Crise? No mercado de carros de luxo essa palavra não existe!

Crise? No mercado de carros de luxo essa palavra não existe!

setembro 15, 2020 Off Por Today Newsroom

Caros leitores, digníssimas leitoras: vamos abordar aqui (mais uma vez) o glorioso mercado de carros de luxo. O foco será abordar as quatro principais marcas de luxo que possuem um certo volume de vendas. Pela ordem (do maior para o menor), temos: BMW, Land Rover, Porsche e Ram.

O ponto central aqui é que temos um mercado automotivo com uma retração acumulada de 35,75%, contra um crescimento de 4% destas quatro marcas. Mas, dentro delas, temos aquelas, como a Ram, que registraram um crescimento de 175%, ou como a Porsche, com evolução de 67%.

E convenhamos… a economia não está assim um “primor” para que esses produtos (de altíssimo valor agregado), tenham um desempenho “além da imaginação”.

Então, decidimos conversar com o pessoal que trabalha com essas marcas para tentar saber onde está o pulo do gato delas.

Então…. como diria Jack, o Estripador: Vamos por partes

Ram

O que pensamos, primeiramente, era falar com o pessoal da FCA… mas aí lembramos que o pessoal da FCA já deve ter colocado o nome deste reles estagiário na boca do sapo, já que algumas vezes colocamos o dedo na ferida deles, como quando explicamos “os truques de ilusão na arte de vender carros no Brasil” ou quando falamos do “pepino de R$ 5 bilhões” que a FCA tem para resolver na possível fusão com a PSA.

Então, neste momento, fomos pedir ajuda lá na ABRADIC, que é a Associação Brasileira dos Distribuidores Chrysler, Jeep, Dodge e Ram, e falamos com Philip Derderian, que é o diretor executivo da associação.

No bate-papo, chegamos à conclusão de que uma série de fatores explicam o grande sucesso da Ram.

O primeiro era que existia uma demanda reprimida por um produto desse tipo. Quando falamos de picapes “parrudas” como a Ram 2500, existiu num passado distante a GM Silverado (produzida até 2001), e num passado não tão distante a Ford F-250 (produzida até 2012).

Depois disso, o mercado ficou à míngua. Tanto é que a Ram ficou patinando neste mercado entre 2014 e 2017, vendendo uma média de 24 veículos por mês (ou seja, não conseguia atingir a marca de vender um carro por dia).

Aí, só foi uma questão de tempo para o pessoal da Ram perceber que eles possuíam um produto único para determinado público.

O segundo ponto determinante é que a Ram 2500 é um veículo voltado praticamente para o agronegócio. Assim, aquele slogan que todos já ouviram: “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo, Agro: a Indústria-Riqueza do Brasil”, sem dúvida caiu como uma luva para a venda do produto.

Basta só ver o painel do carro que é bem TECH, é POP, é TUDO, a cara da RIQUEZA DO AGRONEGÓCIO DO BRASIL.

Além disso, qual foi o único setor da economia que continuou seu processo de expansão? O AGRONEGÓCIO.

Além de a RAM ser um carro único (sem concorrentes), voltado para um dos segmentos da economia que mais crescem (agronegócio), outro ponto que pegou foi a sua precificação.

Oiê?

Ok… o carro custa mais de R$ 350 mil. Mas, sabe o que é o “mais-melhor-de-bom”? Ele tem cara de picape mas, não é tributado como um automóvel, e sim como um caminhão. Ou seja, não tem aquela alíquota de IPI de 25%. Afinal de contas, ela carrega mais de 1 tonelada e puxa até 8.

E, sim, você precisa ter uma habilitação especial para dirigi-lo!

Outro ponto é a forma de financiamento do carro. Como ele é voltado para o agro, existem planos de financiamento que são atrelados à safra agrícola do comprador.

Além disso, como o pessoal do agro trabalha com a sua safra dolarizada (já que esse produto é uma commodity), o dólar acaba não sendo tão impactante para eles quanto é para nós, meros mortais.

Resumo: existe uma demanda reprimida por este tipo de veículo, ele está sem concorrência no mercado e é atrelado ao agronegócio. Essas características o transformam numa mina de ouro para o pessoal da Ram.

Porsche

No período de janeiro a agosto deste ano, a Porsche vendeu 1.800 carros, o que representa um crescimento de 68% sobre o mesmo período do ano passado, quando 1.073 veículos da marca foram vendidos.

Conversando com o Rodrigo Soares, head de relações públicas e imprensa da Porsche Brasil, aprendemos que eles “não venderam” esses veículos. Eles “entregaram” esses veículos.

Lembre-se bem deste ponto, que vai fazer uma grande diferença mais para frente.

O sucesso da Porsche neste ano não começou de ontem para hoje. Temos que admitir que o antigo (e primeiro) importador da marca (o grupo Stuttgart), conseguiu fazer a marca no Brasil. Mas o grande pulo do gato aconteceu quando a marca, lá em 2015, decidiu assumir o negócio no país – aí, tudo mudou.

Para começar, quando o pessoal do chucrute decide descer para o play, a gente sabe que eles não “sabem brincar” (basta lembrar do nosso eterno 7×1).

O volume de entregas de veículos da marca vem crescendo a uma taxa de dois dígitos há cinco anos. O crescimento deles no acumulado (2020 versus 2015), é de (por enquanto) 253%. Para efeito comparativo, o mercado automotivo registrará – no mesmo período – queda de 24%.

Esse é um dos detalhes mais importantes. Quando o pessoal do chucrute decidiu fincar uma operação no Brasil, o negócio mudou da água para o vinho!

A operação anterior era boa? Claro que era! Mas a entrada de uma montadora, em qualquer país que seja, gera um impacto de know-how, aporte financeiro e logística que só ela pode fazer. Com isso, a marca manteve o seu crescimento “contínuo e gradual”, que é o sonho de qualquer negócio.

Outro ponto é que, conversando com a marca, ela afirma que esse crescimento irá continuar. Existe um planejamento de expansão em 30% de sua rede de concessionárias. O foco é crescer em localidades que ainda estão desamparadas.

Ok… mas qual é o grande sucesso da marca? A atenção ao cliente.

Sei que é clichê, mas quem manda ainda é o cliente! Marketing não cria desejos, mas sim recria o desejo do cliente, que sabe da vida dele, o que lhe incomoda, mas não tem a solução.

No caso da Porsche, ela não é uma montadora “orientada à vendas”. Eu imagino que o foco dela é ser “orientada ao cliente”.

Afinal de contas, quanto mais uma montadora é orientada às vendas, menor sua capacidade de construir lealdade e intenção de recompra com os seus clientes (eles seriam clientes?). E, quanto mais voltada ao cliente, maior o potencial de se criar vínculo e recomendação.

E foi isso o que a marca construiu ao longo do tempo.

Fazendo uma comparação com as marcas “mais populares”, veja o caso da Honda e da Toyota: são duas empresas orientadas aos desejos dos clientes e que possuem um alto nível de retenção dos mesmos.

No caso da Porsche, existe um marketing muito forte voltado ao cliente e, sobretudo, para a experiência de compra do cliente.

Fazendo uma analogia com roupas, a Porsche não seria uma “prêt-à-porter” como uma GM, VW, Honda ou qualquer outra. Ela faz um trabalho de alfaiataria.

Logicamente que, se você der uma de “Geddel” e entrar com uma mala de dinheiro numa concessionária Porsche, poderá comprar o carro que está lá exposto. Mas isso é apenas 5% das vendas – do pessoal que comprou um carro de estoque, não de quem entrou com uma mala de dinheiro.

A grande sacada da Porsche é vender a customização do carro. Nenhum carro é igual ao outro.

Nas marcas tradicionais, você tem uma paleta de cores (entre cinco a sete) para escolher. No caso da Porsche, as cores básicas disponíveis são mais de dez, mas, se você quiser uma cor específica, é só pagar e mandar o RGB da cor. Eu quero mudar a roda do meu carro? Temos uma dúzia para escolher! Sou virginiano/perfeccionista, não tem problema… posso escolher até o tipo de costura do banco!

Aqui o céu é o limite! Ou melhor… o “TAMANHO DO BOLSO” é o limite. Se tiver curiosidade, clica aqui e configura o seu.

Lembra-se que eu falei que o pessoal da Porsche não vende carro, mas o entrega?

Como quase todos os carros que eles entregam são customizados, em geral, eles foram vendidos há alguns meses atrás. O trâmite é fazer o pedido na matriz e, junto com tudo isso, aquele serviço de alfaiataria (personalização) do carro. E isso demora! Além do despacho aduaneiro.

Imaginemos agora que o cliente que comprou o carro em dezembro – por exemplo – e está recebendo o veículo agora. Em dezembro – hipoteticamente – ele comprou alguma versão da marca por US$ 200 mil (R$ 800 mil) e recebe hoje o mesmo carro, que custa R$ 1,1 milhão. Pois o que conta é o preço do fechamento da compra, não o da entrega.

Sabe o que isso significa? Que, além de ter rolado um “senhor” ganho de capital na apreciação do câmbio, o preço do veículo se mantém! Não existe uma “mega desvalorização” do veículo Porsche usado. Ele é dolarizado!

Além disso, como a marca preza por um crescimento contínuo e gradual, ela nunca vai inundar o mercado com um volume muito grande de veículos, o que forçaria uma derrubada de preços. E, com isso, ela fecha o ciclo de fidelização do cliente.

Land Rover

A Ram e a Porsche são as duas marcas que registram um ótimo resultado nas vendas de seus veículos no meio dessa pandemia global. Mas ainda temos duas marcas que merecem certo destaque: a BMW e a Land Rover.

No caso da Land Rover, um dos pontos principais foram os lançamentos recentes da marca: os novos Range Rover, Discovery e Defender. Ou seja, houve novidades em praticamente toda a gama de produtos, trazendo muito mais modernidade para a marca .

Todo lançamento ajuda a dar uma turbinada na empresa, quando não acontece até uma mudança de perfil – um dos melhores exemplos é a VW, que entrou de vez na onda do SUV com o T-Cross e Nivus e reposicionou a marca.

Mas, como foi muito bem apontado pelo Frédéric Drouin (CEO da marca), outro ponto que foi fundamental para que a marca superasse esse período crítico da economia foi ter uma rede (26 grupos – 40 concessionários) parceira e capitalizada. Com isso, as medidas para a superação deste período foram mais ágeis e fáceis (ou menos traumáticas).

Eles conseguiram implementar (com mais agilidade) uma série de processos para terem uma “venda digitalizada”. Assim, houve a criação de diversos processos, nos quais o cliente não precisa sair de sua casa tanto na venda como no pós-venda como em vendas.

Existem aqui “n” métodos que podem ser implementados, mas somente aquelas que fabricam e vendem carros de alto valor agregado conseguem ter sucesso. Como um serviço de leva e traz para serviços de oficina ou um test-drive feito perto da casa do cliente, por exemplo.

Como todas as marcas, a Land Rover teve um desempenho de vendas “sofrível” entre abril e maio. Mas, nos demais meses do ano, ela já superou o seu próprio resultado do ano passado. Tanto que, se excluirmos as vendas destes meses, o crescimento da marca ainda seria de 10%.

BMW

Por último, mas não menos importante, temos a BMW. A marca alemã possui um leque de produtos que oscila entre R$ 200 mil a R$ 900 mil, ou seja, consegue atingir quase todas as “castas” dos habitantes do mundo de Caras.

O grande destaque é que ela vem conseguindo gerar volume, mesmo sendo uma marca de luxo. Hoje, a BMW é a 14ª marca em volume de vendas no Brasil.

Em agosto, fechou na 13ª posição, vendendo mais do que a Peugeot e a Citröen (não é lá grande coisa, mas, ao mesmo tempo, é muita coisa!).

Para efeito de comparação, a BMW consegue vender 15% a mais do que as três marcas citadas acima (Ram, Porsche e Land Rover) somadas.

E qual o pulo do gato dela?

Segundo Roberto Carvalho, diretor comercial da BMW do Brasil, temos uma série de fatores:

VENDA DIGITAL: eles vêm ampliando a experiência digital dos clientes e fãs da marca com novos canais e serviços online (essa é a tendência de todas as marcas), como a introdução de um novo showroom digital (Fiat e VW – marcas de volume – também estão indo por esse caminho).

Eles foram os pioneiros ao lançar um veículo por meio de canal de vendas no Facebook – com o lançamento do BMW X5 M50i – e também foram a primeira fabricante automotiva no Brasil a ter loja no Mercado Livre.

CONECTIVIDADE E ELETRIFICAÇÃO: a conectividade é uma tendência para TODOS, mas ainda mais para as marcas premium. No caso da BMW, ela foi a primeira marca premium a fazer atualização remota de software no Brasil (olha aí a comodidade ao cliente).

A eletrificação é a tendência futura do mercado automotivo; tem gente que acha que pode “dar ruim” aqui no Brasil ou é de difícil implementação. Mas esse é um processo que veio para ficar. Lutar contra isso, será como tapar o sol com a peneira. O ponto é saber como ele vai acontecer no Brasil, mas isso é pauta para outro texto.

Neste aspecto, devemos tirar o chapéu para a BMW. Ela vem desde sempre ofertando produtos elétricos e híbridos, sendo a terceira marca que mais vende esse tipo de veículo (ela ainda perde para a Toyota, por causa do Corolla, e para a Volvo). Mas ela foi a pioneira em popularizar os “postos de abastecimento”, que vem fazendo desde 2018, quando inaugurou a sua linha de postos em parceria com os Postos Ipiranga (com os postos mesmo, não com o ministro), fazendo a linha Dutra entre Rio-São Paulo.

Um dos pontos que faz jus a todas marcas aqui citadas é que elas estão sempre inovando em produtos e processos e agregando cada vez mais tecnologia, seja com a conectividade e/ou eletrificação. O foco delas é construir a melhor experiência para o cliente.

Bom… a moral de tudo isso é que, quando falamos do mercado de carros de luxo (aqueles veículos que habitam o mundo de Caras), não tem tempo ruim!

Lógico que existem preocupações. Se tiver uma montadora por trás do negócio é bem mais difícil de a operação dar errado. Porém – como em todo negócio – isso não é um mercado para aventureiros. E já tivemos marcas TOP que entraram e saíram do mercado e nem com a ajuda do James Bond dariam certo.

Quanto a este reles mortal, como sou uma pessoa desapegada de bens materiais, me contento em ficar me deslocando por aí de Mercedes (logicamente que com motorista).

E aí, o que achou? Dúvidas, me manda um e-mail aqui. Ou me segue lá no Facebook, Instagram, Linkedin e Twitter.

Newsletter InfoMoney
Informações, análises e recomendações que valem dinheiro, todos os dias no seu email:

waiting...