura no mundo inteiro, um caso à parte nesta conta é o Wework – aparentemente consolidado, mas correndo risco de sofrer graves sequelas.

No mês passado, o conglomerado japonês Softbank, dono de 80% das ações da startup, desistiu de um plano já anunciado de comprar US$ 3 bilhões papéis do Wework, alegando que a empresa não cumpriu condições contratuais e enfrenta investigações civis e criminais. Por conta da desistência, membros do comitê especial do conselho da empresa, que representa outros acionistas, entraram com um processo na Justiça americana para conclusão da oferta, que seria um respiro essencial ao seu caixa.

“É uma empresa com inquilinos sólidos, mas sofreu uma pancada que pode trazer um sinal de alerta para o mercado e gerar uma falta de oferta após a retomada”, diz Giancarlo.

O especialista vê o Brasil como um dos mercados que o Wework pode deixar primeiro caso as consequências dessa falta de caixa cheguem a tal ponto – o que seria catastrófico para o Brasil, já que, de acordo com a Cushman, o market share da companhia é de 63% em São Paulo e 37% no Rio de Janeiro.

O InfoMoney entrou em contato com o Wework e enviou uma série de perguntas, mas não obteve resposta até esta publicação.

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