De sites de reserva a videogames: quem são os ganhadores e os perdedores da crise

De sites de reserva a videogames: quem são os ganhadores e os perdedores da crise

abril 14, 2020 Off Por Today Newsroom

Mulher com máscara caminha no Congresso Nacional
(Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A bolsa brasileira já perdeu R$ 1,25 trilhão em valor de mercado em relação as máximas de janeiro. Naquele mês, as empresas listadas na B3 tinham um valor de mercado combinado de R$ 4,56 trilhões. Em 10 de abril, esse número já era de R$ 3,31 trilhões.

Essa é a realidade em todo mundo, com as bolsas globais chegando a acumular perdas acima de US $25 trilhões, uma das maiores destruições de riqueza da história.

Mas mesmo com o mundo em crise, ainda assim existem aqueles que se beneficiam – e aqueles que perdem bem mais que outros. Segue uma lista parcial dos setores e empresas que foram mais impactados:

Negativamente:

Linhas aéreas

Uma das mais afetadas, essa indústria pode perder mais de US$ 250 bilhões de faturamento apenas neste ano.

Isso representaria a pior crise na história da indústria, mais grave até mesmo que a crise de 2008 ou a que veio após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

Nesse contexto, empresas como American Airlines, Delta e United começaram a usar sua frota para transportar carga como fonte adicional de receita, de acordo com o The New York Times.

Hospitalidade: turismo e hotéis

Com quarentenas, restrições a viagens e fronteiras fechadas, o jornal USA Today prevê que 25 mil hotéis nos EUA fecharão nas próximas semanas, o que corresponde a cerca de 45% de todos os hotéis no país.

A rede Marriott está tendo taxas de ocupação menores que 25% em seus hotéis nos EUA e não prevê melhora no curto prazo, principalmente se comparado a China, que durante o auge da crise, teve taxas de ocupação de apenas 5% em algumas regiões.

Websites de reserva

Os sites de reserva online estão enfrentando uma grande desvalorização com as novas reservas quase congeladas.

O valor de mercado de empresas como Booking e Expedia – proprietária do Expedia, Hotels.com e Trivago – já caíram mais de 40% e 60% respectivamente. Inclusive o próprio CEO da Booking Holdings, Glenn Fogel, foi testado positivo para o coronavírus.

Restaurantes e dine-out

Com o fechamento de restaurantes, a Associação Nacional de Restaurantes dos Estados Unidos estimou que a indústria vai perder mais de US$ 225 bilhões em faturamento apenas nos próximos três meses.

Para piorar, a indústria é uma das maiores geradoras de emprego e pode eliminar um total de até 7 milhões de empregos nos EUA.

Cheesecake Factory e Bloomin’ Brands – proprietária do Outback Steakhouse – já perderam, respectivamente, 60% e 80% do seu valor de mercado.

Sharing economy em pessoa (economia compartilhada)

Motoristas de aplicativos, hosts de plataformas, plataformas de gigs e peer-to-peer estão sendo drasticamente impactados no curto-prazo pela covid-19.

Tanto a oferta quanto a demanda estão relutantes em usar esses serviços dado ao alto nível de exposição dos mesmos.

Cinemas, shows, esportes, cassinos e entretenimento ao vivo

O entretenimento é uma das indústrias mais impactadas. Com eventos esportivos e shows cancelados e cassinos e parques fechados, a indústria está em standby.

A AMC e Cineworld, as duas maiores empresas de cinemas do mundo, tiveram quedas em valor de mercado de 70% e 80%, respectivamente.

A Brasileira Time For Fun (BVMF:SHOW3), responsável por eventos como a Stock Car Brasil e o festival de música Lollapalooza, teve uma queda de valor de mercado de quase 70% e tem o menor valuation de sua história, em R$ 139 milhões.

Uma pesquisa aponta que 44% dos americanos vão evitar aglomerações mesmo após a pandemia: uma má notícia para a indústria que depende de grandes públicos.

Cruzeiros

Após vários cruzeiros serem quarentenados e encontrarem dificuldades em atracar, a indústria quase parou e os principais players entraram em “modo sobrevivência”.

Gigantes como Disney, Carnival, Princess, Norwegian and Royal Caribbean – dentre várias outras – já anunciaram suspensão de suas as atividades. Entre elas, a Royal Caribbean e a Norwegian valem, respectivamente, apenas 14% e 18% do que valiam em Janeiro.

Shoppings

Com as restrições de circulação e comércio fechado, os shoppings estão quase inoperantes. Além do choque de curto prazo nas vendas de lojistas, é provável que eles enfrentem dificuldades em honrar seus aluguéis, o que forçará os shoppings a abrir exceções ou começar a encerrar contratos.

Nos dois cenários, o faturamento dos shoppings cairá muito durante o período, com risco de aumentarem consideravelmente sua vacância no pós-pandemia.

Petróleo e combustível

Com as restrições à viagens, comércio fechado e quarentena, o consumo de combustível diminuiu drasticamente, podendo chegar a uma queda de cerca de 20 milhões de barris por dia em abril.

Com a baixa demanda, vendas em postos de gasolina caíram em mais de 50%, e o preço do barril de petróleo foi de US$ 62 para US$ 22.

Dado o contexto, a Opep+, que inclui Rússia e Arábia Saudita, busca acordos para diminuir a produção e aliviar a pressão nos preços.

Concessões Rodoviárias, de metro e outros transportes, como táxi

No mesmo raciocínio do grupo anterior, a restrição a viagens e pessoas trabalhando de casa diminuirá muito a necessidade de locomoção.

Assim, a indústria de transporte permanecerá atuando muito abaixo da capacidade no curto prazo, com uma recuperação gradual apenas após a retomada da circulação de pessoas.

Academias, coworkings e outros serviços de assinatura mensal em pessoa

O fechamento temporário de estabelecimentos como coworkings e academias, somados à necessidade de economizar durante esse período de incerteza, levarão a cancelamentos em assinaturas.

Isso causará um impacto não apenas durante o período de confinamento, mas também exigirá esforços dessas empresas para recuperar assinantes perdidos no pós-quarentena – o que já fez uma academia nos EUA, até bloquear o cancelamento de assinaturas.

Beneficiadas:

Supermercados

Mudanças bruscas nos padrões de gastos do consumidor podem realocar mais de US$ 100 bilhões em vendas de restaurante para os canais de varejo, aponta um relatório da Barclays.

Assim, o fechamento dos restaurantes e o “panic buying” vão transferir gastos que iriam para restaurantes para supermercados. Embora de curta duração, isso pode representar de 32-60% em aumento nas vendas no trimestre, chegando a um aumento de 8-15% no ano.

Social Apps (Instagram, Facebook, WhatsApp)

Enquanto pessoas ficam em quarentena, os aplicativos de mídia social se tornaram uma alternativa ao isolamento.

Ligações pelo Facebook duplicaram desde o início da pandemia e número de mensagens trocadas por Facebook e Instagram aumentaram em mais de 50%. Só na Itália, chamadas em grupo aumentaram mais de 1.000%.

Após os picos de tráfego em suas plataformas, Mark Zuckerberg disse “estar apenas tentando manter as luzes acesas”.

Vídeo Conferencia

De 10 milhões de usuários diários para mais de 200 milhões: esse foi o crescimento do Zoom, software de conferência online, nos últimos meses.

Com universidades, empresas e eventos se tornando online, plataformas como Zoom, RingCentral e Microsoft Teams se beneficiaram.

Work-from-home Economy

De uma maneira mais ampla, com o aumento do home office, soluções online se tornaram necessárias, com empresas como Slack e DocuSign se destacando.

Além disso, como é necessário VPNs para estabelecer conexões seguras com os servidores da empresa, companhias como NordVPN e AtlasVPN relatando um boom de 165% e 124%, respectivamente.

A demanda é tão alta que a Direxion lançara uma “Work-from-home” ETF para acompanhar o desempenho das empresas que se beneficiam da home office economy.

Telemedicina

Num momento em que ir ao hospital não é aconselhável em casos leves, a telemedicina se tornou a solução ideal.

Desde o início da pandemia nos EUA o Amwell, aplicativo de telehealth, teve um aumento de 158% na utilização, enquanto o Plushcare, teve um aumento de 70% em seu faturamento.

Enquanto isso o governo brasileiro regulamentou temporariamente a telemedicina. Se ela se mostrar promissora, é provável que se seja mantida após a pandemia.

Food delivery

Com grandes variações em resultados, o food delivery começou como um dos ramos mais promissores após o surgimento da covid-19. No início do lockdown nos EUA, o número de pedidos cresceu 30% em apenas uma semana.

Mas na Europa, onde o lockdown já dura mais tempo, o Uber Eats teve uma queda em usuários diários de até 23% em março. Isso se explica pois os clientes recorrentes, que correspondem a mais de 90% das entregas, diminuíram a frequência de seus pedidos.

Apesar disso, as empresas que entregam compras de supermercado cresceram. A Instacart, por exemplo, teve um aumento de 218% no número de downloads diários.

Stay-at-home economy:

Streaming (Netflix, Hulu, Spotify)

Com as pessoas ficando em casa, as plataformas de vídeo streaming como Netflix, Hulu, Disney+ e Twicth.tv tiveram um boom em sua taxa de uso.

A Netflix, que atingiu seu recorde de transmissão, decidiu diminuir, temporariamente, a qualidade de seus vídeos na Europa diminuindo o consumo de internet.

Enquanto isso, a Twitch.tv teve um aumento de 23% em seu consumo em março, chegando a mais de 1,2 bilhão em horas de conteúdo transmitido.

Gaming

Num período em que ficar em casa é quase obrigação, jogos online se tornaram um dos principais passatempos.

A Steam, uma das maiores distribuidoras de jogos do mundo, reportou mais de 20 milhões de usuários ativos em um único dia em março, o maior número na história da empresa de 16 anos.

A Telecom Itália reportou aumento de 70% do consumo de internet, principalmente devido a jogos online, enquanto a Verizon reportou um aumento de 75% do consumo de internet em gaming.

Nesse contexto, empresas como Activision Blizzard (ATVI) e Electronic Arts (EA) estão sendo grandes beneficiadas.

Telecom & Provedores de Internet

No final de março a Verizon reportou que a operadora estava fazendo 800 milhões de ligações wireless por dia, duas vezes a média diária do dia das mães, o dia mais agitado do ano.

Além do aumento no número de ligações, o tempo médio das chamadas aumentou em 33%.

Mas não são apenas boas notícias…

Mas, apesar do aumento na utilização de mídias sociais, streaming, televisão, internet, e conteúdo, isso não quer dizer que o faturamento dessas empresas está aumentando.

Google, Facebook e Twitter, por exemplo, apesar de tráfegos recorde, estão tendo uma grande diminuição na demanda de anúncios.

O mesmo acontece com canais de TV, que aumentou o número de telespectadores mas estão tendo dificuldades em vender tempo de TV para anunciantes, como reportou o The Wall Street Journal.

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