2021: um novo começo?

2021: um novo começo?

dezembro 5, 2020 Off Por Today Newsroom

(Getty Images)

Nas últimas semanas, o cenário para a economia global em 2021 sofreu uma forte inflexão positiva.

No espaço de alguns poucos dias, duas grandes incertezas que turvavam o ambiente – as dúvidas em relação ao resultado da eleição nos Estados Unidos e, especialmente, aquela relacionada à disponibilidade ou não de uma vacina eficaz para a Covid-19 em curto espaço de tempo – foram removidas.

Estima-se que as três fabricantes das vacinas cuja distribuição é mais iminente – Pfizer, Moderna e AstraZeneca – serão capazes de entregar cinco bilhões de doses, a partir de dezembro de 2020 até o final de 2021, o que em tese é suficiente para imunizar cerca de 35% da população mundial.

Somando-se às doses dos demais fabricantes, como a Johnson & Johnson, além de empresas russas e chinesas, a perspectiva concreta é de que toda a população mais vulnerável esteja imunizada até o fim do primeiro semestre de 2021, no caso de países desenvolvidos, e até o fim do ano, no caso de países emergentes.

A maior parte dessas vacinas tem eficácia estimada entre 90 e 95%, muito superiores às exibidas por vacinas de gripe sazonal, que variam entre 50 e 60%, assemelhando-se àquelas das vacinas de sarampo ou tétano. A perspectiva de imunização que se descortina é, portanto, concreta.

O sucesso clínico das vacinas deverá acelerar a reabertura da economia global em 2021, especialmente no setor de serviços. Como as atividades desse segmento são intensas em mão de obra, o mercado de trabalho deverá mostrar, também, forte recuperação ao longo do ano.

As políticas monetárias dos principais bancos centrais deverão permanecer calibradas para garantir condições monetárias estimulativas. Na medida do necessário, a política fiscal deverá seguir também apoiando a recuperação da atividade.

A combinação do controle da Casa Branca pelos democratas, e da provável manutenção do controle do Senado pelo Partido Republicano, sugere moderação nos estímulos fiscais, política comercial menos baseada em tarifas e avanços modestos na pauta democrata de aumentos de impostos, complementando o pano de fundo favorável para a economia global e para os ativos de risco.

A reabertura global impulsionará os preços de commodities, o retorno dos fluxos financeiros para países emergentes e as ações de empresas mais ligadas ao ciclo econômico.

Se, por um lado, o Brasil não será dos primeiros a receber as maiores quantidades de doses das vacinas, a iminente chegada do verão torna menos preocupante o início de surto que vem sendo registrado em alguns estados.

Assim, o mercado de trabalho, o nível de atividade e os preços dos ativos, no Brasil, deverão refletir, também, esta perspectiva favorável.

O flerte do governo com o rompimento do regime fiscal ao longo do ano contribuiu para a deterioração e o aumento da volatilidade dos preços dos ativos financeiros locais.

Esse efeito, somado à postura obstinada da equipe do Ministério da Economia na defesa da manutenção do teto de gastos e das reformas, parece ter sido suficiente para que, enfim, a classe política aumentasse o grau de compreensão quanto à necessidade de se manter o regime fiscal em curso, à frente, bem como em não renovar o auxílio emergencial.

O cenário global favorável – que impulsionará o crescimento à casa de pelo menos 3% em 2021, num contexto de preservação do regime fiscal – oferece ao país uma nova oportunidade.

Neste sentido, é fundamental utilizar o próximo ano para retomar a agenda de contenção dos gastos obrigatórios, encaminhando a criação de gatilhos de despesas, seja por meio da PEC emergencial, seja via outros instrumentos infraconstitucionais, além de perseverar na formatação das reformas tributária e administrativa, que já tramitam no Congresso.

A capitalização da oportunidade que se apresenta será diretamente proporcional à quão amplo e explícito for o apoio político empenhado pelo presidente à agenda do Ministério da Economia.

Ciclicamente, o país tem condições de crescer a uma taxa próxima a 4% ao ano no próximo biênio. A liderança presidencial é o fator capaz de catalisar o aumento na confiança dos agentes econômicos que transformaria essa possibilidade em realidade concreta.

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