Cielo é cortada para “venda” por JPMorgan, que não vê retomada próxima: as recomendações que agitaram o mercado na semana
setembro 18, 2020SÃO PAULO – A semana marcou diversas recomendações de ações que levaram a um forte desempenho das ações – para cima ou para baixo. Na sessão desta sexta-feira, dois exemplos claros, com os papéis de Cielo (CIEL3) caindo forte e Iochpe-Maxion (MYPK3) disparando com revisões de recomendações, respectivamente, por JPMorgan e Bradesco BBI.
A semana ainda marcou bancos iniciando cobertura para o setor de educação e para a Lojas Quero-Quero (LJQQ3), enquanto a Usiminas (USIM5) foi elevada pelo Credit Suisse. Confira as principais recomendações do período:
O JPMorgan reduziu a recomendação para as ações da Cielo de neutra para underweight (exposição abaixo da média), equivalente à venda, com preço justo de R$ 4, destacando que um processo de “turnaround” da companhia, que sofre com a perda de participação no mercado de maquininhas, não parece próximo de acontecer.
Para Domingos Falavina, analista do banco, é esperado que a perda de participação de mercado continue e segue vendo a empresa lutando para monetizar a sua base de clientes.
A participação de mercado da companhia caiu de 48% em 2016 para 34% no primeiro semestre de 2020 e deve ficar abaixo de 30% no longo prazo, aponta o analista. “Não vemos razões para que as perdas de fatia de mercado parem nos próximos trimestres. A recuperação não parece próxima”, destaca Falavina.
Além disso, a ação é negociada a um múltiplo de 11,8 vezes o lucro esperado para 2021, o que o JPMorgan considera caro.
Por outro lado, uma mudança na percepção atual poderia vir de possíveis ações corporativas como fusões e aquisições ou fechamento de capital, discussões estas que aumentar com rumores sobre a venda da fatia do BB para o Bradesco voltando à tona (veja mais clicando aqui).
Iochpe-Maxion (MYPK3)
O Bradesco BBI elevou a recomendação para as ações da Iochpe-Maxion de neutra para compra, enquanto o preço-alvo passou de R$ 16 para R$ 18.
Os analistas do banco destacam que a recuperação da indústria automotiva global, um boom no mercado chinês e a tendência positiva no Brasil beneficiarão o setor já no terceiro trimestre.
“Nenhuma razão é aparente para a desconexão entre o preço das ações da Iochpe e a recuperação da produção global de veículos. A Iochpe é a maior fornecedora global de rodas para a indústria automotiva e, em 2019, 34%, 30% e 27% de sua receita veio da Europa, América do Norte e América do Sul, respectivamente, e os 9% restantes da Ásia e outras regiões”, ressalta o analista Victor Mizuzaki.
Além disso, a perspectiva de que os cortes de custos do segundo trimestre vai acelerar a recuperação da margem Ebitda no terceiro trimestre de 2020, o que também guia a elevação de recomendação.
A empresa cortou 1.300 funcionários, ou 8% de sua força de trabalho, e reduzirá seu plano de investimentos para 2020 em 40%, com expectativa do banco de que as iniciativas deem frutos no terceiro trimestre, com margem Ebitda positiva de 8% ante -17% no segundo trimestre, além de alcance da média histórica de cerca de 11% em 2021.
Os analistas apontam que a empresa está tratando da sua alta alavancagem financeiras, e o valuation está atrativo, com potencial de 38% de alta frente o fechamento da véspera. A ação está operando com múltiplo de 5,8 vezes EV (Valor de mercado)/Ebitda 2021, um desconto de 16% sobre a média histórica.
Lojas Quero-Quero (LJQQ3)
O Itaú BBA iniciou nesta semana a cobertura para as ações da varejista de materiais de construção Quero-Quero com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) com um preço-justo para 2021 de R$ 18 por ação.
“Acreditamos que o case de investimento da companhia oferece uma oportunidade interessante de crescimento. A empresa possui um modelo de negócios único e com alto potencial de abertura de lojas em um ambiente de baixa concorrência e alta lucratividade”, destacam os analistas.
Eles apontam que a companhia criou um modelo de negócios único, no qual pequenas lojas que vendem uma pequena quantidade de produtos, principalmente commoditizados, por ano são capazes de entregar um alto nível de lucratividade, ressaltando ainda que a divisão de serviços financeiros é fundamental para proporcionar altos retornos.
“Este modelo de negócio único tem alto potencial de crescimento, pois está focado em cidades pequenas com baixa competição devido à pequena presença de grandes redes varejistas nessas cidades”, avaliam.
Também positivos com o case de investimento da companhia, está o Bradesco BBI, que possui a mesma recomendação que o BBA para o papel, com um preço-alvo de R$ 19.
Os analistas ressaltam que a empresa oferece aos investidores uma combinação atraente de crescimento rápido e acelerado com retorno alto (ROIC – Retorno sobre o Capital Investido – superior a 20%) a um preço razoável.
Eles também ressaltam o fato da companhia possuir um modelo “único”, focado exclusivamente em cidades pequenas – com população média de cerca de 40 mil habitantes. Ou seja, lugares em que os grandes varejistas de materiais de construção não operam (e não podem) operar.
“Isso significa que a competição é limitada principalmente a participantes pequenos, independentes ou informais e o potencial de expansão é tão significativo quanto o número de pequenas cidades nas geografias da empresa. A empresa opera 362 lojas com um tamanho médio de apenas 650 metros quadrados no Rio Grande do Sul (75% das lojas), Santa Catarina (15%) e Paraná (10%) e esperamos que a empresa comece a ir para os estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo já no próximo ano”, avaliam.
O BBI enxerga potencial para a Quero-Quero quase dobrar o número de lojas atuais apenas nos três estados em que opera atualmente.
Eles veem potencial para mais 150 lojas no estado de Santa Catarina (atualmente com 47 lojas) e mais 250 lojas no Paraná (atualmente com 32 lojas). São Paulo, o próximo estado, poderia proporcionar uma “virada”, uma vez que tem quase 500 cidades dentro da faixa populacional em que a Quero-Quero atua.
No modelo do BBI, a Lojas Quero-Quero atuaria em cerca de 35% delas, adotando uma abordagem cautelosa levando em conta o consumo e a dinâmica competitiva potencialmente diferentes, enquanto capitalizaria totalmente as oportunidades no Mato Grosso do Sul (que veem como um estado com ampla similaridade dinâmica como a atuação no momento da empresa).
Os serviços financeiros apoiam o negócio de varejo, sendo que aproximadamente 60% das vendas realizadas nas lojas são realizadas com a solução de cartão/crédito própria da empresa e é uma ferramenta importante para competir com concorrentes menores, informais e/ou mais estabelecidos em uma determinada cidade. Desde 2017, as perdas estão na média de 15% da carteira, um pouco acima da Renner (12%), mas abaixo da Guararapes (20%), sem gerar preocupação quanto à qualidade.
Usiminas (USIM5)
Também nesta semana, o Credit Suisse revisou o preço-alvo de Usiminas de R$ 6,50 para R$ 12 por ação e elevou a recomendação para neutra. A atualização ocorreu para incorporar os resultados do segundo trimestre, a alta de preços de 10% em setembro e o aumento de 13% anunciado para outubro.
Além disso, a revisão inclui condições de demanda melhores que o esperado, com retração de 16,4% nas vendas domésticas no ano, ante previsão anterior de queda de 22,4%. No entanto, como a ação está avaliada hoje em 7,2 vezes EV (Valor da empresa)/Ebitda, ante um histórico de 6 a 6,5 vezes, o banco decidiu pelo rating neutro.
Segundo o relatório, a empresa relatou que o setor automotivo ainda está enfrentando algumas dificuldades, enquanto outros segmentos se recuperam com mais força, como o de eletrodomésticos, equipamentos agrícolas e energia renovável.
Assim, os analistas do banco suíço apontam que, apesar das expectativas favoráveis, o valuation de 7,2 vezes parece um pouco esticado – mas que o divisor de águas para o case será a capacidade da empresa de repassar aumento de preços. Caso ela consiga implementar esta estratégia com sucesso, apenas 2,5% de aumentos adicionais, levariam os múltiplos pra 6 vezes a 6,5 vezes, patamar que consideram justo para o papel.
O Bank of America iniciou a cobertura para o Grupo de Moda Soma – dono de marcas como Farm e Animale – com recomendação de compra e com preço-alvo de R$ 13 por ativo.
Os analistas do banco apontam que a companhia é uma plataforma em crescimento para marcas aspiracionais e possui espaço considerável para efeitos de redes de mercados sociais, de fechamento e preço total. “Acreditamos que o Soma é um dos grupos de moda mais bem administrados da região, sentimos que sua tecnologia e outras capacidades excedem a maioria dos concorrentes e esperamos que o crescimento venha de uma combinação de esforços orgânicos e inorgânicos atraentes”, avaliam os analistas Robert Aguillar, Melissa Buyn e Vinicius Strano.
Eles ressaltam que a estrutura tarifária e tributária do Brasil, além do mercado contra-sazonal (em relação ao hemisfério norte), entre outros fatores, têm historicamente levado a uma indústria de vestuário de origem nacional e altamente fragmentada. Neste cenário, essa estrutura está sob pressão considerável de uma combinação de aplicação de impostos, volatilidade econômica e competição, e a expectativa é de que a covid-19 vai acelerar a consolidação.
“Uma parte importante do crescimento da Soma veio de aquisições nos últimos anos, e avaliamos que ela está excepcionalmente bem posicionada para continuar a adquirir e integrar marcas complementares em termos favoráveis”, ressaltam.
Para o banco, a companhia conta com várias vantagens competitivas, como marcas fortes, cuidadosamente selecionadas e que são bem mantidas, ao mesmo tempo em que a estrutura operacional minimiza a redundância, enquanto aproveita a escala e financia uma infraestrutura acima. Além disso, a empresa tem capacidade de acessar capital, ontrasta fortemente com rivais menores.
Além disso, os movimentos da Soma em tecnologia, e-coomerce e análise de dados estão distanciando-a ainda mais de seus concorrentes em um cenário em que os consumidores aceleram a digitalização, e a Soma alavanca cada vez mais sua plataforma.
A semana também foi marcada pelo início de cobertura do setor de educação pelo Bank of America e pelo BBI, com ambas as casas destacando Yduqs entre as preferidas, enquanto BBI aponta também gostar de Arco, listada na Nasdaq; já o BofA prefere Afya, também listada nos EUA.
O Bradesco BBI iniciou a cobertura de Arco e de Yduqs com ratings Outperform (acima de média) e preços-alvo para 2021 de US$ 55 e R$ 46, respectivamente. Para Cogna, Ser e Afya, a recomendação é neutra. O preço-alvo de Cogna é de R$ 6,50; para Ser, é de R$ 19, enquanto para Afya é de US$ 29. Já a Anima tem rating Underperform (abaixo do mercado), com preço alvo de R$ 32.
Segundo relatório, o Bradesco BBI considera que a Yduqs está mais bem posicionada para aproveitar o crescimento do ensino à distância e dos cursos “premium”. Isso porque 14% e 28% da receita da empresa vem de medicina e ensino à distância, respectivamente. Além disso, a empresa tem valuation de 12 vezes PE 2021 (Preço/Lucro), com desconto de cerca de 50% em relação aos concorrentes.
A Anima é a que menos agrada ao banco devido à sua grande exposição ao ensino presencial e ao segmento de medicina superestimado em relação à Yduqs.
Já no ensino fundamental, o banco prefere a Arco em relação à Cogna. Existe um potencial de vendas complementares de cursos de idiomas, que devem representar 28% da receita da Arco e 6% da Vasta em 2021. “A Arco está bem posicionada devido ao foco no ensino fundamental, produtos de alta qualidade e oferta de cursos complementares.”
Já o BofA retomou a cobertura de empresas brasileiras de educação com recomendação de compra para Afya e Yduqs, neutra para Anima e underperform para Cogna.
As empresas com maior exposição a cursos ‘premium’ e de medicina, crescimento rápido em EAD e balanço mais forte merecem prêmio, avaliam os analistas, que citam a diversificação do portfólio e uma receita mais resiliente e perfil de fluxo de caixa para Afya (com preço-alvo de US$ 32).
Para a Yduqs (preço-alvo de R$ 38), o BofA diz que sua exposição aos cursos de medicina e educação a distância deve ofuscar os desafios dos cursos presenciais e também menciona o potencial com a integração com Adtalem Brasil.
Sobre a Anima (preço-alvo de R$ 35), os analistas destacam que a empresa colhe os frutos do seu plano de reestruturação, com margens em tendência de alta, mas a “estratégia bem executada” parece estar precificada. Já as provisões mais elevadas e captação mais fraca nos próximos semestres levarão a Ebitda significativo e compressão de lucros para Cogna (preço-alvo de R$ 7,30) no curto prazo, avaliam.
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