Como saber se estou sobrecarregado ou se sou pouco produtivo?

Como saber se estou sobrecarregado ou se sou pouco produtivo?

agosto 31, 2020 Off Por Today Newsroom

(Getty Images)

Dúvida de leitor: “Como saber se estou sobrecarregado ou se sou pouco produtivo?”

Por Elza Velozo*

“Estamos em uma época de muita cobrança por resultados da nossa atuação profissional. Temos a sensação de que trabalhamos muito, mas que esse ‘muito’ nunca é suficiente.

Vários profissionais chegam ao fim do dia esgotados e com a sensação de que desempenharam pouco. Para entender este momento do trabalho, é preciso (re)organizar as ideias e pensar um pouco no que significa ser produtivo(a).

A forma mais comum de medir produtividade é medir o tempo que uma pessoa dedica à sua atividade profissional.

Na versão presencial, o tempo é balizado pelas empresas por meio da permanência no ambiente de trabalho, portanto, mais fácil de ser mensurado. Às vezes, o funcionário nem é tão produtivo, mas, o fato dele ter permanecido nas dependências da empresa durante certo tempo faz parecer que muitas horas foram trabalhadas.

Já na versão virtual do trabalho, a lógica de medida do tempo é colocada à prova. Para quem trabalha por meio do computador, medir os horários e o tempo de conexão, o número de participação em reuniões, ou de mensagens respondidas, pode gerar uma lógica parecida com a permanência em locais físicos de trabalho – mas não é a mesma coisa.

Fatores extras entram na equação quando profissional está no home office em meio à pandemia: a distância da equipe, a estrutura para trabalhar em casa, a rotina da família, o novo jeito de se comunicar, entre outros desafios.

O fato é que, atualmente, ao falar em produtividade, não sabemos como levar em conta as diferenças entre os perfis de pessoas, nem separar o que é ‘processo de trabalho’ do que é ‘resultado do trabalho’.

Para avançar nesse raciocínio, três reflexões podem nos ajudar a identificar a produtividade ou a falta dela:

Organização dos horários de trabalho

Normalmente, somos presos a horários padronizados de dedicação ao trabalho determinados pelas empresas. Mas, especialmente em ambientes virtuais, algumas atividades podem ser realizadas a qualquer hora do dia ou da noite.

E um dilema surge: de um lado, essa flexibilidade pode nos ajudar a trabalhar em momentos mais adequados ao funcionamento do nosso corpo e à nossa rotina familiar. Do outro, a falta de delimitação de horários pode fazer com que o tempo de dedicação ao trabalho não fique claro, o que pode prejudicar o desempenho do profissional.

Então, é preciso refletir se os horários em que trabalhamos são os mais adequados e os que nos tornam mais produtivos. É verdade que muitos profissionais têm que entregar algumas demandas em horários específicos, e não há opção de escolha.

Mas a dica é avaliar quais tarefas do seu escopo são mais flexíveis e, caso necessário, dialogar com o gestor para definir um rearranjo de horários. A partir disso, será possível recompor sua organização de outra maneira.

Fusão entre a vida pessoal e profissional

Houve um tempo em que dizíamos ‘não se deve levar problemas de casa para o trabalho e nem do trabalho para casa’. Atualmente, sabemos que casa e trabalho são ambos parte da nossa vida e que é impossível dissociá-los completamente.

Essa mistura entre vida pessoal e profissional foi, em parte, provocada pelos smartphones. No escritório, usamos o celular para não desligar das tarefas de casa e, quando estamos em casa, usamos o dispositivo para resolver imprevistos do trabalho.

No caso do home office, essa mistura é ainda maior porque trabalhamos enquanto a vida familiar acontece ao nosso redor – e no contexto de pandemia e isolamento social, os desafios podem ser mais complexos.

O profissional precisa reaprender a delimitar os limites entre essas duas esferas da vida para entender o quanto está, de fato, se dedicando ao trabalho.

Muitas pessoas ficam ligadas no trabalho por hábito durante o home office e não por realmente ser necessário naquele momento. É preciso refletir se esse é ou não o seu caso.

Com o home office, é preciso fazer um ajuste na rotina para continuar com uma hora de início, fim e pausas durante o dia a dia de trabalho.

Parâmetro pessoal de produtividade

Costumamos ser nossos principais algozes quanto à nossa performance profissional e nos comparamos com pessoas diferentes de nós.

Porém, o parâmetro pessoal do que é ‘ser produtivo’, que deveria ser primordial, é sufocado pelo padrão imposto pelas empresas ou pela comparação com outras pessoas.

O profissional precisa detectar qual é a sua capacidade de produção de trabalho. Faça um balanço da sua produtividade, avalie o quanto de trabalho você vem entregando e produzindo – separe o volume de tarefas e compare com o que você já vinha fazendo antes do home office.

Muitas pessoas vão se surpreender ao olhar para a semana que passou e ver que não estão fazendo pouco. Podem perceber que o volume de tarefas realmente aumentou. É um processo pessoal de adaptação. Muitas vezes, o problema é mais sobre a pressão que o profissional coloca sobre si mesmo do que sobre a falta de produtividade.

Como identificar a sobrecarga

A partir desses três pontos de reflexão, podemos entender que a sensação de sobrecarga costuma resultar em sinais físicos e psicológicos e que nem sempre conseguimos lidar com esse excesso de forma saudável.

Para identificar alguns sinais, as seguintes ações são necessárias:

a) Ajuste do ‘termômetro interno’: é necessário identificar os sinais de estresse e de desânimo gerados pelo trabalho para poder investir em ações voltadas à sua saúde ou para retomar atividades que ajudem no seu bem-estar, como exercícios ou algum hobby;

b) Alinhamento de expectativas: em uma conversa franca com o seu gestor busque entender qual é, de fato, o resultado esperado do seu trabalho e se você tem (ou não) atingido esses resultados;

c) Autoanálise: procure contabilizar o tempo que você realmente disponibiliza para o trabalho e o tempo que dedica a outras atividades para avaliar se existe um equilíbrio; se você tem ciência do que precisa entregar, ao identificar quantas horas está trabalhando fica mais fácil mensurar se há um excesso de tarefas ou se você não está entregando o que é esperado de forma eficiente.

De forma geral, o trabalho misturado com outras atividades nos confunde, mas, sempre é tempo de reorganizar a nossa rotina, buscando mais gratificação com a nossa vida profissional e menos ‘autocobrança’ por resultados irreais.

Nesse cenário, é preciso descobrir quais ajustes são necessários e quais angústias são decorrentes de uma demanda profissional excessiva que estamos acostumados a aceitar sem questionar.”

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*Elza Veloso é livre-docente, com doutorado e pós-doutorado em administração pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Especialista em gestão de carreira, atualmente, é professora da FIA Business School, atuando na graduação e nos programas stricto sensu e lato sensu da instituição. É também professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie. 

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